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2014; 60(6):599-613

diagnósticos de base incorretos, tendo havido aumento

de 54% dos diagnósticos de asma, 14% de DPOC e 63%

de outras doenças.

32

Broekhuizen et al.

39

avaliaram pacientes commais 50

anos de idade com tosse persistente há mais de 14 dias e

sem diagnóstico prévio de asma ou DPOC. Após avalia-

ção dos exames de função pulmonar e da discussão dos

dados clínicos em um painel de dois médicos, concluiu-

-se que 29% dos pacientes tinham diagnóstico de DPOC,

7% de asma e 4% diagnóstico de doença sobreposta. Res-

salte-se que esses diagnósticos eram novos, ou seja, não

havia diagnósticos previamente realizados pelos genera-

listas assistentes (Tabela 1).

39

D

ISCUSSÃO

Esta ampla revisão da literatura constatou que, a despei-

to da heterogeneidade metodológica dos estudos encon-

trados, é baixa a acurácia dos diagnósticos de doenças

respiratórias, agudas e crônicas, elaboradas por genera-

listas nos cuidados primários de saúde.

Mesmo os estudos que abordaram as condições sepa-

radamente apresentaram diferentes delineamentos e as-

pectos metodológicos, o que diicultou as interpretações

e a elaboração de conclusões. Como exemplo, a impreci-

são do diagnóstico de asma variou de 54% de subdiagnós-

tico a 34% de sobrediagnóstico,

20,32

enquanto, na DPOC,

houve 81% de subdiagnóstico a 86,1% de sobrediagnósti-

co.

23,34

A heterogeneidade pode ter ocorrido, pelo menos

em parte, por não terem sido aleatorizados, pela diversii-

cação da amostragem e das deinições de cada doença e das

variáveis consideradas na população de cada estudo anali-

sado.

Quanto à IRA, a utilização de um exame de auxílio

diagnóstico quase sempre redundou emmelhora da acu-

rácia diagnóstica e, consequentemente, em diminuição

da prescrição de antibióticos.

12,14

Em relação à tuberculose, os melhores resultados dos

especialistas sobre os generalistas da atenção primária

parecem óbvios e naturais, mas, por se tratar de uma con-

dição de interesse da saúde pública nacional e internacio-

nal, esperava-se melhor desempenho por parte dos gene-

ralistas.

16

Os estudos encontrados comprovam o baixo

conhecimento sobre tuberculose por generalistas que

atuam na atenção primária.

18,19

O subdiagnóstico e, consequentemente, o subtrata-

mento podem ter um impacto signiicativo no aumento

da morbidade e mortalidade das doenças respiratórias.

40,41

Da mesma maneira, o sobrediagn

ó

stico pode levar a au-

mento de gastos e possíveis efeitos colaterais relaciona-

dos a tratamentos desnecessários.

A literatura revisada coloca a igura do médico genera-

lista como ator central no contexto dos erros diagnósticos,

seja por falta, seja por excesso. Em ambos os casos, não se

pode precisar qual o grau de responsabilidade dos pacien-

tes pelos erros. Tambémica difícil precisar qual proporção

pode ser deinida como erro sistemático, relativo a diicul-

dades de acesso a exames pelos generalistas, ou erro cogni-

tivo dos médicos – erros decorrentes da interpretação dos

sinais e sintomas quando umpaciente se apresenta. Emou-

tras palavras, alguns autores interrogam se os erros diagnós-

ticos se devem à interpretação inapropriada dos sinais e sin-

tomas pelo médico ou ao paciente que deixa de expressar

seus sintomas ao médico.

42-45

Outro ponto a se considerar é que a natureza lenta e

progressiva de doenças como asma e DPOC parece levar

à percepção diminuída de suas manifestações. Tosse e di-

minuição da tolerância a exercícios podem ser vistos como

fenômenos normais em determinadas faixas etárias. Como

resultado, os pacientes não procuram os generalistas e,

em uma eventual visita, deixam de relatar esses sintomas

aos seus médicos.

46

Há cerca de 50 anos, pensava-se que não seria possível

aferir a pressão arterial por enfermeiros ou técnicos de en-

fermagem. Atualmente, reconhece-se a importância desses

proissionais nos programas oiciais de controle da pressão

arterial. Dessa forma, uma estratégia multiproissional na

detecção de doenças de alta prevalência deve ser posta em

prática emoposição às abordagens centradas exclusivamen-

te em especialistas, comuns nos dias atuais.

46

Por exemplo,

a incorporação de questões simples na rotina dos proissio-

nais da área da saúde, como “O sr(a). fuma? O sr(a). deseja

parar de fumar?”, como parte de umprograma, poderia au-

mentar de forma signiicativa o diagnóstico de DPOC e a

efetividade do programa de cessação de tabagismo.

Parece incorreto o senso comum de que o contexto da

APS seja menos complexo do que aquele de média e alta

complexidade. Na APS, situa-se a prática clínica mais

ampliada, onde devem ser feitas intervenções de alta

complexidade, como aquelas relativas a mudanças de