M
acroglobulinemia
de
W
aldenström
–
uma
revisão
R
ev
A
ssoc
M
ed
B
ras
2014; 60(5):490-499
497
ção aos receptores para o fragmento Fc das IgG (Fc
3
R), con-
duzindo à lise celular. Os fragmentos C3 do complemen-
to, juntamente com o rituximabe, são reconhecidos pela
membrana dos macrófagos, ligando-se aos receptores para
o fator C3 do complemento e aos receptores Fc
3
R, respec-
tivamente, ativando a fagocitose.
67,68
O polimorfismo ge-
nético dos receptores Fc
3
R pode condicionar a resposta te-
rapêutica,
69
tendo sido observada correlação entre
polimorfismos na posição 158 do receptor Fc
3
RIIIa (CD16)
e a resposta ao rituximabe.
No início do tratamento com rituximabe, alguns doen-
tes apresentam um aumento paradoxal e geralmente transi-
tório das concentrações séricas de IgM (
IgMflare
), que pode
persistir por até 4 meses e não é indicativo de falha do trata-
mento.
70,71
Omecanismo subjacente permanece pouco claro,
mas forampropostas duas hipóteses: libertação de IgM intra-
celular resultante damorte celular mediada pelo rituximabe
e sinalização celular mediada pela ligação ao CD20.
72
Nos doentes que necessitamde controle urgente da do-
ença, a plasmaférese está indicada se apresentaremmanifes-
tações clínicas de hiperviscosidade, crioglobulinemia e cito-
penias moderadas a graves causadas pela atividade de
autoanticorpo da IgMmonoclonal.
3,63
Habitualmente, são
necessárias 2 a 3 sessões de plasmaférese para reduzir a con-
centração de IgM entre 30 e 60%. As sessões devem ser repe-
tidas diariamente até o desaparecimento dos sintomas ou
até a normalização da viscosidade sérica. Posteriormente,
deve-se iniciar logo a terapêutica, uma vez que a concentra-
ção de IgM voltará ao seu nível inicial decorridas 4 a 5 sema-
nas.
63
Esses doentes devem ser tratados com o regime de
combinação dexametasona + rituximabe + ciclofosfamida
(DRC). As principais razões para a escolha desse regime nes-
ses doentes são a boa tolerância terapêutica, a reduzida mie-
lossupressão e a ausência de toxicidade para as
stem cells
.
3,66
Nos doentes com recidivas ou refratários à terapêuti-
ca, a escolha da terapêutica depende do tratamento de pri-
meira linha já utilizado, da qualidade/duração da respos-
ta e de outras variáveis, como a idade, a tolerância à
terapêutica inicial e a possibilidade de o doente ser candi-
dato a transplante de
stem cells
.
64
A reutilização do tratamento de primeira linha é reco-
mendada se a resposta à terapêutica inicial se manteve sem
manutenção durante pelo menos 12 meses. Caso contrá-
rio, deve ser utilizado outro agente de primeira linha ou
terapêutica de combinação.
64
Nos doentes com curta remissão ou resistência à te-
rapêutica inicial, é recomendado o tratamento com um
medicamento de classe farmacológica diferente, em mo-
noterapia ou em combinação. Na terapêutica de combi-
nação, destaca-se o regime rituximabe + fludarabina + ci-
clofosfamida. Contudo, esse regime deve ser evitado nos
doentes mais jovens e nos candidatos a transplante au-
tólogo de
stem cells
.
64
A utilização do bortezomibe (inibidor dos proteosso-
mas) revelou-se promissora, bem como a de alemtuzuma-
be (anticorpo monoclonal anti-CD52), datalidomida, en-
zastaurina (inibidor da proteína cinase C), everolimo
(inibidor da proteína alvo da rapamicina em mamíferos –
mTOR) e perifosine (inibidor da proteína cinase B –
Akt).
63,65,73
Os agentes terapêuticos inibidores das desace-
tilases de histonas, como o panobinostate (LBH589), os
novos inibidores do proteassoma, como o carfilzomibe, os
anticorpos monoclonais anti-CD20 humanos, como o ofa-
tumumabe, e os agentes alquilantes, como a bendamusti-
na, também parecem ser agentes promissores.
73
O transplante de
stem cells
hematopoiéticas está indi-
cado nos doentes mais jovens com múltiplas recaídas ou
refratários a terapêuticas anteriores.
63
O transplante autó-
logo está associado a maior sobrevivência e a longos perío-
dos sem progressão da doença, devendo ser equacionado
em todos os doentes candidatos com recidivas.
3
A concentração de IgMmonoclonal é um dos parâme-
tros mais utilizados nos critérios de avaliação da resposta
ao tratamento. Todavia, esse biomarcador nem sempre é
confiável, dado que a sua concentração pode ser afetada
pela própria terapêutica.
63
Considerando-se os critérios de resposta ao tratamen-
to, a resposta completa é observada quando os níveis séri-
cos de IgM normalizam, com desaparecimento total da
proteína monoclonal IgM (por imunofixação), a avaliação
histológica da medula óssea não apresenta evidência de
doença e há resolução de todos os sintomas e de linfade-
nopatias e/ou organomegalias. A resposta é considerada
parcial quando há, na eletroforese das proteínas séricas, re-
dução, relativamente ao valor basal, ≥ 50% da concentra-
ção sérica de IgMmonoclonal, diminuição das linfadeno-
patias/organomegalias e não há novos sintomas e/ou sinais
de doença ativa. Uma resposta mínima é observada quan-
do a redução na eletroforese de IgMmonoclonal é < 50%,
mas ≥ 25%, e não se observam novos sintomas e/ou sinais
de doença ativa. A doença estável corresponde aos casos
em que o valor da IgM monoclonal, relativamente ao va-
lor basal, sofre redução < 25% e aumento < 25%, não há
progressão de linfadenopatias/organomegalias e de cito-
penias, e não existem sintomas clínicos ou sinais signifi-
cativos. A doença é considerada progressiva quando há
um aumento detectável na eletroforese proteica no valor
de IgM monoclonal sérica ≥ 25% (confirmado por uma
segunda avaliação) ou progressão de complicações resul-
tantes da doença ou de sintomas atribuídos à MW.
74