A
CURÁCIA
DIAGNÓSTICA
DAS
DOENÇAS
RESPIRATÓRIAS
EM
UNIDADES
PRIMÁRIAS
DE
SAÚDE
R
EV
A
SSOC
M
ED
B
RAS
2014; 60(6):599-613
599
artigo dE rEViSão
Acurácia diagnóstica das doenças respiratórias em unidades
primárias de saúde
B
RUNO
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1*
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3
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ICARDO
DE
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MORIM
C
ORRÊA
4
1
mestre e doutorando da Pós-graduação de infectologia e medicina tropical da faculdade de medicina da universidade federal de minas gerais (ufmg), médico do ambulatório de Pneumologia do Hospital das clínicas
da ufmg, Belo Horizonte, mg.
2
Professor titular convidado do departamento de Pediatria da faculdade de medicina da ufmg, Belo Horizonte, mg.
3
Proar – núcleo de Excelência em asma, universidade federal da Bahia (ufBa), Salvador, Ba.
4
Professor-associado do departamento de clínica médica da faculdade de medicina da ufmg, Belo Horizonte, mg.
R
ESUMO
trabalho realizado no Programa de
Pós-graduação de infectologia e medicina
tropical da faculdade de medicina da
universidade federal de minas gerais
(ufmg), Belo Horizonte, mg
Artigo recebido:
8/3/2014
Aceito para publicação:
24/3/2014
*Correspondência:
rua nunes Vieira, 304/1303
Santo antonio
Belo Horizonte – mg
cEP 30350-120
bpiassi1@gmail.com http://dx.doi.org/10.1590/1806-9282.60.06.021Conflito de interesse:
nenhum
As doenças respiratórias acometem 15% da população do planeta e respondem
por 1/5 dos óbitos no mundo. Espera-se que a atenção primária à saúde (APS),
primeira instância da assistência médica, solucione até 85% dos problemas de
saúde em geral. Pouco se sabe a respeito da habilidade de médicos generalistas
da APS em relação ao diagnóstico das doenças respiratórias. Esta revisão refere-
-se à habilidade diagnóstica de médicos generalistas que atuam na APS em rela-
ção às doenças respiratórias mais prevalentes, como doenças respiratórias agu-
das (IRA), tuberculose, asma e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC).
Dentre 3.913 artigos, 30 foram selecionados após aplicação dos critérios de in-
clusão e exclusão. Ficou demonstrada a carência de dados consistentes sobre a
acurácia dos diagnósticos de doenças respiratórias elaborados por generalistas.
Em relação à asma e à DPOC, os estudos demonstram erros diagnósticos que le-
vam ao sobrediagnóstico ou ao subdiagnóstico, dependendo da metodologia
usada. A imprecisão do diagnóstico de asma variou de 54% de subdiagnóstico a
34% de sobrediagnóstico; para DPOC, houve variação de 81% de subdiagnósti-
co a 86,1% de sobrediagnóstico; para IRA, veriicou-se que a inclusão de exame
complementar de auxílio diagnóstico melhora sua acurácia. Os estudos demons-
tram um baixo nível de conhecimento sobre tuberculose por parte dos genera-
listas. De acordo com esta revisão, a APS, na igura do médico generalista, ne-
cessita aprimorar sua capacidade de diagnóstico e o manejo desse grupo de
pacientes, que constitui uma de suas principais demandas.
Palavras-chave:
doenças respiratórias; atenção primária à saúde; diagnóstico;
médicos de atenção primária; revisão.
I
NTRODUÇÃO
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 20%
das 59 milhões de mortes anuais por todas as causas se
devem a doenças respiratórias.
1,2
Dentre estas, infecções
respiratórias agudas (IRA) ocupam o 3º lugar (3,46 mi-
lhões de mortes; 6,1% do total), enquanto a doença pul-
monar obstrutiva crônica (DPOC) ocupa a 4ª colocação,
com 3,28 milhões de mortes (5,8% do total), e será, segun-
do projeções, a 3ª causa de morte em 2030.
3-5
Mais de 1 bilhão de pessoas no mundo – 15% da po-
pulação mundial – sofrem de alguma doença respirató-
ria crônica, sendo que metade delas é acometida de uma
das duas condições mais prevalentes: a asma (235 mi-
lhões)
6
ou a DPOC (210 milhões).
7
Por esse conjunto de
razões, cerca de 1/3 dos atendimentos nas unidades da
atenção primária (APS) em todo o mundo se deve às doen-
ças respiratórias.
1
Dentre as diiculdades encontradas na APS em rela-
ção a esse grupo de doenças, podem-se citar a imprecisão
no diagnóstico da asma e da DPOC
8-10
e a excessiva pres-
crição de antibióticos para o tratamento das doenças res-