Background Image
Table of Contents Table of Contents
Previous Page  4 / 17 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 4 / 17 Next Page
Page Background

JAMB

JULHO/AGOSTO DE 2003

5

Fórum discute saúde suplementar

om o objetivo de identificar

os pontos críticos e apresen-

tar propostas para a ordena-

ção do setor, o Ministério da Saúde re-

alizou no final de junho, em Brasília,

a primeira etapa do Fórum de Discus-

são do Setor de Saúde Suplementar.

O evento terá uma segunda etapa em

agosto e, no mês de setembro, apre-

sentará o relatório final das discussões.

Sob a coordenação do Ministério da

Saúde e com a participação da Agên-

cia Nacional de Saúde Suplementar,

os representantes das entidades médi-

cas, seguradoras e operadoras de pla-

nos de saúde, meio acadêmico e ou-

tras instituições interessadas no seg-

mento de saúde suplementar aborda-

ram temas como a abrangência e a

qualidade da assistência oferecida pe-

las operadoras de planos de saúde, o

impacto da regulação na atividade eco-

nômica e nos preços da assistência, a

integração do setor suplementar ao

Sistema Único de Saúde - SUS, o con-

trole social, entre outros.

O ministro da Saúde, Humberto

Costa, participou da abertura do even-

to e afirmou que não irá vacilar so-

bre as discussões para a mudança da

lei 9656/98 que regulamenta os Pla-

nos de Saúde Privados e que preten-

de realizar as mudanças necessárias

na legislação.

“Da forma como está, existe um

alto nível de insatisfação entre todos

os atores: operadoras, prestadores de

serviço e consumidores” disse. Ele

também foi taxativo. “Todos os seto-

res vão ter que perder um pouco para

ganhar um pouco e o Ministério não

vai vacilar se tiver que tomar posi-

ções mais firmes”. Sobre o reajuste

das mensalidades dos planos, o mi-

nistro disse que é preciso uma equa-

ção que não gere defasagem às ope-

radoras, não onere a população e pos-

sibilite um repasse maior aos

prestadores. Ele garantiu que nenhum

novo reajuste será aprovado este ano.

“Cada lado deverá ceder em algum

ponto para a sociedade ganhar. O sis-

tema de regulação está em discussão

e, se depois do Fórum não houver

avanços, o Ministério não vai se fur-

tar de tomar as decisões que devem

ser tomadas” completou o ministro.

Os representantes da AMB no en-

contro foram o presidente, Eleuses

Paiva, e o diretor de Saúde Pública,

Samir Bittar, que apresentaram as

propostas da entidade (ao lado) para

aperfeiçoamento do sistema.

“Esperamos que nos sejam apre-

sentadas iniciativas para soluções

destes graves problemas, pois a clas-

se médica encontra-se sufocada e ca-

minha para um movimento nacional

em defesa de melhores condições de

trabalho e honorários profissionais”,

garantiu Bittar.”

Após os três dias de discussão no

Fórum, o diretor de Regulação, Avalia-

ção e Controle do Ministério da Saúde,

Fausto Pereira dos Santos, disse que a

migração dos planos antigos para os

novos e o ressarcimento ao SUS foram

pontos polêmicos discutidos no encon-

tro e que o governo não pretende abrir

mão deles. Aintenção, segundo ele, não

é estrangular o setor que mobiliza de

Fórum reuniu todos os segmentos do setor de saúde

35 a 40 milhões de brasileiros e envol-

ve 25 bilhões de reais, mas há pontos

que o governo não vai ceder. Durante

o evento ficou claro que nenhum seg-

mento está satisfeito: os médicos e hos-

pitais reclamam de descredenciamento

unilateral por parte das operadoras, os

usuários gostariam de poder mudar de

plano sem perder carências e assistên-

cia integral e as operadoras acusam o

controle de preços feitos pela ANS de

asfixiar o setor. Após a última etapa do

Fórum, no dia 9 de setembro, o gover-

no pretende mapear os consensos e

aprimorar a legislação e identificar tam-

bém os pontos mais conflituosos.

Propostas sugeridas pela AMB para discussão no Fórum da ANS

Adoção das Diretrizes de Procedimentos Médicos AMB/CFM no

sistema de saúde suplementar como parâmetro de orientação de

conduta médica.

Justificativa

– Permite estabelecer parâmetros mais homogêneos de con-

duta médica, com redução das indicações que não atendam aos mais recen-

tes e adequados preceitos de conduta médica. Racionaliza a indicação de

procedimentos com redução dos custos, além de atuar como instrumento de

atualização profissional.

Adoção no sistema de saúde suplementar da Classificação Brasileira

Hierarquizada de Procedimentos Médicos.

Justificativa

– A Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedi-

mentos Médicos é produto do exaustivo trabalho profissional da FIPE

e da diretoria da AMB por mais de três anos,estabelecendo de modo

inovador e hierarquizado os milhares de procedimentos realizados hoje

na medicina brasileira. A adoção da Classificação permite homo-

geneização da linguagem no que se refere aos procedimentos, corri-

gindo as distorções das inúmeras tabelas próprias existentes, tais como

tabelas antigas que não contemplem procedimentos hoje universalmente

praticados, e a possibilidade de se aplicar aos procedimentos, de modo

mais eficaz, os necessários estudos estatísticos.

Adoção de mecanismos que assegurem à ANS sua atuação, no senti-

do de se cumprir dever legal de garantir o equilíbrio entre os setores

que compõem o sistema de saúde suplementar, equilíbrio esse funda-

mental para o devido atendimento à população de usuários.

Justificativa

– O longo período (oito anos) sem reajuste de honorá-

rios médicos, culminando com defasagem salarial que nos últimos

12 anos remonta perda estimada em 300%, trouxe graves danos à qua-

lidade do exercício profissional no país, com severos limites à capaci-

dade financeira dos profissionais para atualizar-se e modernizar seus

equipamentos, além de ter há muito perdido a compatibilidade entre a

responsabilidade do ato profissional e a remuneração efetivamente per-

cebida.

Tal empobrecimento, sem precedentes na história da classe médica brasi-

leira, trará em breve graves conseqüências à qualidade da medicina exercida

no país, com danos internos à população e internacionais à imagem do

padrão de assistência à saúde praticada no Brasil.

Maior brevidade nos trabalhos da Câmara Técnica de

Contratualização.

Justificativa

– Com quase um ano de existência, a Câmara Técnica de

Contratualização ainda não iniciou os trabalhos referentes à relação

médicos e operadoras. O ritmo dos trabalhos demonstram haver pou-

cas possibilidades de que isto se efetive este ano. Nesse tempo, con-

tratos unilaterais, com inúmeras e abusivas obrigações estabelecidas

pelas operadoras, em contratos previamente confeccionados e sem es-

tabelecimento de direitos bilaterais, têm sido impostos.

Mais celeridade nos trabalhos da Câmara Técnica de Assuntos

Médicos.

Justificativa

– Diversos e graves temas referentes à relação médicos e ope-

radoras necessitam prioridade em sua regulação, dentre estes as inaceitá-

veis glosas sem justificativas, por vezes denotando mecanismo de ajuste de

caixa; as constantes interferências das operadoras na liberdade de exercício

profissional do médico e os descredenciamentos imotivados, que têm na

verdade motivações de natureza econômica, causando enorme e inesperada

perda ao profissional que tem investimentos e responsabilidades assumidas

em função desse contingente de pacientes, com danos também extensivos

aos pacientes que perdem a oportunidade de seguir em tratamento com o

profissional eleito para tal.

Inclusão dos institutos de assistência médica de direito público como

subordinados às leis e resoluções que regem as operadoras de planos

de saúde.

Justificativa

– Os institutos (autarquias) que prestam assistência médica a

servidores públicos o fazem a um expressivo contingente de usuários que

merecem ter em sua defesa leis que regulamentem os limites de atuação de

sua operadora. Muitos desses institutos utilizam-se da prerrogativa de não

serem regulados e de terem elevado contingente de usuários para imporem ao

mercado regras próprias, draconianas, usurpando os limites de respeito na

relação entre as partes, inclusive vendendo planos a não-funcionários públi-

cos por preços incompatíveis, no ponto de vista atuarial, com a possibilidade

de se oferecer assistência médica completa como preconizado pela ANS.

Credenciamento dos médicos através de suas Entidades (Centrais de

Convênios).

Justificativa

– Garantia aos usuários de uma rede referencial de qualidade,

impedindo que as operadoras credenciem e descredenciem livremente os pro-

fissionais, prejudicando os usuários e os médicos. Atualmente, algumas ope-

radoras pressionam profissionais credenciados, levando a riscos na qualidade

da atenção à saúde do usuário. Apesquisa do Data Folha mostrou que mais de

90% dos médicos entrevistados responderam que as operadoras interferiram

na sua autonomia. Atualmente, os médicos, individualmente, não têm poder

de negociação com as operadoras e, nos últimos anos, os reajustes autoriza-

dos pela ANS às operadoras não foram repassados aos médicos.