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2015; 61(4):293-294
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HOMENAGEM
Uma vida dedicada à Cardiologia
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eixeira
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Redator-chefe da
Revista da Associação Médica Brasileira
http://dx.doi.org/10.1590/1806-9282.61.04.293Apesar de achar que o seu maior orgulho é a formação
de outros profissionais, o ex-professor titular de cardio-
logia da Faculdade de Medicina da Universidade de São
Paulo e hoje pesquisador sênior do Instituto do Coração
(InCor) Protásio Lemos da Luz foi um dos pioneiros, por
meio de vários estudos, da transferência do conhecimen-
to da área básica para a prática clínica – e ninguém con-
testa esse importante legado. O fato é que sua dedicação
à medicina rendeu-lhe, recentemente, o prêmio Funda-
ção Conrado Wessel, edição 2014.
Formou-se pela Faculdade de Medicina da Universi-
dade do Paraná, e o gosto pela pesquisa teve início em
1971, com a oportunidade de passar dois anos no Holly-
wood Presbyterian Medical Center, ligado à University of
Southern California, em Los Angeles, onde pesquisou ex-
tensamente sobre choque cardiogênico. Após breve pe-
ríodo de retorno ao Brasil para a defesa da tese de douto-
rado, retornou aos Estados Unidos, desta vez como
pesquisador em cardiologia do Cedars-Sinai Medical Cen-
ter da University of California (UCLA).
Quando voltou dos Estados Unidos para trabalhar na
divisão de pesquisa experimental do InCor, Protásio procu-
rou dar sequência aos estudos de isquemia domiocárdio. Já
em Los Angeles, havia participado ativamente das investi-
gações que culminaram com a caracterização do chamado
“miocárdio hibernado”, isto é, o estado no qual omiocárdio
não se contrai, mas permanece viável. Esse foi um tópico de
grande importância, ao qual vários grupos se dedicaram e
que levou ao estabelecimento do tempo ideal para reperfu-
são no infarto agudo do miocárdio; isso hoje está estabele-
cido em torno de 90 minutos para o tratamento do infarto
em humanos, sendo adotado em todo o mundo.
Na sequência, voltou suas atenções para o endotélio
vascular, criando um laboratório específico para esse estu-
do, publicando vários trabalhos, inclusive o livro
Endotélio
e doenças cardiovasculares
, que acabou recebendo o prêmio
Jabuti em2004, ao determinar as principais características
do endotélio normal e na presença de doenças.
A aterosclerose foi tema de outros estudos, especial-
mente diagnósticos não invasivos, como ressonância mag-
nética de artérias coronárias. Protásio analisou a relação
triglicérides/HDL-c, percebendo uma correlação em es-
tado precoce da doença quando essa relação apresentava
aumento. Trata-se de achado importante por identificar
o paciente de maior risco de desenvolvê-la, já que se tra-
ta de doença assintomática.
O vinho tinto também fez parte dos estudos do profes-
sor Protásio, que buscou a relação entre vinho e aterosclero-
se. Iniciou com animais, utilizando coelhos com uma dieta
rica em colesterol por 3 meses, o que provocou aterosclero-
se intensa na aorta. Outros dois grupos receberam vinho e
suco de uva, alémdamesma dieta. Ambos evidenciaramme-
nos placas ateroscleróticas. A série avançou, comparando gru-
pos de duas diferentes regiões do país – Rio Grande do Sul e
São Paulo – e envolvendo bebedores crônicos (4 a 5 vezes por
semana) e grupos abstêmios. Os bebedores apresentaram
HDL-c mais alto e glicemia mais baixa; porém, os graus de
lesão ateroscleróticas não foram diferentes. O achado curio-
so foi que os bebedores apresentarammais cálcio coronário.
Protásio propôs que isso significa que o consumo de vinho
tinto a longo prazo leva à estabilização das placas ateroscle-
róticas e, portanto, a menos eventos clínicos. Isso foi corro-
borado por estudo recentemente publicado no
Journal of the
AmericanCollege of Cardiology
(JACC), no qual se demonstrou
que o uso de altas doses de estatina em homens induziu re-
dução da placa, mas também aumentou a calcificação.
Outro trabalho focou a função cognitiva, também com-
parando bebedores e abstêmios, analisada por ressonância
magnética cerebral funcional. O estudo encontra-se em fase
final, mas já teve
abstract
apresentado durante o Congresso
Mundial de Neurologia, realizado no Havaí, mostrando ha-
ver diferenças significativas entre os dois grupos.
Protásio Lemos da Luz
Ex-professor titular de cardiologia da
Faculdade de Medicina da Universidade
de São Paulo e hoje pesquisador sênior
do Instituto do Coração (InCor)
Crédito: divulgação