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JAMB

SETEMBRO/OUTUBRO DE 2003

8

abertura de novas escolas

médicas foi amplamente

discutida em sessão da

Comissão de Seguridade Social e

Família da Câmara dos Deputados,

no mês de agosto. O requerimento

para a realização da audiência

partiu dos deputados Manato (PDT-

ES) e Rafael Guerra (PSDB-MG),

da Frente Parlamentar da Saúde.

Participaram dos debates o

presidente da AMB, Eleuses Vieira

de Paiva; a coordenadora-geral de

Ações Estratégicas em Educação na

Saúde doMinistério da Saúde, Laura

Feuerwerker; o diretor do Departa-

mento de Supervisão de Ensino

Superior do Ministério da Educação,

Mário Portugal Pederneiras; o presi-

dente da Câmara de Educação Supe-

rior do Conselho Nacional de Edu-

cação, Efren de Aguiar Maranhão e

o presidente da Associação Brasilei-

ra de Educação Médica, José Guido

Correa de Araújo.

A audiência deixou claro o

desencontro entre os conselhos naci-

onais de Educação e de Saúde nos

processos de criação das novas esco-

las de Medicina: o MEC autorizou a

criação de várias faculdades em pro-

cessos que tiveram parecer contrá-

rio do Conselho Nacional de Saúde.

O presidente da AMB, Eleuses

Vieira de Paiva, criticou a falta de

critérios para abertura de novos

cursos. “Hoje não existem critérios

técnicos para a abertura de novas

escolas médicas, são levados em

conta apenas aspectos econômicos e

políticos. Entendemos que a conces-

são de um novo curso de Medicina

deve estar ligada à necessidade

social do país e seus aspectos regio-

nais”, afirmou. Paiva defendeu

ainda a aprovação do projeto de lei

65/03 e que a palavra final sobre a

abertura de escolas médicas seja do

Conselho Nacional de Saúde.

O presidente daAssociação Bra-

sileira de Educação Médica, profes-

sor José Guido Correa de Araújo,

entende que não se pode, simples-

mente, proibir a criação de novos

cursos. Em sua opinião, deve-se, em

vez disso, realizar estudos profun-

dos sobre a carência de médicos em

determinadas regiões do País e em

“Esse documento, que contém

dados valiosos, passa a partir de

agora a ser uma profunda referên-

cia para solucionar os problemas

existentes no setor”, avalia Loures.

Resumidamente, o documento

apresenta as seguintes conclusões:

1) O Brasil não tem necessidade

social de mais cursos de medicina

porque já os tem em número exces-

sivo e mal distribuídos;

2) Existe uma coerência em relação

ao papel das escolas médicas brasi-

leiras e as diretrizes do modelo

político-ideológico hegemônico de

cada época;

3) A política de recursos humanos

para prover o SUS e o Programa

Saúde da Família está sendo usada

como elemento justificador da cria-

ção de novos cursos de medicina;

4) Há uma falta de entrosamento en-

tre os Ministérios da Educação e da

Saúde, e ausência de propostas arti-

culadas ao cumprimento dos dispo-

sitivos constitucionais de formação

de profissionais de saúde para o SUS;

5) Intensificação dos mecanismos

de avaliação do MEC;

6) Implantação das propostas

sugeridas durante o último Enem.

O documento será entregue formal-

mente às autoridades governamen-

tais e a AMB trabalha no sentido

de disponibilizá-lo na íntegra em

seu site

(www.amb.org.br

).

Câmara debate

escolas médicas

As entidades médicas nacio-

nais vêm a público defender a

suspensão da abertura de novos

cursos de Medicina no Brasil e

da ampliação do número de va-

gas nos já existentes. Não ne-

cessitamos de um maior núme-

ro de médicos e, sim, de uma

política de saúde mais eficaz,

que proporcione uma melhor

distribuição desses profissio-

nais pelo país. Acreditamos que

não existe necessidade social

para que seja autorizada a aber-

tura de novas escolas médicas

no Brasil. Somos contra o que

chamamos de “atentado à saú-

de da população”, pois o núme-

ro excessivo de médicos forma-

dos anualmente, mais de dez

mil, com formação deficiente,

se configura num perigo para a

sociedade. Além disso, o exces-

sivo número de médicos sub-

julga os profissionais que já es-

tão no mercado, fazendo com

que aceitem o pagamento de ho-

norários a preço vil e se subme-

tam a condições de trabalho ina-

dequadas, expondo-os a come-

ter, com maior probabilidade,

infrações éticas. Em audiência

pública na Câmara dos Deputa-

dos, no dia12 de agosto, ficou

claro o desacordo entre os con-

selhos nacionais de Educação e

Saúde nos processos de criação

das novas escolas de Medicina:

o MEC autorizou a criação de

várias faculdades em processos

que tiveram parecer contrário

do Conselho Nacional de Saú-

de. Atualmente, contamos com

116 escolas médicas em funcio-

namento no país. Só nos primei-

ros seis meses de 2003, cinco

novos cursos de Medicina

foram autorizados pelo MEC.

Essas autorizações levaram o

Ministério da Saúde a pedir a

suspensão, por cento e oitenta

dias, da abertura de novos cur-

sos na área. As entidades médi-

cas apóiam esta medida e acre-

ditam que essas autorizações

deveriam ser suspensas por um

mínimo de dez anos, conforme

propõe o Projeto de Lei 65/03,

do deputado Arlindo Chinaglia.

Defendemos que, nesse período

de suspensão da abertura de

novas escolas médicas, seja efe-

tivada uma avaliação detalhada

dos cursos de Medicina em fun-

cionamento. Quando assumi-

mos a defesa pela não-abertura

de novas escolas de Medicina e

do não-aumento do número de

vagas nas já existentes, nos

posicionamos como entidades

que procuram defender a socie-

dade, uma vez que o médico lida

com o bem mais importante do

ser humano: a vida.

Conselho Federal de Medicina

Associação Médica Brasileira

Confederação Médica Brasileira

Por que somos contra a abertura

de novas escolas médicas?

determinadas especialidades médi-

cas, antes de novas autorizações.

A presidente da Comissão de

Seguridade Social e Família, depu-

tada Ângela Guadagnin (PT-SP),

disse que ficou muito clara a

preocupação com a abertura indis-

criminada das faculdades. “Sou

relatora de projeto do deputado

Arlindo Chinaglia (PT-SP) que

disciplina a abertura de novos

cursos. Pelo que vimos aqui,

não se trata de somente proi-

bir, mas de estudar onde

devem ser abertos”.

Projeto Chinaglia

O projeto de lei

(PL 65/03) apresentado

pelo deputado Arlindo

Chinaglia proíbe a criação de

novos cursos de Medicina pelo

prazo de dez anos e também veda a

ampliação de vagas nos cursos já

existentes. O objetivo da proposta é

combater os cursos de má qualida-

de, além de proteger as condições de

trabalho dos médicos formados em

instituições de bom nível da invasão

do mercado por diplomados em

cursos ruins.

Chinaglia denuncia que grandes

empresas de saúde vêm fundando

escolas médicas para obter mão-de-

obra barata. O deputado garante que

a proibição de novos cursos de

Medicina não causará prejuízos à

população: “O Brasil já tem uma

relação de médicos por habitante

acima do índice recomendado por

instituições internacionais, que é de

12 médicos para 10 mil habitantes.

Atualmente, o aumento do número

de médicos é maior do que a taxa

de crescimento do total da popu-

lação”, conclui.

Trabalho finalizado

O 2º vice-presidente da AMB,

Ronaldo da Rocha Loures Bueno,

finalizou um trabalho iniciado há dois

anos sobre escolas. O documento,

com mais de 40 páginas, resume os

resultados dos fóruns promovidos

pela AMB, “Novas Escolas de Me-

dicina: necessidade ou oportu-

nismo?”, e também as deliberações

sobre o assunto durante o último

Enem - Encontro Nacional de Enti-

dadesMédicas, realizado emBrasília.

Ronaldo Loures: trabalho consistente

O Conselho Federal de Medici-

na, CFM, aAssociação Médica Bra-

sileira, AMB, e o Conselho Regio-

nal de Medicina do Estado de São

Paulo, Cremesp, impetraram, em

13/08/2003, no Superior Tribunal

de Justiça, STJ, mandado de segu-

rança com pedido de liminar con-

tra o ato do ministro da Educação,

Cristovam Buarque, que homolo-

gou a implantação dos cursos de

medicina na Universidade Camilo

Castelo Branco e no Centro Univer-

sitário Nove de Julho, no Estado de

São Paulo. Os mandados de segu-

rança solicitam a anulação das

portarias ministeriais que autoriza-

Entidades acionam ministro

ram a abertura dos novos cursos –

N° 1723 e N° 1742 – e a revogação

da autorização para a criação dos

mesmos. No dia 15 de agosto, as

quatro entidades médicas nacionais

– Conselho Federal de Medicina,

Associação Médica Brasileira,

Federação Nacional dos Médicos e

a Confederação Médica Brasileira

– publicaram no jornal Folha de São

Paulo um manifesto intitulado

“Por que somos contra a abertura

de novas escolas médicas?” (aci-

ma). No documento, os médicos

tornam claras as razões pelas quais

não concordam com a abertura de

novas escolas médicas no país.