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JAMB

SETEMBRO/OUTUBRO DE 2001

12

LIVRO

DOR

Clínica David Erlich

FUNDADA EM 1972

• ONCOLOGIA / QUIMIOTERAPIA

• ATUALIZAÇÃO RÁPIDA E PERMANENTE PELO PROGRAMA DE COMPUTADOR

ONCODISC, DOS ESTADOS UNIDOS.

Cl ínica David Er l ich

Av. Conselhei ro Rodr igues Alves, 270

Fone (011) 570 4256 – Fax (011) 575-8523

Hemodiálise em crise

hemodiálise atravessa uma

crise sem procedentes no

país. Enquanto as ope-

radoras e planos de saúde não cobrem

este tipo de procedimento, por

considerá-lo de alta complexidade, o

Sistema Único de Saúde (SUS) não

paga os profissionais devidamente.

Vale ressaltar que 95% dos pacientes

em diálise no Brasil são atendidos

pelo SUS.

“A crise está relacionada dire-

tamente ao custo. É uma questão

política”. Esta é a opinião do atual

presidente da Sociedade Brasileira

de Nefrologia (SBN), João Egídio

Romão. Segundo ele, a estrutura do

atendimento público é muito boa,

mas os valores pagos são inacei-

táveis, sobretudo pelo fato de que

a maioria do custo se refere a

insumos importados (e pagos em

dólares). “O valor pago por uma

sessão de hemodiálise pelo pelo

Sistema Único de Saúde é de

apenas R$ 97,00, quando o

adequado deveria ser de cerca de

R$ 160,00”, reclama Egídio.

Há quatro anos, a SBN enca-

minhou à Fipe – Fundação Instituto

de Pesquisas Econômicas da USP um

levantamento de custos de uma

sessão de hemodiálise. E o valor

levantado foi exatamente o preten-

dido pelo presidente da SBN, sendo,

inclusive, inserido na tabela da Tunep

– Tabela Única Nacional de

Equivalência de Procedimentos.

Além do sistema privado, os

problemas na área invadem também

o setor público. “Em julho, o

secretário de saúde do Estado de São

Paulo, José da Silva Guedes, alegou

não ter dinheiro suficiente para o

pagamento, pois faltavam cerca de

8% do total. Por isso, decidiu que

reduziria esta quantia de todos os

profissionais que já haviam prestado

serviços de nefrologia ao Estado. O

preço já é baixo e eles ainda demoram

dois meses para pagar. No ano

passado, houve um corte de 20% que

até hoje não recebemos. Mas, não

culpo o secretário, e sim o Ministério

da Saúde”, ressaltou Egídio.

Com esses problemas, fica evi-

dente a insatisfação e desinteresse dos

nefrologistas em atender pela rede

pública. A maioria não se sente

motivada e a tendência é que os

melhores profissionais da área

desistam de trabalhar pelo SUS,

acarretando enormes dificuldades aos

pacientes.

O ex-presidente da SBN, João

César Mendes Moreira, concorda

com Egídio. “Uma das grandes

causas da crise que estamos viven-

ciando é a forma de pagamento.

Temos feito o possível e o impossível

para continuar trabalhando”.

Porém, não são apenas os custos

que preocupam os nefrologistas. Há

duas empresas multinacionais que

hoje abocanham o mercado de pres-

tação de serviço de diálise e já detêm

o controle direto de 25% dos pa-

cientes em tratamento no Brasil. Uma

delas é a Renal Therapy Services,

subsidiária da Baxter, e a outra, a

Frezenius Medical Care. Ambas

produzem equipamentos e produtos

para o tratamento da doença e agora

são proprietárias de unidades de

diálise. Hoje o país conta com 507

unidades de diálise. “A Constituição

proíbe esta prática, mas apesar do

governo ter sido alertado pela própria

SBN, nada foi feito a respeito”,

explica o presidente.

A Sociedade enviou uma carta-

denúncia a todos os senadores e

deputados federais. A resposta que

obtiveram foi de que estariam

“chantageando” e insinuando que

entrariam em greve. Mas, segundo

Egídio, isto jamais acontecerá. “Em

momento algum nossa diretoria

citou a possibilidade de não aceitar

pacientes, de pararmos de trabalhar.

Isso é um absurdo. Expusemos

apenas a real situação da hemo-

diálise no país. Somos uma socie-

dade científica que busca lutar pelos

interesses dos médicos de nossa

especialidade. Nossa função é

denunciar desvios e crimes com

embasamento, e não ter nenhuma

função pró-ativa em termos de

confrontar gestores públicos ou

prejudicar pacientes. Queríamos

apenas expor a realidade e pedir que

algo fosse feito”.

Para Moreira, a entrada das

multinacionais que produzem os

insumos e estão comprando os ser-

viços é inaceitável, pois é proibido

por lei. “Isso leva a um domínio, a

um monopólio. É uma situação

bastante delicada”, disse. “A omis-

são das autoridades é visível e, com

certeza, pagaremos um preço muito

alto no futuro se a situação continuar

assim. Corremos o risco das em-

presas obterem 50% dos pacientes

no país. É preciso mudar essa

situação”, avalia.

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