O
presidente da Associação Médica
Brasileira, Florentino Cardoso, co-
menta, nesta entrevista, o atual mo-
mento da saúde brasileira, após a
implementação do programa Mais
Médicos em 2013, e aponta as suas expectati-
vas para este ano.
JAMB - Quais são os principais problemas
da saúde pública atualmente no Brasil?
R -
Subfinanciamento, má gestão e corrupção
são os três principais problemas da saúde públi-
ca no Brasil e que não são verdadeiramente en-
frentados pelo governo. O governo tem desvia-
do o foco e quer imputar aos médicos a culpa
pelo caos no sistema público de saúde. Há muito
tempo, reconhecemos a insuficiência dos recur-
sos. Em 2000, a União contribuía com 59% do to-
tal de recursos na saúde. Hoje, somente 45% (Es-
tados e Municípios 55%). A aprovação da PEC
29, de 2000, não foi suficiente para resolver o fi-
nanciamento da saúde, pois a União não partici-
pa com o que deveria. Temos muitos exemplos
da gestão temerária, como a situação de hospi-
tais federais no Rio de Janeiro (Andaraí, Ipanema,
Bonsucesso, Servidores, etc.), sob a responsabi-
lidade do Ministério da Saúde. A degradante si-
tuação de pacientes em corredores, e até no chão,
em emergências das grandes cidades; a longa fila
de espera para consultas, exames e cirurgias. A
corrupção no setor da saúde está estampada se-
manalmente em nossos jornais.
Política médica
Presidente da
AMB comenta
expectativas
para a saúde
no Brasil
JAMB - O programa Mais Médicos traz
soluções para esses problemas?
R -
Não. O programa criado pelo governo em
nenhum momento ataca os principais proble-
mas da saúde pública. É um programa mal de-
senhado, que não oferece a estrutura adequa-
da para os profissionais trabalharem e que não
comprova quais deles possuem os conheci-
mentos e habilidades necessários para exer-
cer a medicina no Brasil. Isso coloca em risco a
saúde da população pobre, que já sofre demais
sadia. Oferecer mais médicos sem organizar a
gestão da saúde de forma profissional e com-
prometida não irá resolver os problemas de
saúde em nosso país. É necessário aplicar os re-
cursos nos locais adequados e da maneira cor-
reta, coibindo qualquer tipo de corrupção ou
desvio de dinheiro, além de disponibilizar, no
mínimo, equipamentos para exames básicos
e medicamentos para que a população possa
prosseguir com seus tratamentos. Além disso,
são imperativos controles e avaliações sistemá-
ticas. Infelizmente, há “viés de contaminação”
de gestores do sistema de saúde público nos
três níveis (municipal, estadual e federal), mis-
turando politicagem e visão eleitoreira, quando
deveria preponderar a competência técnica.
JAMB - Quais são as expectativas para
a saúde em geral no país?
R -
O acesso poderá ser ampliado nesse mo-
mento. Porém, sem qualidade, a população vai
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JAMB
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janeiro/fevereiro
2014