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MEDICINA

CONSELHO FEDERAL

Dezembro/2000

BRASIL MÉDICO

O presidente do Conselho Federal

de Medicina, Edson de Oliveira An-

drade, e o conselheiro Roberto D´Avi-

la compareceram ao ato ecumênico rea-

lizado no Salão Negro do Congresso

Nacional, em Brasília, em intenção

dos milhares de brasileiros vítimas da

violência no país. O ato foi promovido

pela Comissão Executiva do Projeto

Trauma, criado pela Sociedade Brasi-

leira de Ortopedia e Traumatologia

(SBOT), com a participação e apoio fi-

nanceiro de entidades como o CFM,

os conselhos regionais de Medicina, a

Sociedade Brasileira de Atendimento

Integrado ao Traumatizado (SBAIT), o

Colégio Brasileiro de Cirurgiões

(CBC) e o Corpo de Bombeiros, além

do Ministério da Saúde.

O ato, alusivo à Semana do Trau-

ma, contou com a presença do vice-

presidente da Câmara, deputado Seve-

rino Cavalcanti, e de representantes de

todas as igrejas cristãs e evangélicas

de Brasília, além do coordenador da

Pastoral e da Conferência Nacional

dos Bispos do Brasil (CNBB). Mais

do que rezarem pela paz e a não-vio-

lência, os promotores do evento distri-

buíram um manifesto em defesa de

uma cultura de paz, conclamando os

brasileiros a se comprometerem com

o respeito à vida, o combate à exclu-

são social e às injustiças, a defesa da

liberdade de expressão e da diversidade cul-

tural, a preservação da natureza e a maior

participação no desenvolvimento das comu-

nidades em que vivem.

Falando ao

MEDICINA

, um dos coorde-

nadores do Projeto Trauma, Dário Birolini,

alertou para a necessidade de maior partici-

pação da sociedade nesse movimento

ressaltando que com isso seria possível re-

duzir em cerca de 50% as 130 mil mortes

que ocorrem anualmente no país pelos mais

diversos tipos de trauma. Segundo ele, com

maior prevenção e melhor treinamento dos

recursos humanos que atuam nos primeiros

socorros de acidentados, o número de mor-

tes poderia cair ainda mais.

E o mais grave, segundo Birolini, é que

essa violência atinge particularmente a po-

pulação mais jovem, sendo considerada a

principal causa de morte. Na faixa etária de

até 40 anos, as mortes violentas lideram as

estatísticas. Considerando todas as faixas

etárias, as mortes por trauma caem para a

terceira posição, ultrapassadas apenas pelas

doenças cardiovasculares e o câncer – nas

Américas, o Brasil ocupa a 5ª posição nos

casos de mortes violentas.

Ao considerar o apoio do CFM ao movi-

mento, Edson Andrade destacou a importân-

cia da iniciativa da SBOT, lembrando que a

classe médica é a primeira a sofrer o impacto

dessa tragédia ao atender nos serviços de

emergência as vítimas da violência. Explicou

que o problema é mais social do que médico

e, por isso, considera importante a mobiliza-

ção das lideranças políticas, de representan-

tes do governo e da própria sociedade na de-

fesa da vida e da cultura da não-violência –

que tem um custo social elevadíssimo com a

perda de milhares de preciosas vidas, sem fa-

lar no ônus para o sistema de saúde, no dra-

ma das famílias enlutadas e na angústia dos

que carregam pelo resto da vida as seqüelas

dos traumas.

Edson Andrade reconheceu o acerto da

decisão do CFM em apoiar financeiramente o

movimento desde o início e mostrou-se satis-

feito com os resultados alcançados até agora

por entender que as pessoas envolvidas acre-

ditam no sucesso do projeto. “Sabemos que

os médicos, isoladamente, não podem mudar

esse quadro. Só através de um amplo esforço

nacional e de uma política voltada para o

combate à violência poderemos reverter es-

ses números e equacionar este gra-

ve problema social", acrescentou.

Birolini disse que o movimen-

to foi iniciado há cerca de quatro

anos por médicos ligados à Socie-

dade Brasileira de Ortopedia, an-

gustiados com o drama vivido pe-

las vítimas de acidentes e da vio-

lência cotidiana e preocupados

com a possibilidade de a violência

transformar-se em calamidade pú-

blica. Com a realização da Primei-

ra e da Segunda Semana do Trau-

ma, o movimento ampliou-se e ga-

nhou o apoio não apenas de enti-

dades médicas mas de lideranças

políticas de todo o país.

Durante a Semana do Trauma,

os coordenadores plantaram 130

mil cruzes na Esplanada dos Mi-

nistérios, representando as vítimas

da violência no país, no ano passa-

do. Segundo dados divulgados pe-

lo movimento, desse total 38,9 mil

foram vítimas de acidentes de

trânsito e outros 30% de assassina-

tos – excetuadas as vítimas de se-

qüelas, estimadas em 300 mil. Se-

gundo Dario Birolini, os custos

para a sociedade não são apenas

sociais. O mesmo estudo revela

que o país gasta cerca de 8% do

seu Produto Interno Bruto (PIB)

com o tratamento hospitalar de

pessoas traumatizadas, o que representa

aproximadamente R$ 100 bilhões, quantia

que poderia estar sendo investida em educa-

ção, saúde e na melhoria das condições de vi-

da dos brasileiros.

Birolini admitiu que com a Semana do

Trauma as entidades médicas esperam mobi-

lizar a sociedade e conscientizá-la da neces-

sidade de valorizar a vida e não banalizar a

violência. Do Governo e das lideranças polí-

ticas disse esperar que se abram para o diálo-

go construtivo na busca de soluções para o

problema que, em sua opinião, não se resol-

ve apenas com mudanças da legislação ou

abertura de hospitais, mas sim com a mudan-

ça de cultura e conscientização da população.

Destacou, ainda, a necessidade de uma

melhor formação dos recursos humanos que

atuam diretamente com o problema. “Enten-

do que não bastam hospitais e equipamentos

modernos. É fundamental contarmos com

médicos, enfermeiros e auxiliares melhor

preparados em todo o país para atender a es-

sa crescente demanda", explicou. Desde seu

lançamento, o Projeto Trauma já treinou cer-

ca de 13 mil médicos em vários estados, mas

a idéia é ampliar ainda mais esses números.

PROJETO TRAUMA:

UMA CAMPANHA CONTRA A VIOLÊNCIA

D

URANTE A

S

EMANA DO

T

RAUMA

,

OS

COORDENADORES

PLANTARAM

130

MIL CRUZES NA

E

SPLANADA DOS

M

INISTÉRIOS

,

REPRESENTANDO

AS VÍTIMAS DA

VIOLÊNCIA NO

PAÍS

,

NO ANO

PASSADO

.

S

EGUNDO DADOS

DIVULGADOS PELO

MOVIMENTO

,

DESSE TOTAL

38,9

MIL FORAM

VÍTIMAS DE

ACIDENTES DE

TRÂNSITO E

OUTROS

30%

DE

ASSASSINATOS

EXCETUADAS AS

VÍTIMAS DE

SEQÜELAS

,

ESTIMADAS EM

300

MIL

Marcio Arruda