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JAMB

JULHO/AGOSTO DE 2001

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o dia seguinte à decisão do

governo em reeditar uma nova

Medida Provisória, retirando os

pontos polêmicos contestados pela

sociedade civil, representantes de todos os

segmentos do setor deram início a um

amplo debate, no sentido de discutir

propostas para a elaboração do projeto de

lei que deverá ser enviado ao Congresso

sobre a regulamentação de planos e

seguros-saúde.

Além disso, o Simpósio de Regula-

mentação dos Planos de Saúde (fotos

acima), promovido pelo Senado Federal,

Câmara dos Deputados e Conselho

Nacional de Saúde, realizado dias 28 e 29

de agosto, em Brasília, buscou também

uma avaliação da saúde suplementar do

país, após o três anos da aprovação da

Lei 9656/98, que regulamenta o setor.

No primeiro dia do evento, cuja

abertura contou a participação do ministro

da Saúde, José Serra, além de parla-

mentares envolvidos na área, três temas

foram debatidos: Interface e articulação

entre o sistema público e privado;

Coberturas e modelos assistenciais;

Fiscalização, defesa do consumidor e

direito à saúde. Destes, dois tiveram a

participação dos presidentes da AMB,

Eleuses Paiva, e do CFM, EdsonAndrade.

O presidente daAMB, além de defender a

participação de todos os segmentos do

setor nas decisões referentes à regu-

lamentação, apresentou também duas

propostas: composição paritária das

entidades representativas na Câmara

Suplementar de Saúde da Agência

Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e

a normatização da relação entre

operadoras, usuários e médicos.

“Nessa relação o médico foi ignorado.

Houve preocupação básica somente com

a integração entre operadoras e usuários”,

afirmou. “É necessário rever essa situação,

pois o médico desempenha um importante

papel nesse relacionamento”, sentenciou.

Na sua apresentação, logo em seguida,

José Diniz de Oliveira, presidente do grupo

Ciefas (Comitê Integrado de entidades

Fechadas de Assistência à Saúde),

responsabilizou os médicos pelos altos

custos no tratamento dos pacientes,

utilizando-se de uma frase do escritor

Millôr Fernandes: “Um médico leva a

outro”.Aresposta veio em seguida, através

de um veemente pronunciamento do

presidente do CFM, Edson de Oliveira

Andrade.

“Os médicos são os responsáveis pelo

progresso científico da Medicina. São

profissionais comprometidos com o

adequado atendimento à população e não

podem levar a culpa dos vilões dos planos

de saúde”, rebateu.

Outros três temas foram reservados

para o último dia do evento: Estrutura das

operadoras, Regulação de preços, e

Propostas de aprimoramento dos planos

de saúde. O primeiro contou com a

participação da ex-procuradora do Cade

(Conselho Administrativo de Defesa

Econômica), Lúcia Salgado. Ela foi

relatora do caso envolvendo a AMB e o

grupo Ciefas, que culminou com a

proibição da tabela de honorários

médicos da AMB.

“Hoje, passados cinco anos, tenho

dúvidas a respeito da sentença. Talvez o

caminho não seja a elaboração de tabelas,

mas a negociação coletiva através do

poder de barganha que aAMB reconheci-

damente possui como entidade de classe”,

afirmou durante o debate com o plenário.

Todas as propostas apresentadas

durante o evento serão resumidas num

documento, e posteriormente enviadas

para análise e discussão de todos as

entidades envolvidas no setor. Em se-

guida, serão encaminhadas ao governo

como forma de colaboração ao projeto de

lei que será encaminhado ao Congresso.

“A idéia é criar também uma comissão

permanente, integrada por todos os

representantes do setor, que seria res-

ponsável pelo acompanhamento da

evolução da regulamentação dos Planos

de Saúde” informou Mário César

Scheffer, representante do Conselho

Nacional de Saúde.

Existem atualmente na SDE-Secretaria de Direito Econômico três representações de entidades

médicas contra o grupo Ciefas.Amais recente é a do Colégio Brasileiro de Radiologia comuma denúncia

por infração à ordem econômica com imposição de honorários. No ano passado, a Associação dos

Médicos de Santos também recorreu à SDE contra o grupo para apuração de infração de adoção de

conduta comercial uniforme ou concertada entre concorrentes. Dois anos antes, a Sociedade Brasileira

de Anestesiologia também havia feito representação no sentido de coibir ajuste de preço em bloco

praticado pelo Ciefas.

Além dessas representações, ainda em processo de apreciação, outras duas, uma da própria SDE e

outra da Associação dos Médicos de Hospitais Privados do Distrito Federal, também questionaram a

entidade por infração à ordem econômica, e ambas foram encaminhadas ao Cade para julgamento.

Por sua vez, o Ciefas, através de parecer do Cade, conseguiu impedir a implantação da Tabela de

Honorários Médicos daAMB, em processo já julgado. “Não é aceitável que o Ciefas questione a tabela

da AMB e, ao mesmo tempo, edite sua própria tabela com valores indignos para a classe médica”,

reclama o presidente do Colégio Brasileiro de Radiologia, Aldemir Humberto Soares.

Ciefas x médicos: rixa antiga

Afrase é deMillôr Fernandes e foi repetida pelo presidente

nacional do CIEFAS – Comitê de Integração das Entidades

Fechadas de Assistência à Saúde, José Antonio Diniz de

Oliveira, no Simpósio sobre Regulamentação dos Planos de Saúde, promovido pelo Conselho

Nacional de Saúde, Senado Federal, Câmara dos Deputados e Ministério da Saúde, ocorrido

recentemente em Brasília. O evento tinha por objetivo reavaliar os três anos da Lei 9656, que

regula o setor de saúde suplementar em nosso País.

Poderia ter sido mais uma dessas frases de efeito se nela não tivesse contido, no bojo de sua

conferência, todo o seu desprezo para com a classe médica brasileira e não fosse pronunciada por

uma pessoa que comanda uma entidade que congrega inúmeras empresas ditas de auto-gestão.

Querendo justificar suas dificuldades, o presidente do CIEFAS acusou a classe médica de ser a

responsável pelo incremento de seus custos e o fez de forma provocativa, grosseira e deselegante,

para uma platéia seleta, com parlamentares, profissionais de saúde, representantes de diversas

entidades de defesa do consumidor, procuradores, gestores de saúde, entre outros.

Sabemos que a saúde não tempreço, mas temum custo e que múltiplos fatores estão relacionados

com o progressivo aumento desses custos. Querer colocar o médico como o vilão dessa história é

assumir postura equivocada do problema. Com efeito, até aí tudo poderia ser questionado, debatido

e reavaliado, se o citado conferencista(?)não tivesse outras intenções.

O que se viu, e a todos produziu constrangimento, foi uma seqüência de colocações indevidas e

pejorativas dirigidas aos médicos. Ao comentar que o “mercado dita as regras”, saiu-se com a

seguinte historinha: “O médico entra no restaurante, examina o cardápio, escolhe a comida e vai

embora. Em seguida, entra o paciente, senta-se à mesa e come a refeição que ele não pediu e que

não tem intenção de pagar.Após terminar de comer, tendo gostado ou não, levanta-se e vai embora.

Então entra o financiador e paga pela comida que ele não pediu nem comeu”.

Ao analisar o “aparato tecnológico” colocado à disposição, fez a seguinte observação: “Quando

o doutor escreve a receita, olha-nos uma última vez para ver se põe um remédio dos caros ou dos

baratos”.

Na sua ânsia em querer desmoralizar os médicos foi ainda mais longe ao exibir uma charge

intitulada “Piratas do Tietê”, do humorista Laerte, que satiriza num só tempo médico e paciente

(usuário). Isso mesmo, nem com o seu usuário ele teve respeito.Para o presidente nacional do

CIEFAS, melhor seria que, para os planos de saúde que ele comanda, não existissemmédicos nem

pacientes.

Em síntese, deixou bem claro para os presentes a real dimensão do seu pensamento.De uma

entidade que formalizou denúncia ao CADE contra as entidades médicas ( e que ainda hoje sofremos

com isso), de filiadas que descredenciam médicos de forma unilateral e arbitrária, que impõem

tabelas de preços e protocolos, que driblam aANS ao oferecer assistência a pessoas não vinculadas

às empresas patrocinadoras, não poderia se esperar outra coisa.

Cabe agora aos médicos brasileiros refletirem sobre este lamentável episódio que marcou

negativamente um evento de extraordinária importância para o futuro do setor de assistência

suplementar no Brasil

Lúcio Antonio Prado Dias

Diretor de Economia Médica da AMB

“Um médico

leva a outro...”

Márcio Arruda

Planos de Saúde:

um amplo debate