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M

acroglobulinemia

de

W

aldenström

uma

revisão

R

ev

A

ssoc

M

ed

B

ras

2014; 60(5):490-499

491

uma idade avançada, cerca de 50% dos doentes morre em

decorrência de comorbidades não relacionadas direta-

mente com a MW.

3

E

tiologia

A sua etiologia é desconhecida, porém, vários estudos su-

gerem possível relação causal com doenças autoimunes,

exposição a fatores ambientais e estimulação antigênica

crônica, como a infecção pelo vírus da hepatite C (VHC).

Apesar da elevada incidência da infecção pelo VHC nes-

ses doentes, não foi encontrada uma associação estatis-

ticamente significativa entre esta e a MW.

5

Em relação à predisposição familiar, estima-se asso-

ciação em 20% dos casos.

6,7

Na relação familiar de 1º grau,

existe risco elevado de desenvolvimento de doença linfo-

proliferativa, que é 20 vezes superior para MW/LLP.

8

F

isiopatologia

Acredita-se que a MW tenha origem nos linfócitos B de

memória.

9,10

Esses linfócitos descendem dos linfócitos B

que proliferaram nos centros germinativos dos nódulos

linfáticos (linfócitos B pós-centro germinativo), que acu-

mulam todas as alterações genéticas que ocorreram nes-

ses centros. Desta forma, na maioria dos casos, as células

B neoplásicas apresentam hipermutação somática nos

genes que codificam para as regiões hipervariáveis das ca-

deias pesadas das imunoglobulinas (genes

V

H

).

11,12

Toda-

via, em alguns casos, as células B neoplásicas têm origem

em linfócitos B que sofrerammutação somática fora dos

centros germinativos.

13

Em outros casos, não evidenciam

mutações somáticas nos genes

V

H

, o que pode ser indica-

tivo de que têm origem em linfócitos B pré-centro germi-

nativo, como os linfócitos B “virgens”.

12

Quanto aos mecanismos envolvidos na fisiopatolo-

gia da MW, destaca-se o bloqueio da troca de isótipo de

imunoglobulinas e o papel das citocinas.

A maioria das células malignas da MW expressa IgM

e IgD de superfície, sugerindo incapacidade intrínseca

para a troca de isótipo.

13

Esse “bloqueio” pode estar rela-

cionado com a ausência/disfunção da enzima citidina de-

saminase induzida pela ativação (AID), que está envolvi-

da na hipermutação somática e no processo de troca de

isótipos de imunoglobulinas.

11,13

Apesar de a troca de isótipo raramente se verificar na

MW, segundo alguns estudos, é possível que ocorra

ex

vivo

e

in vivo

. Kriangkum et al.

11

demonstraram que a AID

pode ser induzida

ex vivo

por meio da estimulação com

CD40L e interleucina-4 (IL-4). Outro estudo evidenciou

a possibilidade de a troca de isótipo ocorrer

in vivo

.

14

Os mastócitos e as várias citocinas têm papel impor-

tante no desenvolvimento da doença.

15

As citocinas po-

dem ser importantes na angiogênese, no aumento da re-

absorção óssea, na proliferação e na sobrevivência de

células malignas e na secreção de IgM monoclonal.

Na MW, os linfócitos Bmalignos expressamo receptor

CD27,

13

que se encontra na membrana dos linfócitos B de

memória e na forma solúvel (sCD27), em elevadas concen-

trações no soro.

15

O sCD27 ativa os mastócitos medulares

por meio da ligação ao CD70. Os mastócitos ativados secre-

tam fatores de crescimento e de sobrevivência dos linfócitos

B, como o CD40L e o APRIL (ligando indutor da prolifera-

ção),

15

que podem contribuir para a diferenciação linfoplas-

mocitoide das células malignas na medula óssea.

M

anifestações

clínicas

A apresentação clínica da MW é variável. A maioria dos

doentes apresenta sintomatologia/manifestações clíni-

cas relacionadas com a hipergamaglobulinemia do tipo

IgM e/ou com a infiltração de órgãos e tecidos pelo LLP,

especialmente a medula óssea. Contudo, alguns doentes

não apresentam qualquer tipo de manifestações clínicas

no momento do diagnóstico.

16

A hiperviscosidade sanguínea determina alterações

hemorreológicas e é uma das características mais relevan-

tes da MW, porém, é observada em menos de 15% dos

doentes no diagnóstico. A elevada dimensão da molécu-

la de IgM monoclonal e a sua elevada concentração con-

tribuem para o aumento da viscosidade sanguínea e re-

sistência vascular, comprometendo o fluxo sanguíneo e

a oxigenação dos tecidos.

17

As principais manifestações clínicas associadas à sín-

drome da hiperviscosidade são hemorragias (epistaxe,

gengivorragias e hemorragia gastrointestinal), alterações

oftalmológicas (papiledema, perda de visão, visão turva

e alterações na retina: hemorragias, exsudatos, dilatação

e segmentação das veias retinianas, trombose venosa), al-

terações neurológicas (cefaleias, vertigens, síncope, sur-

dez, ataxia, diplopia, sonolência e até mesmo convulsões)

e alterações cardíacas (insuficiência cardíaca).

18

Os sintomas de hiperviscosidade manifestam-se, ge-

ralmente, quando a concentração de IgM monoclonal é

superior a 5.000 mg/dL ou quando a viscosidade sérica

atinge 4 a 5 cP (intervalo de referência: 1.4 a 1.8 cP). Con-

tudo, a viscosidade sérica nem sempre é proporcional à

concentração de IgM, e a sua relação com a sintomatolo-

gia não é linear.

16

A crioglobulinemia do tipo I (crioglobulinemia do

tipo IgM, monoclonal) está associada a doenças linfopro-