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MEDICINA

CONSELHO FEDERAL

Dezembro/2000

PENSAR E DIZER

Inúmeros acontecimentos, além do crônico

déficit de financiamento da saúde pública, têm

trazido a nós, médicos e trabalhadores da área

de saúde, grande preocupação. Várias iniciati-

vas por parte dos planos de saúde demarcam a

clara tendência de implantação da mentalidade

do “

managed care

", com restrição de creden-

ciamentos, procedimentos e a redução dos ho-

norários médicos, freqüentemente colocados

em patamares incompatíveis com a dignidade

de um bom atendimento. Para garantir o lucro,

as empresas do setor tentam transferir todos os

custos para os médicos e pacientes - que na

verdade são e sempre foram os protagonistas na

saúde.

Obviamente, essa indigesta conduta das em-

presas traz grande conturbação e insegurança.

O setor vem enfrentando problemas desde a

nova regulamentação dos planos de saúde, que

continua a ser alterada com freqüência através

de medidas provisórias que redundam em inú-

meras incertezas, apesar da constante ação de

entidades médicas, órgãos de defesa do consu-

midor e entidades representativas dos usuários.

A ação mercantilista do “

managed care

”,

resultante desse tempo de globalização, tem ge-

rado insatisfação em todo o mundo, inclusive

nos Estados Unidos. Lá, o governo manifestou,

através do presidente Clinton, sua preocupação

com a perda da livre escolha pelos pacientes e

com o “amordaçamento” dos médicos.

Essa estratégia mercantil e impositiva da

globalização só tem trazido infelicidade, exclu-

são social e violência à sociedade, principalmen-

te no setor saúde, onde seguramente se exige

uma visão mais humana na relação médico-paci-

ente e mais democrática na relação entre os ato-

res principais: pacientes, médicos e empresas.

O que nós, médicos, certamente não pode-

mos fazer é nos omitir nessa transição. Conti-

nuamos a manter com nossos pacientes e a so-

ciedade não só o nosso motivo de existência,

mas uma parceria que pode ser intensamente

sentida no movimento pela regulamentação

dos planos de saúde, quando trabalhamos ao la-

do das entidades representativas dos pacientes.

Devemos, de forma transparente, trazer es-

sa realidade à comunidade para que ela se in-

forme e faça, progressivamente, opções mais

conscientes do que espera de um verdadeiro

plano de saúde.

Nesse sentido, destacamos a recente inau-

guração de um novo site da APM

(

www.apm.org.br )

, na Internet, que permite à

sociedade obter informações sobre os planos de

saúde, bem como manifestar suas reclamações

e sugestões. Ressalte-se que este site também

possibilita o acesso aos sites dos órgãos de de-

fesa do consumidor (Procon e IDEC), nos quais

os usuários podem ter informações sobre o

ranking

dos planos de saúde e queixas sobre os

mesmos.

Essa iniciativa importantíssima demonstra

“quem é quem” nessa área. Como nem todos

têm acesso à Internet, outras realizações já

ocorreram em curto prazo, a exemplo da im-

plantação da linha 0800 17 3313, para que es-

sas informações atinjam o maior número possí-

vel de usuários.

Assim como os pacientes não devem optar

ingenuamente por seu plano de saúde, mas sim

interagir com o mesmo, também não podemos

aceitar as imposições unilaterais das empresas

de planos de saúde. Obviamente, sabemos da

fragilidade dos médicos, quando, sozinhos, vão

negociar com as mesmas. Por isso, esse é o mo-

mento de nos unirmos em associações, coope-

rativas e outras formas de reuniões, sempre em

sintonia com as entidades médicas, reivindi-

cando com conhecimento e competência todos

os nossos direitos.

Se as empresas forem inteligentes, optarão

progressivamente por modelos que considerem

evidentemente os custos, mas sem perder a vi-

são da necessidade de valorizar pacientes e

prestadores de saúde. Dessa forma, convém

também lembrar a confecção da nova tabela re-

ferencial de honorários da Associação Médica

Brasileira (AMB), que está se iniciando e que

ocorrerá de forma técnica (com a participação

da Fipe e sociedades de especialidades) mas

também democrática, com a possibilidade da

participação de todos aqueles que desejarem

contribuir com alguma opinião, inclusive as

empresas de planos de saúde.

A atitude coletiva é a forma de combater-

mos os abusos do poder econômico dos planos

de saúde. Assim, estaremos assumindo nossa

cidadania e defendendo o trabalho dos presta-

dores de serviços e o atendimento dos usuários.

Por isso, nos causa no mínimo estranheza atitu-

des de entidades econômicas como o Cade, di-

ficultando a organização coletiva da classe mé-

dica, pois todos sabemos, na verdade, quem

tem cometido abusos na área da saúde suple-

mentar. Temos a certeza de que a sociedade sa-

berá fazer o seu julgamento, e é esse o árbitro

que queremos.

“A

SSIM COMO OS

PACIENTES NÃO

DEVEM OPTAR

INGENUAMENTE

POR SEU PLANO

DE SAÚDE

,

MAS

SIM INTERAGIR

COM O MESMO

,

TAMBÉM NÃO

PODEMOS ACEITAR

AS IMPOSIÇÕES

UNILATERAIS DAS

EMPRESAS DE

PLANOS DE

SAÚDE

.

O

BVIAMENTE

,

SABEMOS DA

FRAGILIDADE DOS

MÉDICOS

,

QUANDO

,

SOZINHOS

,

VÃO

NEGOCIAR COM

AS MESMAS

. P

OR

ISSO

,

ESSE É O

MOMENTO DE NOS

UNIRMOS EM

ASSOCIAÇÕES

,

COOPERATIVAS E

OUTRAS FORMAS

DE REUNIÕES

,

SEMPRE EM

SINTONIA COM AS

ENTIDADES

MÉDICAS

,

REIVINDICANDO

COM

CONHECIMENTO E

COMPETÊNCIA

TODOS OS

NOSSOS

DIREITOS

A LUTA COMUM DE

MÉDICOS E PACIENTES

J

ORGE

C

ARLOS

M

ACHADO

C

URI É

DIRETOR DE

D

EFESA

P

ROFISSIONAL DA

A

SSOCIAÇÃO

P

AULISTA DE

M

EDICINA

Arquivo pessoal

B I O É T I C A

Uma publicação do Conselho Federal de Medicina

A primeira revista brasileira

especializada em bioética e ética médica

Veja a revista no site:

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