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JAMB

SETEMBRO/OUTUBRO DE 2001

3

TOROROMBA

AMB entrou com uma ação

cautelar, com solicitação de

liminar, junto ao Supremo

Tribunal Federal (STJ) questionando a

interpretação do Ministério da Fazenda

e daAdvocacia Geral da União (AGU)

em relação à Proposta de Emenda

Constitucional 29,mais conhecida como

PEC da Saúde, que prevê a vinculação

de novos recursos para o cálculo do

orçamento da União no setor.

O ponto de divergência está no

artigo 75 da Emenda Constitucional

nº 29, de 2000. Ele estabelece que no

ano de 2000 os recursos mínimos a

serem aplicados na saúde pela União

devem ser equivalentes ao montante

empenhado em 1999 acrescido de, no

mínimo, 5%. De 2001 a 2004 o

montante deve ser equivalente ao

empenhado no ano anterior, corrigido

pela variação nominal do Produto

Interno Bruto (PIB). Em 2000, o

orçamento empregado na saúde foi de

R$ 20,4 bilhões, 10,9% maior do que

o de 99. Ocorre que um parecer da

Procuradoria da Fazenda Nacional,

acolhido pela AGU e aprovado pelo

presidente da República, interpretou

que, já corrido o ano de 2000, para

composição do orçamento de 2001,

deveriam ser acrescentados apenas os

5%, desprezando-se o crescimento

efetivo de 10,9% entre 1999 e 2000.

Para a AMB, tal decisão significou

uma perda de R$ 1,2 bilhão apenas

no ano de 2001. O orçamento que

deveria ser de R$ 22,6 bilhões, caiu

Interpretação equivocada

José Luiz G. Amaral, Eleuses Paiva e Eduardo Vaz durante coletiva à imprensa

A ação de inconstitucionalidade

impetrada pela AMB no Supremo

Tribunal Federal vem conquistando

novas adesões. Após uma reunião em

Brasília com o presidente Rubens

Approbato Machado, a Ordem dos

Advogados do Brasil apoiou a ini-

ciativa e designou a Comissão de

Estudos Constitucionais da entidade

para analisar, com urgência, o ato

normativo da Advocacia Geral da

União (AGU) que reduz os recursos

federais destinados à saúde.

Outras quatro entidades também

manifestaram-se oficialmente favo-

ráveis à campanha lançada pela

AMB: o CNS - Conselho Nacional

de Saúde, a CNBB - Conferência Na-

cional dos Bispos do Brasil, o

Conasems - Conselho Nacional de

Secretários Municipais de Saúde e o

Conass – Conselho Nacional de

Secretários de Saúde.

AGU erra de novo

Em resposta à ação impetrada

pela AMB, a AGU elaborou parecer

tentando desqualificar a legiti-

midade da entidade como represen-

tativa da classe médica, e, portanto,

sem capacidade jurídica para re-

querer a Adin. Segundo o docu-

mento elaborado pelo consultor da

União, Oswaldo Othon de Pontes

Saraiva Filho, a AMB “configura-

se numa associação de associa-

“ERRO QUE MATA”

A campanha intitulada “Manipulação da emenda da saúde: erro que

mata”, foi lançada pela Frente Parlamentar de Saúde no final de agosto e

conta com o apoio de 70 parlamentares, entre deputados e senadores, além

de representantes de entidades nacionais como os Conselhos Nacionais de

Saúde, Secretários Estaduais de Saúde (Conass) Secretários Municipais de

Saúde (Conasems), Confederações Nacional de Saúde e das Santas Casas.

O coordenador da Frente, deputado Ursicino Queiroz, acredita que o

apoio manifestado pelo presidente da Câmara, Aécio Neves, e dos líderes

do governo no Congresso, deputado Artur Virgílio e na Câmara, Arnaldo

Madeira, oferecem um forte apoio ao movimento.

“ Se a manipulação for mantida, a grande maioria dos 135 deputados e

12 senadores que integrama Frente Parlamentar de Saúde poderá obstruir

a votação do Orçamento de 2002”, afirma.

A exemplo da ação de inconstitucionalidade movida pela AMB, o

movimentonão aceita a interpretaçãodaAGUe da área econômica, segundo

a qual o texto da Emenda Constitucional 29 vincula correção anual do

Orçamento da Saúde.

“O texto remete a correção exatamente para o ano anterior e nunca

para 99, pois não seríamos tolos a ponto de aprovar uma emenda que reduz

o orçamento da Saúde ao invés de corrigi-lo”, garante Ursicino. “Essa

manipulação causa risco para a saúde e vida de milhões de brasileiros que

dependem dos serviços médicos e hospitalares do SUS”, adverte.

ções”. Outro absurdo apontado pe-

lo consultor é sustentado no item 5

do seu parecer “a Associação Mé-

dica Brasileira é uma Seção Brasi-

leira domiciliada no Brasil da As-

sociação Médica Mundial, motivo

suficiente para desqualificá-la como

entidade de classe de âmbito na-

cional”, classificando a entidade co-

mo uma multinacional.

A exemplo das interpretações

errôneas em relação ao texto da

Emenda Constitucional 29, a AGU

torna a repeti-las, agora acerca da

representatividade da AMB e seu

estatuto social. No sentido de escla-

recer esses equívocos, o departa-

mento jurídico da entidade prepara

um parecer a ser encaminhado ao

Supremo Tribunal Federal.

Ação conquista aliados

para R$ 21,4 bilhões, projetando uma

perda de R$ 5,6 bilhões nos próximos

três anos.

AAMB, assim como o Ministério

da Saúde, têm essa interpretação

acerca do orçamento da União,

diferentemente do que pensa o

Ministério da Fazenda, que conta com

o parecer favorável da AGU. “O

Ministério da Fazenda interpretou

erroneamente o texto da Emenda. O

que aconteceu foi uma manipulação

de dados. Os serviços de saúde já

deixam a desejar e esta normativa

dificulta a oferta mínima de saúde à

população carente. Não podemos

ficar calados e aceitar esta decisão

passivamente”, explicou o presidente

da AMB, Eleuses Paiva, durante

entrevista coletiva à imprensa,

realizada dia 1 de outubro, na sede

da entidade.

“Acredito que esta tenha sido uma

interpretação intencional. E isso não

podemos aceitar, pois ofende dire-

tamente a lei que garante o orçamento

para a saúde “, comentou o presidente

da Associação Paulista de Medicina,

José Luiz Gomes do Amaral.

Para o diretor deDefesa Profissional

da AMB, Eduardo Vaz, esta atitude é

inaceitável, pois é preciso muito mais

recursos para poder oferecer uma

assistência médica de boa qualidade

para a população. “A PEC foi um

grande progresso, mas o que se con-

seguiu na prática foi o mínimo

necessário. O que se aplica hoje já é

pouco, e alterando este mínimo

prometido, a situação fica mais difícil”.

O vice-presidente do Conselho

Federal de Medicina, Abdon Murad,

também concorda com Eduardo. “O

SUS já é extremamente debilitado e,

com isso, tende a piorar. A interpre-

tação da AGU é totalmente equivo-

cada e prejudica toda a nação. O CFM

está unido com a AMB para lutar

contra este absurdo”, disse.

Assim como as entidades mé-

dicas, os parlamentares que votaram

a favor do projeto também foram

surpreendidos com tamanha injustiça.

Por isso, eles lançaram uma cam-

panha “Erro que mata”, com o

objetivo de alterar a situação.

“A AMB está corretíssima. Não

compete ao Poder Executivo inter-

pretar a Constituição. Cabe a ele cum-

prir o que é determinado. O STJ é que

deveria esclarecer as dúvidas, e não a

AGU”, comentou o deputado Ursicino

Queiroz (PFL-BA). E completa.

“Houve uma luta enorme da Câmara,

do Senado, da sociedade organizada e

das entidades de classe em busca da

aprovação da PEC. Depois da vitória,

a lei não é cumprida. Com isso, abre-

se um precedente gravíssimo que pode

gerar uma crise muito grande. É

preciso que esta situação mude o mais

rápido possível”, finaliza.

Recursos garantidos pela PEC

ANO ESTADOS MUNICÍPIOS

UNIÃO

2000

7%

7% Montante empenhado em ações e

serviços públicos de saúde em

1999 acrescido de, no mínimo, 5%.

2001

8%

8,6% Valor apurado no ano anterior,

corrigido pela variação nominal

do Produto Interno Bruto – PIB.

2002

9% 10,2% Valor apurado no ano anterior,

corrigido pela variação nominal

do Produto Interno Bruto – PIB.

2003 10% 11,8% Valor apurado no ano anterior,

corrigido pela variação nominal

do Produto Interno Bruto – PIB.

2004 12% 15% Valor apurado no ano anterior,

corrigido pela variação nominal do

Produto Interno Bruto – PIB.

COMO A SAÚDE

PERDE BILHÕES

Interpretação 1

R$ bilhões

Montante

empenhado

em 2000

20,4

+ PIB nominal

de 10,62%

2,2

= Orçamento

mínimo

22,6 (Total A)

Interpretação 2

R$ bilhões

Montante

empenhado

em 1999

18,4

+ 5% (PEC)

0,9

+ PIB nominal

de 10,62%

2,1

= Orçamento

mínimo

21,4 (Total B)

Diferença

(A-B)

1,2

Osmar Bustos