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JANEIRO/FEVEREIRO 2010

PLACEBO

Entre os dias 1º e 3 de fevereiro,

especialistas de 11 países reuniram-se

em São Paulo, na Associação Paulis-

ta de Medicina, para debater o uso do

placebo empesquisa médica, associado

ao tratamento (foto acima). Este é um

dos pontos mais discutidos nas recen-

tes revisões da Declaração de Helsinki

(2000 e 2008), particularmente nas

situações em que há alternativa efetiva

comprovada*.

Assim, a Associação Médica

Mundial (WMA) decidiu criar grupo

de trabalho para estudar o assunto.

Este é liderado pela Associação Médi-

ca da Alemanha e composto por asso-

ciações médicas dos Estados Unidos,

Finlândia, Brasil e Japão.

Com esta finalidade, organizou-

se no Brasil reunião com autoridades

sobre o assunto. Foram convidados os

líderes da WMA; membros do grupo

de trabalho e especialistas empesquisas

clínicas, como professores das univer-

sidades de: Harvard, Pennsylvania,

Manchester eMcGill; pesquisadores de

importantes órgãos governamentais:

Food andDrug Administration (EUA),

Council of Europe (França), Coun-

cil for International Organizations of

Medical Sciences (Suíça), Federal Insti-

tute for Drugs and Medical Devices

(Alemanha), Organização Mundial da

Saúde (Suíça), Good Clinical Practice

Alliance (Bélgica), European Medi-

cines Agency (Londres) e European

Commission.

“O grande objetivo da WMA

O uso do placebo em pesquisas médicas

Fotos: César Teixeira

neste evento foi ouvir a opinião de

diferentes setores envolvidos com

pesquisas clínicas e placebo para criar

uma diretriz sobre o assunto”, expli-

ca Pedro Wey, assessor para assuntos

internacionais da AMB.

O evento foi aberto pelo presidente

da AMB, José Luiz Gomes do Amaral,

comuma frase de YankCoble, ex-presi-

dente da WMA e da Associação Médi-

ca Americana: Medicina é cuidado e

ciência amalgamados pela ética. “Cele-

braremos nos próximos dias a vontade

de contribuir para melhor assistência

buscando alternativas que o progresso

da ciência nos pode oferecer. A preocu-

pação primária são os interesses daque-

les que confiam a nós sua saúde, sejam

eles nossos pacientes futuros, aqueles

que tratamos hoje ou eventuais sujeitos

de pesquisa. Temos aqui um grupo de

médicos destacados por sua consistên-

cia ética e científica, motivados pelo

desafio de construir sólidos alicerces

que orientem a pesquisa médica”.

“Os médicos brasileiros sempre

mostraram interesse pela Declara-

ção de Helsinki, referência em ética e

pesquisa, documento vivo e moldado

pelo progresso da ciência”, afirmou

Dana Hanson, presidente da Associa-

ção Médica Mundial.

O programa abordou aspectos

metodológicos, riscos e particulari-

dades da pesquisa médica em países

carentes de recursos. UrbanWiesing,

da Associação Médica da Alema-

nha, apresentou a questão central

do simpósio: “Nas circunstâncias da

investigação clínica o médico pode

deixar de oferecer tratamento possi-

velmente efetivo e dessa forma expor

os sujeitos da pesquisa a riscos sabi-

damente evitáveis?”

Buscou-se, nas discussões, o

ponto de equilíbrio entre conceitos

geralmente apresentados como anta-

gônicos. Entendem uns que exigir

que todos os participantes da pesqui-

sa recebam o melhor tratamento

disponível impede realizar pesquisa

com um novo tratamento e eliminar

a possibilidade do uso de placebo

impediria o avanço científico. Outros

acreditam que a utilização, quando

há tratamento efetivo comprovado,

contraria o princípio da equipoise

ou a genuína incerteza do que viria a

ser a melhor alternativa. O investiga-

dor não tem certeza se o tratamento

testado é melhor que o demonstrado

efetivo e, nesse caso, somente seria

aceitável usar placebo na ausência de

alternativa. Além disso, o médico tem

a obrigação de oferecer ao seu paciente

(seja ele sujeito de pesquisa ou não) o

melhor tratamento disponível.

Os que argumentam em favor do

placebo entendem que a evidência

histórica pode não ser suficiente para

demonstrar a efetividade de um novo

tratamento, sobretudo quando a dife-

rença entre o controle ativo (melhor

tratamento comprovado) e o placebo é

pequena ou insuficientemente demons-

trada em estudos realizados em ampla

diversidade de circunstâncias. Esse