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JANEIRO/FEVEREIRO 2010
Qual é o maior desafio da
administração Obama no setor
de saúde?
Nancy Nielsen -
Para fazer grandes
mudanças será necessário passá-las
pelo Senado. O grande obstáculo
está no processo, pois o Congresso
está profundamente dividido. Os
Democratas controlam a Casa dos
Representantes, o Senado e a Casa
Branca. Obama, por sua vez, chamou
todos os interessados para dizer que
é preciso controlar os altos custos do
sistema. A cada dia mais companhias
não conseguem prover planos de
saúde para seus funcionários e os
pacientes não conseguem pagar o
prêmio do seguro. As disputas entre
os dois partidos fazem com que
muitas pessoas vejam o processo com
descrédito. Muitos americanos estão
preocupados com o que acontecerá,
pois a briga tornou-se feia e não
tem a ver com o problema da saúde.
Está relacionada com egos e ideais
partidários. Esse é um momento
importante, de virada, pois o país está
pronto para debater como assegurar o
acesso à saúde para todos.
Como a senhora analisa o
mercado de seguros privados?
Nancy Nielsen -
Precisamos
também reformar o mercado de
sistema de seguros privados que
pode recusar-se a fazer um contrato
se houver doença preexistente ou
se o segurado estiver doente. Isso
precisa ser mudado. É necessário que
os americanos tenham mais escolhas
em termos de seguros privados e as
condições preexistentes precisam ser
eliminadas. Além disso, as decisões
entrevista
Nancy
Nielsen
Foi a 163ª Presidente da Associação Médica Americana
e defende com muita convicção que todos os americanos
possam ter seguro-saúde. A médica está acompanhando
atentamente o processo de reforma do sistema de saúde nos
Estados Unidos. Durante a conferência com especialistas em
São Paulo, ela concedeu a seguinte entrevista ao JAMB.
precisam estar nas mãos dos
pacientes e dos médicos e não dos
governos ou das seguradoras.
Quais outros pontos precisam ser
repensados?
Nancy Nielsen -
É preciso também
reformar as leis de responsabilidade
médica, pois a sociedade americana
é muito litigante e isso é um sério
problema. Para que os médicos
deixem de praticar medicina
defensiva, a reforma é necessária.
As leis antitrustes americanas
proíbem que os médicos americanos
compartilhem dados sobre suas
práticas. Essa lei também precisa
ser reformada. Os pacientes com
mais de 65 anos são cobertos
pelo sistema Medcare, que é um
plano governamental. Os médicos
trabalham sob uma fórmula maluca:
se os atendimentos aumentam, o
valor pago a eles, por lei, diminui.
Isso é ridículo. A geração baby
boomers está começando a entrar
nos 60 e há serviços que não tinham
sido inventados quando o Medcare
foi criado. Em 1º de março de 2010,
está programado para que todos os
médicos americanos tenham corte
de 21%, o que é ridículo.
Na visão da senhora, qual é a
chave do sucesso para o novo
sistema?
Nancy Nielsen -
Nada mudará a
menos que o Congresso e as pessoas
estejam convencidos que duas
coisas acontecerão: os custos cairão
e mais pessoas serão atendidas.
A população não está convencida
que será beneficiada e está muito
preocupada em como pagar por
isso. No meu país, 65 milhões de
pessoas não têm seguro-saúde. Se
vamos segurá-las, alguém tem de
pagar a conta. Com os problemas
econômicos, investimentos na
guerra, descrédito da população e o
receio de que tenha de pagar mais
impostos, a opinião pública está
contra a reforma. Em parte também
porque não foi comunicado tão bem
quanto poderia ser.
E agora que o desemprego é a
maior preocupação americana?
Nancy Nielsen -
A taxa de
desemprego é de 10% e todos que
perderam o emprego ficaram sem
o seguro de saúde. O foco agora é
o déficit e o desemprego. Gerando
mais emprego, o número de
segurados irá aumentar. Embora
existam aqueles que mesmo
empregados ganham tão pouco que
não tem como pagar o seguro. O
Congresso está avaliando se lidará
com a situação dos empregos e da
saúde juntos ou se deixará a reforma
do sistema para outra ocasião.
Para finalizar, qual é o maior
problema de saúde mundial?
Nancy Nielsen -
Todos os países
do mundo estão preocupados
com o contínuo crescimento dos
custos dos cuidados médicos.
Com o desenvolvimento de novas
tecnologias, procedimentos e drogas
biotécnicas os custos aumentaram
muito. Mesmo nos países que
seguram todos os cidadãos isso é um
problema.
Foto: wma