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JANEIRO/FEVEREIRO 2010

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argumento é contestado com a obser-

vação de que o efeito placebo também é

altamente variável.

Os que insistem na utilização do

placebo fazem reserva à consistência

estatística dos estudos que comparam

novas alternativas contra controles

ativos. Argumentam ainda que estu-

dos com placebo exigiriam menor

população amostral, portanto mais

rápidos e adequados em situações

raras, difíceis de alocar número sufi-

ciente de pacientes. Uma população

menor de sujeitos pesquisados signifi-

ca, eventualmente, menor risco asso-

ciado aos alocados no grupo testado.

Outros, todavia, entendem que estu-

dos com placebo nem sempre são mais

simples ou exigem menor população

amostral e seria sempre possível dar

suficiente consistência estatística aos

estudos controle ativo.

Há ainda divergência sobre a

pergunta central do estudo: O novo

tratamento seria melhor que o padrão

ou que o placebo.

Existe também a questão do risco

mínimo aceitável. É lícito arbitrá-lo?

O consentimento informado impli-

caria em aceitação do risco mínimo.

Consentir seria suficiente para justifi-

car riscos evitáveis?

Acontrovérsia se estende ao contex-

to da pesquisa médica em ambientes

carentes de recursos. A ausência de

tratamento em ambientes carentes

de recursos justificaria expor sujeitos

de pesquisas ali realizadas aos riscos

adicionais representados por controles

que não fossemos melhores comprova-

dos ou mesmo ausência de tratamento?

Argumenta-se que tais inter-

venções justificar-se-iam caso uma

alternativa abaixo do padrão ou até a

ausência de tratamento constituem o

padrão local. Ou, ainda, que a compa-

ração com um tratamento padrão em

Presidentes da AMB, CFM e APM participaram do evento

Lideranças médicas nacionais e internacionais estiveram reunidas na APM

outra região do mundo não responde-

ria questões relevantes para a situação

onde a pesquisa é realizada.

Por outro lado, há um entendimen-

to de que tanto o investigador como o

patrocinador da pesquisa têm obriga-

ção de oferecer o melhor tratamento e

aceitar duplo padrão abre espaço ilimi-

tado para a exploração de populações.

Para evitar exploração das popu-

lações estudadas, é necessário atender

pelo menos duas condições: a pesquisa

tem de responder às necessidades da

população e haver razoável probabi-

lidade de que os sujeitos de pesquisa e

a comunidade estudada se beneficiem

dos resultados obtidos**.

Aos participantes ficou certo ser

conveniente ampliar o escopo da

Declaração deHelsinki para situações

em que o controle na pesquisa se fizer

não apenas com placebo ou não trata-

mento, mas qualquer controle infe-

rior ao melhor tratamento compro-

vado.

Prevalece ainda a ideia de que

deva ser considerada a frase “Razões

metodológicas e opções destinadas a

reduzir os riscos para pacientes por

diferentes desenhos e estudos devem

ser explicadas e discutidas no proto-

colo de pesquisa”.

O encontro foi gravado e estará

disponível na íntegra no site da AMB.

O conteúdo das reuniões, a expe-

riência dos debatedores e qualidade

dos debates fazem desse encontro

matéria de pesquisa obrigatória dos

que se dedicam à metodologia cientí-

fica e à ética em investigação clínica.

Declaração de Helsinki 2008

*Parágrafo 32 - Os benefícios, riscos, ônus e eficácia de uma nova intervenção devemser testados comparativamente àsmelhores intervenções atuais compro-

vadas, exceto nas seguintes circunstâncias:

• A utilização de placebo ou ausência de tratamento é aceitável em estudos em que não existam intervenções comprovadas de uso corrente; ou

• Onde, por razões metodológicas convincentes e cientificamente sólidas, a utilização de placebo se fizer necessária para determinar a eficácia ou segurança

de uma intervenção e os pacientes que receberem o placebo ou ausência de tratamento não estejam sujeitos a nenhum risco de dano sério ou irreversível.

Cuidado extremo deve ser tomado para se evitar o abuso dessa opção.

** Parágrafo 17 - Pesquisas médicas envolvendo população ou comunidade em desvantagem ou vulnerável são justificáveis somente se a pesquisa atender

às prioridades e necessidades da saúde dessa população ou comunidade, e se houver probabilidade razoável de que essa população ou comunidade se

beneficie dos resultados destas pesquisas.