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e s p e c i a l

10

Dezembro/2000

MEDICINA

CONSELHO FEDERAL

J A M B

A contribuição do Conselho Federal de

Medicina (CFM), da Associação Médica Bra-

sileira (AMB) e das demais entidades médi-

cas foi fundamental para a implantação dos

remédios genéricos no Brasil. Esse processo,

iniciado em 1994 a partir de iniciativa do en-

tão ministro da Saúde, Jamil Haddad, só efe-

tivou-se com a aprovação, no ano passado, da

lei que introduziu o conceito de medicamen-

to genérico. Mesmo assim, a presença deste

tipo de medicamento na vida dos brasileiros,

na prática, só ocorreu em 2000, com o regis-

tro de vários títulos junto à Agência Nacional

de Vigilância Sanitária (ANVS), responsável

pela autorização dos genéricos para comer-

cialização no país.

“Os genéricos não

deslancharam

antes

por causa dos interesses econômicos em jogo

e falta de vontade política. Por isso, nunca an-

daram direito", afirmou João Moreira, presi-

dente da Sociedade Brasileira de Nefrologia e

representante da AMB no Sistema Nacional

de Transplantes, do Ministério da Saúde. Se-

gundo ele, para uma população onde 36 mi-

lhões de pessoas vivem abaixo do nível de

pobreza, o medicamento genérico representa

uma economia de até 50%.

Um exemplo prático da relação entre o

uso dos medicamentos genéricos e a redução

dos custos no orçamento doméstico está no

dia-a-dia dos brasileiros hipertensos. Hoje,

30 milhões de pessoas que têm pressão alta

gastam mensalmente, em média, entre R$

100,00 e R$ 200,00 com medicamentos para

o controle da pressão arterial. “É um valor ra-

zoável, que não pode deixar de ser considera-

do. Ainda mais num país onde dois terços da

população ganham menos de três salários-mí-

nimos", lembrou Moreira.

Recentemente, os genéricos começaram a

ser distribuídos na rede pública e o Governo

começou a abrir o mercado para o gênero, de-

senvolvendo uma sistemática própria para au-

torizar a comercialização. “É uma dinâmica

muito positiva", disse Moreira. Atualmente, o

registro de um genérico é feito por institui-

ções, e não mais por pessoas. Existem insti-

tuições credenciadas pela ANVS, universida-

des em sua maioria, para avaliar e avalizar a

qualidade dos genéricos. “Essa proposta de

registro dos genéricos é boa e nós, médicos,

com o apoio da população, temos que cobrar

sua implementação. A instituição deve rece-

ber pela avaliação e no momento e na medida

em que haja o registro na ANVS o genérico

se tornará mais confiável", completou.

Moreira explica que dos medicamentos

genéricos que prescreveu para seus pacientes

nenhum apresentou problema até agora.

“Usamos o produto com a máxima confiança,

mas nunca recomendei genéricos para paci-

entes submetidos a transplantes, embora exis-

ta um medicamento genérico autorizado para

os mesmos: a ciclosporina", acrescentou.

Adicionalmente, recomendou que as pessoas

tenham cuidado com o resultado apresentado

por esses produtos. Se não for o esperado, re-

comenda que façam um registro, documen-

tando cientificamente o que saiu errado.

A reclamação pode ser posteriormente re-

passada à Comissão de Ética Médica da loca-

lidade onde o médico resida. Caso não exista,

deve ser enviada ao Conselho Regional de

Medicina e, em última instância, ao CFM. “O

que não pode ocorrer é o surgimento de falsas

opiniões sobre medicamentos utilizados pela

população", afirmou. Se o retorno não for sa-

tisfatório, cabe a reclamação. “Temos que ter

uma medicação que nos dê segurança e a pro-

posta dos genéricos, da forma como foi feita e

como tem que funcionar, é positiva", conclui.

Apoio das entidades mŽdicas foi

fundamental para aprova‹o dos

genŽricos

A promulgação, pelo Congresso Nacio-

nal, da emenda constitucional que vincula re-

cursos orçamentários para a área da saúde foi

mais uma vitória do Conselho Federal de Me-

dicina, da Associação Médica Brasileira

(AMB), das demais entidades médicas e da

própria sociedade brasileira. A Proposta de

Emenda Constitucional (PEC) contou com o

apoio das entidades médicas desde que foi

apresentada no Legislativo pelos deputados

Eduardo Jorge (PT-SP), na versão original, e

Carlos Mosconi (PSDB-MG).

Na opinião do presidente do Conselho

Federal de Medicina, Edson de Oliveira An-

drade, a chamada PEC da Saúde vem corrigir

grave distorção na execução orçamentária

nos três níveis de poder, já que sem essa vin-

culação o setor saúde estava sujeito a todo ti-

po de restrição, apesar de ser considerado ca-

rente de recursos. Segundo ele, corrige tam-

bém uma distorção federativa, ao obrigar que

estados e municípios assumam parte dos de-

sembolsos do setor público com a área da

saúde. Para o presidente da AMB, Eleuses

Vieira de Paiva, a aprovação da PEC demons-

tra o comprometimento do Legislativo com a

melhoria dos indicadores sociais do país e re-

presenta importante avanço na luta de toda a

sociedade brasileira por uma assistência mé-

dica de melhor qualidade.

Com a vigência da PEC, estados e muni-

cípios serão obrigados a investir em saúde en-

tre 12% a 15% dos seus respectivos orçamen-

tos, a exemplo do que já ocorria com a edu-

cação, embora em maior percentual. Uma lei

complementar definirá o percentual a ser gas-

to pela União. Até que essa nova lei seja apro-

vada, a União será obrigada a investir este

ano pelo menos 5% a mais do que o aplicado

no ano passado. Nos próximos quatro anos, o

valor a ser aplicado será o do ano anterior

corrigido pela variação do Produto Interno

Bruto (PIB).

Os estados e o DF ficam obrigados a in-

vestir 12% da arrecadação do Imposto sobre

Circulação de Mercadorias e Serviços, do

Imposto sobre Propriedade de Veículos Auto-

motores e do Imposto sobre Transmissão de

Bens Herdados. Os municípios destinarão

15% da receita do Imposto Predial e Territo-

rial Urbano, Imposto Sobre Serviços e Im-

posto sobre Transmissão de Bens Intervivos.

Atualmente, de cada R$ 100,00 gastos

com saúde, a União participa com R$ 70,00 e

os estados e municípios contribuem com ape-

nas R$ 30,00 - ou às vezes até menos. A

maioria dos municípios tem boa participação,

o que não vem ocorrendo com vários estados.

Com a nova medida, esses setores estarão

obrigados a assumir uma parceria nesses gas-

tos, de acordo com o estabelecido em lei.

Mais

recursos para

a saœde,

uma vit—ria das

entidades mŽdicas e da sociedade brasileira

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