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JAMB

MAIO/JUNHODE 2001

8

ABM re

pudiadecisão da Sul América

No início de maio, a Associação

Bahiana de Medicina, através do

seu presidente Roque Andrade, pu-

blicou carta aberta ao Ministério

Público denunciando empresas

como a Sul América Aetna, entre

outras, pelo descredenciamento

de médicos, laboratórios e clínicas,

entre elas as mais tradicionais

prestadoras de serviços médi-

cos da Bahia.

Segundo a denúncia, cerca de

320 médicos prestavam servi-

ços a estas instituições, sendo

desligados sumariamente

pela Sul América, que possui

cerca de 250 mil segurados

no estado da Bahia, deten-

do cerca de 30% do mer-

cado. “E onde fica o res-

peito a esses profissionais?

E o que fazer da relação

médico-paciente, insensi-

velmente destruída por ta-

manha arbitrariedade?”,

questiona o presidente da

Roque Andrade, presidente

da ABM: luta pelo respeito

profissional

Associação Bahiana de Medicina, Ro-

que Andrade, no final do documento.

A diretoria da Associação Médica

Brasileira endossou a posição da

ABM, enviando, além do documen-

to divulgado pelo presidente Roque

Andrade, carta de apoio a todo seu

sistema Federativo (27 Federadas) e

Conselho Científico (56 Sociedades

de Especialidade).

SITUAÇÃO COMUM

Em outros estados brasileiros a re-

lação dos profissionais de saúde com

planos ou seguro-saúde não é diferen-

te da vivenciada na Bahia. Em Goiás,

a Bradesco Saúde sistematicamente

vem realizando descredenciamento

unilateral.

“O pior é que nenhuma razão é apre-

sentada”, conta o presidente da Associ-

ação Médica de Goiás, Nabyh Salum.

“Eles se negam a fornecer qualquer tipo

de informação, apenas descredenciam

os profissionais. Por isso, vou adotar as

mesmas medidas tomadas na Bahia,

promovendo denúncias no Ministério

Público”, garante.

O exemplo da Bahia também foi

seguido no Rio Grande do Norte. O pre-

sidente Wilson Cleto Medeiros buscou

parceria com o Procon e o Ministério

Público.

“Foi a única forma que encontramos

para tentar minimizar o sofrimento da

população e dos profissionais de saú-

de. Ambos são penalizados com res-

trições de atendimento, atraso no pa-

gamento dos honorários e outras situ-

ações”, explica.

No Ceará, o relacionamento dos pro-

fissionais, especialmente anestesio-

logistas, otorrinos e oftalmologistas,

com empresas filiadas ao grupo Ciefas

também se encontra em litígio por fal-

ta de acordo em relação a remunera-

ção de honorários médicos.

“Estamos em negociação e temos a

expectativa de que nossas reivindica-

ções sejam atendidas”, explica Floren-

tino Cardoso Filho, presidente do Cen-

tro Médico Cearense.

Desde que assumiu a presidên-

cia da ABM, em outubro de 1999, o

presidente Roque Andrade vem,

através de artigos, externando pu-

blicamente a posição da entidade

frente aos diversos problemas que

afligem a comunidade médica e a

população. Logo no início de sua

gestão, concitou os médicos da

Bahia a lutar pelos interesses da clas-

se no editorial “Uma andorinha só

não faz verão”. Denunciou publica-

mente os problemas enfrentados

pelos segurados da extinta Iapseb

no artigo “O gato está rosnando”,

deixando claro a posição insusten-

tável da seguradora que agia à ma-

neira dos felinos “pedindo miando

e comendo rosnando”. Em “Arraia

miúda”, denunciou o escândalo das

pequenas seguradoras:

“Que dizer, então dessa “arraia

miúda” travestida de seguradora?

Um número substancial delas dis-

puta um universo de 10% a 15% dos

segurados, enfrentando a concor-

rência dos grandes capitais segu-

radores, sem lastro para o enfren-

tamento de eventuais tormentas.

Acabam à deriva, como a Nau

Capitânea, de tão inglória e recen-

te lembrança”.

A ABM também posicionou-se

frente ao escândalo da AMS Petro-

brás em matéria intitulada “A Mancha

Negra”:

A atitude da AMS é uma man-

cha negra que enodoa as boas re-

lações da Petrobrás com os médi-

cos do Brasil. Sua proposta é imo-

ral. Ainda que venha a ser retira-

Bahia: luta por respeito e dignidade profissional

da, como decerto ocorrerá em nome

dos bons costume e da civilidade, terá

deixado na história dessas relações,

uma nódoa indelével”.

Também alertou colegas e público

em geral sobre a má prática médica,

escrevendo:

“Primum non nocere” – primeiro

não ferir, não prejudicar – eis a

máxima orientadora da atividade

médica. Pode um médico, que estu-

dou farmacologia, fisiologia, tera-

pêutica, deixar-se levar pela falácia

de uma pílula onde a poli-farmácia

irresponsável é a essência do

pseudo-sucesso? Será isto ignorân-

cia, analfabestismo hipocrático? Ou

será a volúpia dos honorários far-

tos, em descompasso com a ética no

exercício da Medicina?”.

A ABM participou também da con-

dução do processo sucessório para a

direção da Faculdade de Medicina da

Universidade Federal da Bahia, quan-

do foi eleito o professor Manuel Barral-

Netto.

“É justamente assim, com a força

do exemplo, que o professor Barral

tem trilhado a sua vida, da qual a

vivência universitária é a sua faceta

mais conhecida na comunidade aca-

dêmica. Esta mesma comunidade

que acaba de consagrá-lo em retum-

bante e avassaladora vitória...”

Por ocasião da solenidade de forma-

tura dos novos médicos pelas duas es-

colas de medicina de Salvador, publi-

cou:

“O ideal de cada médico deve ser

forjado no cadinho do sofrimento e

das privações do próximo, mas ao

invés de mera sublimação, deve es-

tar estigmatizado, contaminado pela

firme decisão de prover transforma-

ções, consciente da sua capacidade

de influência”.

Em “O Monopólio da Mentira”,

aliou-se à Associação Médica Brasi-

leira na ocasião em que a ANS publi-

cava a lista de exclusões de procedi-

mentos de alta complexidade, refe-

rindo-se à célebre anáfora de Rui

Barbosa:

“Mentira de tudo, em tudo e por

tudo...mentira nas promessas... men-

tira nos programas...mentira nos

projetos...mentira nas convicções...

mentira nas soluções...mentira nos

homens, nos atos e nas coisas...

mentira no rosto, na voz, na postu-

ra, no gesto, na palavra, na escri-

ta...mentira nas mensagens...mentira

nos relatórios...mentira nas ga-

rantias...mentira nas responsabili-

dades...mentira nos desmentidos...

mentira geral. O monopólio da men-

tira”.

Voltou à baila, recentemente, a tu-

tela do plano de saúde dos servido-

res do estado da Bahia com o editori-

al “Planserv – a noiva cobiçada”. Tam-

bém em relação aos planos de saú-

de, denunciou a Sul América pelo

descredenciamento de profissionais

da clínica Previna no artigo “Carta

aberta ao Ministério Público da

Bahia”. Conclamou também os mé-

dicos residentes à participação ativa

nos movimentos decisivos da classe

médica. Posicionou-se contra a aber-

tura de novas escolas médicas em “O

Brasil precisa mesmo de mais médi-

cos? Ou, mais acuradamente ainda

– o Brasil precisa de novas escolas

médicas?

“Se é verdade que mantidos os

ritmos atuais de crescimento da

população vs médicos, em alguns

anos estaríamos amargando a in-

cômoda situação de uma supersa-

turação. Mais que formar novos

médicos, precisamos portanto dis-

tribuí-los melhor. Criar incentivos,

integrando esforços federais, esta-

duais e municipais, e a própria co-

munidade organizada, num esfor-

ço sério de fixação de equipes de

saúde nos rincões desassistidos”.

Por ocasião da sentença em que

o CADE condenou a um silêncio ab-

soluto o Cremesp, Associação Pau-

lista de Medicina e outras entidades,

publicou “A mordaça de Escu-

lápio”:

“Na Grécia antiga, Aesclepius,

ou Esculápio, era o Deus da Me-

dicina. Recebeu o cetro de seu pai

Apolo, o Phebo – ele próprio o

Deus da Beleza e das Artes – den-

tre estas, a sublime arte de cu-

rar. Apolo, para conferir-lhe a es-

tatura espiritual necessária, con-

fiou a educação de Esculápio ao

mais sábio e diligente de todos os

Centauros. O inexcedível Quiron

cuidou do jovem Esculápio, devo-

tando-lhe todas as atenções e

aperfeiçoando com esmero as

suas divinas qualidades, dentre

as quais a de assistir e falar pe-

los médicos através do tempo.

Esculápio está agora amordaça-

do pelo CADE”.

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