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acroglobulinemia

de

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uma

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B

ras

2014; 60(5):490-499

493

em diferentes estados de maturação: pequenos linfócitos,

linfócitos linfoplasmocitoides e plasmócitos.

O grau de diferenciação do infiltrado pode variar de

linfoplasmocitoide (47% dos casos), constituído por pe-

quenos linfócitos e linfócitos plasmocitoides, a linfoplas-

mocítico (42%), no qual predominam pequenos linfócitos

e plasmócitos. O estado polimórfico (11%) é caracterizado

por um amplo espectro das diferentes células referidas.

É frequente um número elevado de mastócitos no in-

filtrado medular, e esse achado pode ajudar no diagnós-

tico diferencial.

O LLP pode, eventualmente, evoluir para formas de

linfoma mais agressivas, como o linfoma difuso de gran-

des células B.

54

Essa evolução é acompanhada do agrava-

mento dos sintomas clínicos, com desenvolvimento de

citopenias profundas, organomegalias e infiltração celu-

lar extramedular.

54

No sangue periférico, às vezes são observados linfó-

citos plasmocitoides, mas raramente é observado quadro

leucêmico.

A imunofenotipagem deve ser interpretada simul-

taneamente, devendo-se verificar a concordância com

os resultados da biópsia medular. Na prática, a gamo-

patia monoclonal IgM associada à expressão de IgM nos

linfócitos B neoplásicos, com fenótipo CD19

+

, CD20

+

,

CD5

-

, CD10

-

e CD23

-

, e infiltração celular medular de

padrão intertrabecular são suficientes para o diagnósti-

co de MW

16

(Tabela 1). Apesar disso, as características

fenotípicas nem sempre são típicas e, em cerca de 10 a

20% dos casos, tem sido descrita positividade para CD5,

CD10 ou CD23.

17,55,56

Outras características fenotípicas

frequentes que, não sendo específicas, podem ser úteis

para o diagnóstico diferencial com outras doenças lin-

foproliferativas, são a expressão de sIgD, CD22, CD79a,

PAX5, Bcl2, FMC7, CD25 e CD27 e a ausência de expres-

são de BCL6, CD103, CD138, CD56 e CD75. Alguns des-

ses marcadores são especialmente úteis para estudar o

infiltrado medular na biópsia óssea por estudo imuno-

-histoquímico e outros para a caracterização imunofe-

notípica dos linfócitos B por citometria de fluxo.

A avaliação do estado clínico dos doentes implica vá-

rios exames e testes laboratoriais (Tabela 2). Na interpre-

tação dos resultados, é importante considerar que alguns

parâmetros podem estar alterados, porque a IgM mono-

clonal pode interferir em várias determinações realizadas

em autoanalisadores, nomeadamente na avaliação de

HDL-colesterol, bilirrubina, fosfato inorgânico, LDL-co-

lesterol, proteína C reativa, creatinina, glicose, ureia, fer-

ro e íon cálcio.

27

O LLP envolve principalmente a medula óssea, mas

a doença pode atingir os gânglios linfáticos, o baço e o

fígado, entre outros órgãos. A infiltração linfoplasmoci-

toide/plasmocítica é responsável por astenia, fadiga, fe-

bre recorrente, suores noturnos, perda de peso, citope-

nias, linfadenopatias e organomegalias.

17

A fadiga é um dos sintomas mais comuns, estando

frequentemente associada a anemia normocrômica nor-

mocítica; cerca de 80% dos doentes sintomáticos têm

anemia moderada a severa.

27

A anemia não se deve ape-

nas à alteração da eritropoiese medular. Outros fatores

podem contribuir para o seu agravamento, como as he-

morragias gastrointestinais, a hiperemólise e a própria

hiperviscosidade, que pode determinar uma diminui-

ção da síntese de eritropoietina.

41

É importante salien-

tar a falsa anemia observada em alguns doentes, causa-

da pela elevada concentração de IgM monoclonal, que

contribui para o aumento do volume plasmático e con-

sequente hemodiluição.

A infiltração extramedular é pouco frequente, poden-

do atingir as estruturas articulares, periarticulares, trato

gastrointestinal, pulmões, rins, pele, olhos e sistema ner-

voso central.

17,27,42

Os sintomas de má absorção, diarreia, sangramen-

to ou obstipação podem indicar envolvimento do trato

gastrointestinal.

43-46

Alguns doentes apresentam infil-

tração celular no nível do parênquima pulmonar,

47,48

sendo a tosse o sintoma mais comum, seguido de disp-

neia e toracalgia. Também têm sido referidas infiltração

renal,

49

cutânea (lesões maculopapulares, placas ou nó-

dulos)

7,50

e das estruturas periorbitais, como a glândula

lacrimal e o tecido linfoide retro-orbital (tremores ocu-

lares).

51,52

A infiltração de células malignas no sistema nervoso

central é responsável por um distúrbio neurológico raro,

a síndrome de Bing-Neel. Os sintomas associados são nis-

tagmo, diplopia, vertigens, perda de memória, confusão

mental, disfunção motora e, eventualmente, coma.

17,53

D

iagnóstico

Na Tabela 1, apresentam-se os critérios de diagnóstico de

MW. A detecção de gamopatia monoclonal IgM é impor-

tante para o diagnóstico, mas a concentração sérica apre-

senta uma grande variabilidade interindividual.

16

Para o diagnóstico, é fundamental realizar uma bióp-

sia da medula óssea para avaliar a extensão da infiltração

neoplásica, o padrão de infiltração e a morfologia celu-

lar. Na MW, o infiltrado medular é constituído por uma

população celular monoclonal de pequenos linfócitos B