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JAMB

JULHO/AGOSTO DE 2003

13

iante da proposta dos go-

vernos estaduais em in-

cluir a desvinculação de

recursos dos Estados no texto da

reforma tributária, a Frente Parla-

mentar de Saúde, que reúne 200

deputados e 18 senadores, decidiu

pela realização de uma campanha

nacional em favor da manutenção

da Emenda Constitucional, que

vincula novos recursos ao orça-

mento público.

A desvinculação pretendida, de

20%, retiraria dinheiro que, por lei,

deveria ser aplicado na saúde e na

educação, e daria aos governado-

res liberdade para aplicarem o

dinheiro em outras áreas que jul-

gassem prioritárias – inclusive

obras eleitoreiras, como ressaltam

os críticos. Segundo o deputado

federal Rafael Guerra (PSDB-

MG), presidente da Frente Parla-

mentar de Saúde, caso a desvin-

culação se confirme, o orçamento

da saúde será diminuído em apro-

ximadamente R$ 12 bilhões.

Para evitar a inclusão do tema

no texto final da reforma, a Fren-

te pretende, com a campanha,

conscientizar os deputados sobre

a importância da receita vinda dos

Estados. Um manifesto foi divul-

Saúde: golpe fatal

gado (ao lado), assim como carta-

zes foram pregados pela Câmara,

e deputados ligados à saúde usa-

ram o plenário para convencer os

colegas. “Não somos poucos, so-

mos quase 200 deputados e mais

18 senadores lutando para manter

a integralidade das verbas vindas

das esferas federal, estadual e

municipal”, disse Guerra, referin-

do-se aos deputados e senadores

que compõem a Frente.

O deputado também esteve com

o ministro da Casa Civil, José Dir-

ceu, com o ministro da Saúde,

Humberto Costa, e com o ministro

da Educação, Cristovam Buarque.

“Todos se posicionaram a nosso

favor”, revelou.

Da última versão da reforma,

apresentada no final de julho pelo

relator, deputado Virgílio Guima-

rães (PT-MG), foi retirada qualquer

referência à desvinculação da recei-

ta da saúde. Mesmo assim, expli-

cou Guerra, a mobilização continua,

afinal esta é a quarta proposta apre-

sentada: “Nada é definitivo ainda”,

salientou.

Pelo que determina a Emenda

Constitucional 29 (PEC da Saúde),

aprovada em 2000, a União deve

aumentar 5% ao ano sua receita

para a saúde. Os Estados devem

destinar 8% do orçamento, sendo

que, em 2004, o repasse passa a ser

de 12%. As prefeituras devem des-

tinar 8,6%, aumentando para 15%

em 2004.

A Associação Médica Brasilei-

ra e o Conselho Nacional dos Se-

cretários Municipais de Saúde

(Conasems) também já se posicio-

naram contrários a qualquer deci-

são que tenha como conseqüência

a diminuição da verba para a saúde

pública. “É inconcebível que depois

de tanta luta e aprovação unânime

por parte do Congresso se volte

atrás. É um enorme retrocesso”,

condena o presidente da AMB,

Eleuses Paiva. “Depois de oito anos

de luta pela aprovação da emenda,

nem bem a PEC foi regulamentada

e já surge uma tentativa de derrubá-

la”, desabafa o presidente do

Conasems, Odorico de Andrade.

Baseando-se em dados do Sistema

de Informações sobre Orçamentos

Públicos em Saúde, vinculado ao

Ministério da Saúde,Andrade apon-

tou o descaso de alguns governa-

dores com a saúde: “Em 2001, data

do último levantamento, 17 dos 27

Estados não cumpriram a PEC”,

completou.

A saúde pública acumulou, duran-

te décadas, uma enorme dívida para

com a nação brasileira. A oferta de

saúde universal, digna e de qualida-

de para todo cidadão tornou-se ameta

principal do SUS desde a promulga-

ção da Constituição de 1988.

O resgate desta dívida social teve

importante avanço com a aprovação

no ano de 2000 da Emenda Consti-

tucional nº 29 que, após 8 anos de

tramitação no Congresso Nacional e

graças à mobilização de todos os ato-

res comprometidos com a saúde pú-

blica (usuários, prestadores de ser-

viços públicos e privados, classe po-

lítica, gestores e autoridades), vin-

culou receitas orçamentárias para a

saúde nos três níveis de governo (fe-

deral, estadual e municipal), sinali-

zando um efetivo compromisso dos

governantes com o setor da saúde, à

semelhança do que já vinha aconte-

cendo com a educação há 20 anos.

A Frente Parlamentar da Saúde,

integrada por 200 deputados fede-

rais e 18 senadores de todos os par-

tidos políticos, em Assembléia Ge-

ral realizada em 02/07/03, na Câ-

mara dos Deputados, decidiu, por

unanimidade, repudiar toda e qual-

quer proposta apresentada no con-

texto da Reforma Tributária que

pretenda retirar recursos orçamen-

tários destinados às áreas sociais

(saúde, educação e seguridade).

As propostas de desvinculação de

20% das receitas da União (DRU),

dos Estados (DRE) e dos municípios

(DRM) golpeiammortalmente os se-

tores sociais do país retirando, em

2004, 12 bilhões de reais da saúde e

16 bilhões de reais da educação, e

afrontam a vontade majoritária da na-

ção representada pelo Congresso Na-

cional que aprovou a Emenda Cons-

titucional nº 29 com apenas 4 votos

contrários entre seus 594 membros.

A Frente Parlamentar da Saúde

não permitirá que reuniões de cúpu-

la, fora do âmbito do Congresso Na-

cional, e do Conselho de Desenvolvi-

mento Econômico e Social sejam uti-

lizadas como instrumentos de pres-

são sobre os representantes legitima-

mente eleitos, para retirar direitos so-

ciais arduamente conquistados pelo

povo brasileiro, e utilizará todos os

instrumentos políticos e regimentais

para impedir a aprovação das desvin-

culações orçamentárias constitucio-

nais, assim como lutará também para

manter na Lei de Diretrizes Orçamen-

tárias/2004 a proibição de contingen-

ciamento dos orçamentos destinados

à área social, aprovada pela Comis-

sãoMista de Orçamento do Congres-

so Nacional.

Rafael Guerra

Presidente da Frente

Parlamentar da Saúde

Manifesto da Frente Parlamentar da Saúde