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2014; 60(5):490-499

Artigo de revisão

Macroglobulinemia de Waldenström – uma revisão

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1

Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC) da Universidade do Porto, Porto, Portugal.

2

Cooperativa de Ensino Superior Politécnico e Universitário (CESPU), Instituto de Investigação e Formação Avançada em Ciências e Tecnologias da Saúde, Gandra-PRD.

3

Departamento de Ciências Biológicas, Laboratório de Bioquímica da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, Porto, Portugal.

4

Hospital Geral de Santo António, Centro Hospitalar do Porto, Porto, Portugal.

R

esumo

Trabalho realizado na Universidade do

Porto, Porto, Portugal

Artigo recebido:

4/6/2013

Aceito para publicação:

30/1/2014

*Correspondência:

Instituto de Biologia Molecular e Celular

(IBMC), Universidade do Porto

Rua do Campo Alegre, 823, 4150

Porto, Portugal

Tel. 351 962677495

ssn.coimbra@gmail.com http://dx.doi.org/10.1590/1806-9282.60.05.009

Conflito de interesse:

nenhum

A macroglobulinemia de Waldenström (MW) é uma doença linfoproliferativa

dos linfócitos B, caracterizada por um linfoma linfoplasmocítico na medula ós-

sea e por hipergamaglobulinemia monoclonal de tipo IgM. Foi descrita pela pri-

meira vez em 1944, por Jan Gösta Waldenström, que descreveu dois doentes com

hemorragia oronasal, adenopatias, anemia, trombocitopenia, velocidade de se-

dimentação eritrocitária e viscosidade sérica elevadas, radiografia óssea normal

e medula óssea infiltrada por células linfoides.

A MW é uma doença rara com um percurso clínico normalmente indolente, atin-

gindo principalmente os indivíduos com idades entre 63 e 68 anos. A maioria dos

doentes apresenta sintomas e manifestações clínicas relacionadas com a hipervis-

cosidade, resultante da gamopatia monoclonal IgM e/ou com as citopenias, resul-

tantes da infiltração medular pelo linfoma. O diagnóstico diferencial com outros

linfomas é essencial para a avaliação do prognóstico e a abordagem terapêutica.

O tratamento dos doentes comMW assintomática não melhora a qualidade de

vida do doente nem aumenta a sua sobrevivência, recomendando-se o acompa-

nhamento clínico. Para o tratamento dos doentes sintomáticos, são usados agen-

tes alquilantes, análogos das purinas e anticorpos monoclonais anti-CD20. No

entanto, a doença é incurável e a resposta à terapêutica nem sempre é favorável.

Estudos relativamente recentes mostram resultados promissores com o borte-

zomibe, um inibidor dos proteossomas, e alguns doentes respondem à talido-

mida. Nos doentes com recidivas ou refratários à terapêutica, pode-se indicar o

transplante autólogo.

O objetivo deste trabalho é descrever, de forma detalhada, o conhecimento atual

sobre a fisiopatologia da MW, as principais manifestações clínicas, o diagnósti-

co, o prognóstico e o tratamento.

Palavras-chave:

macroglobulinemia de Waldenström; hipergamaglobulinemia;

IgM; linfócitos B; prognóstico.

I

ntrodução

A macroglobulinemia de Waldenström (MW), descrita

em 1944 por Jan Gösta Waldenström, é um linfoma lin-

foplasmocítico (LLP) caracterizado por hipergamaglobu-

linemia monoclonal de tipo IgM e infiltração da medula

óssea.

1

Os LLP são neoplasias raras e indolentes dos linfóci-

tos B maduros, que envolvem predominantemente a me-

dula óssea e, com menos frequência, o baço, os nódulos

linfáticos, o sangue periférico e outros órgãos.

1

E

pidemiologia

A MW tem uma incidência estimada de aproximadamen-

te 3 casos/milhão/ano, sendo responsável por cerca de 2%

de todos os cancros hematológicos.

2

Verifica-se uma maior incidência nos indivíduos com

idades entre 63 e 68 anos.

3

Aproximadamente 60% dos

doentes são homens, sendo mais comum nos indivíduos

de raça caucasiana.

3

A sobrevivência média é de 5 anos,

3

contudo, cerca de 10% dos doentes sobrevive até 15 anos.

4

Como a doença é diagnosticada majoritariamente em