A
CURÁCIA
DIAGNÓSTICA
DAS
DOENÇAS
RESPIRATÓRIAS
EM
UNIDADES
PRIMÁRIAS
DE
SAÚDE
R
EV
A
SSOC
M
ED
B
RAS
2014; 60(6):599-613
611
comportamentos e estilos de vida emrelação à saúde: cessação
do hábito de fumar, adoção de comportamentos de
alimentação saudável e de atividade física, entre outras. Os
níveis de atenção secundário e terciário compõem-se de
práticas de maior densidade tecnológica, mas não
necessariamente demaior complexidade. Essa visão distorcida
de complexidade leva, de forma pontual ou sistemática,
políticos, gestores, profissionais de saúde e população como
um todo, a uma supervalorização das práticas que são
realizadas nos níveis secundário e terciário de atenção à saúde
e, por consequência, a uma banalização da APS.
47
Nos casos das doenças mais prevalentes e de maior
interesse da gestão da saúde pública, espera-se que os mé-
dicos das APS obtenham altos índices de detecção, no mí-
nimo maiores níveis de sensibilidade, considerando-se
que eles estão na linha de frente da atenção médica, em
que a falta do diagnóstico implicará aumento da morbi-
dade ou da ocorrência de complicações agudas e crôni-
cas. Aos especialistas caberia o papel de auxiliar no diag-
nóstico e seguimento de casos mais complexos. O
processo de detecção deve ser, prioritariamente, de res-
ponsabilidade da atenção primária, o que pressupõe ca-
pacitação adequada do generalista e implementação de
um programa horizontal de atenção, incluindo a dispo-
nibilização dos medicamentos e dos exames subsidiários
aos diagnósticos, para que as doenças respiratórias sejam
identiicadas e tratadas em fase precoce.
Esta revisão apresenta algumas limitações que devem
ser ressaltadas. Alguns estudos sobre IRA compararam
apenas prescrições de antibióticos e não veriicaram a qua-
lidade ou a acurácia do diagnóstico.
11,12,14
Outros avalia-
ram a acurácia como desfecho secundário.
15
As diferen-
ças metodológicas dentro de um mesmo grupo podem
ter comprometido, pelo menos em parte, esses resulta-
dos. Várias diferenças podem ser destacadas, desde os cri-
térios de inclusão – revisões de banco de dados ou de de-
manda espontânea, idade, história de tabagismo –,
passando por deinição de diagnóstico de DPOC, sendo
que alguns usaram o critério Gold 1 (VEF1/CVF < 70),
outros Gold 2 (VEF1/CVF < 70 e VEF1 < 80%) e, em ou-
tros, os critérios não foram claramente deinidos. Outra
limitação a ser citada é a extração dos dados por apenas
um pesquisador, o que pode ter afetado a reprodutibili-
dade dos resultados.
C
ONCLUSÃO
Os resultados comprovam, de maneira geral, que há erros
diagnósticos, e o nível de conhecimento das doenças res-
piratórias pelos generalistas em vários países é inferior ao
desejado. Para a melhor compreensão da realidade da as-
sistência médica na APS, novos estudos commetodologias
mais bem deinidas quanto aos critérios de inclusão e fer-
ramentas de avaliação deverão ser realizados. Seus resulta-
dos poderão sustentar a adoção de políticas consistentes
para aprimoramento da assistência à saúde como um todo.
S
UMMARY
Diagnostic accuracy of respiratory diseases in primary
health units
Respiratory diseases are responsible for about a ifth of
all deaths worldwide and its prevalence reaches 15% of
the world population. Primary health care (PHC) is the
gateway to the health system, and is expected to resolve
up to 85% of health problems in general. Moreover, little
is known about the diagnostic ability of general practi-
tioners (GPs) in relation to respiratory diseases in PHC.
This review aims to evaluate the diagnostic ability of GPs
working in PHC in relation to more prevalent respiratory
diseases, such as acute respiratory infections (ARI), tu-
berculosis, asthma and chronic obstructive pulmonary
disease (COPD). 3,913 articles were selected, totaling 30
after application of the inclusion and exclusion criteria.
They demonstrated the lack of consistent evidence on the
accuracy of diagnoses of respiratory diseases by general
practitioners. In relation to asthma and COPD, studies
have shown diagnostic errors leading to overdiagnosis or
underdiagnosis depending on the methodology used. The
lack of precision for the diagnosis of asthma varied from
54% underdiagnosis to 34% overdiagnosis, whereas for
COPD this ranged from 81% for underdiagnosis to 86.1%
for overdiagnosis. For ARI, it was found that the inclu-
sion of a complementary test for diagnosis led to an im-
provement in diagnostic accuracy. Studies show a low le-
vel of knowledge about tuberculosis on the part of
general practitioners. According to this review, PHC re-
presented by the GP needs to improve its ability for the
diagnosis and management of this group of patients cons-
tituting one of its main demands.
Keywords:
respiratory tract diseases, primary health care,
diagnosis, general practitioners, review.