Julho/2007
8
MEDICINA
CONSELHOFEDERAL
JAMB
Carta de Brasília
Médicos entram em estado de alerta
permanente em defesa da saúde e da população
Reunidos em Brasília, no período de 6 a 8 de junho,
durante o XI Encontro Nacional das Entidades Médicas
(Enem), os médicos brasileiros, por intermédio de suas
representações, fizeram uma acurada análise do sistema
de saúde no Brasil.
Como resultado, a constatação de graves proble-
mas e o compromisso com a sociedade obrigam os
profissionais de medicina a entrar em estado de alerta
permanente em defesa da saúde e da população.
Os médicos entendem que o SUS tem papel fun-
damental na garantia da assistência à saúde da popu-
lação, pois conceitualmente assegura o direito à saúde
integral, de qualidade e ágil. Porém, identificam difi-
culdades que comprometem a qualidade do atendi-
mento. Entre elas, a mais grave: o seu financiamento.
Constatam haver grave insuficiência de recur-
sos e exigem a ampliação da receita orçamentária, a
começar pela destinação exclusiva da arrecadação da
CPMF para o SUS.
Exigem, ainda, a regulamentação, em caráter de
urgência, da Emenda Constitucional 29, que esta-
belece a fixação das ações em saúde, a destinação obri-
gatória de recursos por parte da União, estados e mu-
nicípios e, principalmente, quais gastos podem ser efe-
tivamente considerados como investimentos no setor.
Ressalte-se que essa regulamentação é impres-
cindível para combater desvios hoje verificados em to-
das as instâncias de governo. Atualmente, a EC 29
não é cumprida por, no mínimo, 18 estados e por mais
de 2.000 municípios brasileiros.
As conseqüências são o deficiente atendimento
aos cidadãos, as precárias condições de trabalho para
médicos e demais profissionais de saúde, a situação de
penúria da rede de atendimento e a ameaça de falên-
cia de muitos hospitais que priorizam suas ações para
o SUS.
Os médicos também constataram outras dis-
torções inadmissíveis: a assistência prestada no Pro-
grama Saúde da Família, quer nas unidades básicas de
saúde, quer na assistência secundária e na alta comple-
xidade, apresenta graves problemas, dificultando a in-
serção dos profissionais nas diversas equipes. Foram
identificadas situações de precarização, grandes dife-
renças salariais, dificuldade de progressão na carreira e
severas restrições aos direitos previdenciários. É im-
prescindível o respeito aos preceitos da Lei nº 3. 999/61,
que define a remuneração mínima do médico, ade-
quando-a ao piso salarial de R$ 3.481,76 (três mil qua-
trocentos e oitenta e um reais e setenta e seis cen-
tavos), preconizado pelas entidades médicas.
Rigor na formação, qualificação dos
médicos e revalidação de diplomas
O compromisso com um atendimento de quali-
dade à comunidade obriga os médicos a denunciar o
grave problema da abertura indiscriminada de escolas
médicas. Hoje, o Brasil é o segundo país em números
absolutos de faculdades de medicina, com 167 – su-
perado apenas pela Índia, que tem 202 e uma popu-
lação seis vezes maior que a nossa.
Esses cursos possuem, em sua maioria, qualidade
duvidosa. São autorizados a funcionar por ação de in-
fluências políticas questionáveis e interesses mercan-
tilistas. O resultado inevitável é a formação inadequa-
da de médicos, o que acaba pondo em risco a saúde
da população.
Os médicos exigem das autoridades competentes
a adoção de medidas enérgicas para coibir a proliferação
irresponsável de faculdades de medicina. Exigem ain-
da a fiscalização rigorosa das escolas em funcionamen-
to, para obrigá-las a atender todos os requisitos
necessários a uma boa formação – e as que assim não
procederem devem ser fechadas.
A residência médica, melhor modelo para a for-
mação de especialistas, deve ser ampliada, adequan-
do as vagas existentes às necessidades sociais e técni-
cas. Contudo, deve ser preservada a autonomia da
Comissão Nacional de Residência Médica.
Os médicos brasileiros e estrangeiros devem se
adequar à legislação vigente. Para os formados no ex-
terior, impõe-se a revalidação do diploma em moldes
uniformes, definidos por comissão bipartite, governo
e entidades médicas, realizada sob supervisão do Mi-
nistério da Educação em universidades públicas. Os
médicos brasileiros repudiam todo e qualquer acordo
que fira a legislação e privilegie profissionais formados
em qualquer país.
Destaque-se que esforços para a qualificação per-
manente dos médicos estão sendo empreendidos pelas
próprias entidades, por intermédio de programas de
educação continuada, certificação e recertificação,
com o objetivo de garantir uma assistência de bom
nível aos brasileiros.
Uma saúde suplementar digna
e completa para os usuários do sistema
A saúde suplementar tem recorrido a medidas
restritivas do atendimento com a proibição de proce-
dimentos médicos e remunerações insuficientes, ne-
gando-se a adotar como referência a Classificação
Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos
(CBHPM). Insiste na transferência de responsabi-
lidade aos médicos por meio de controles coercitivos,
a exemplo da Troca de Informações da Saúde Su-
plementar (TISS), agredindo a privacidade dos pa-
cientes, rompendo o direito de preservação de sua
intimidade e ferindo o segredo profissional.
A aprovação definitiva da CBHPM pelo Con-
gresso Nacional garantirá o acesso da população às
novas práticas médicas éticas, exigindo da saúde su-
plementar uma cobertura completa aos usuários do
sistema.
Garantia de acesso fácil, eficiente e uni-
versal à saúde da população
Os médicos não abrem mão da política de saúde
pública sustentada em orçamentos próprios sufi-
cientes, com qualificação profissional adequada e
crescente.
No intuito de dar qualidade ao atendimento à po-
pulação brasileira, os médicos entendem como ele-
mentos essenciais condições de trabalho tecnicamente
adequadas, remuneração justa e uma carreira de Esta-
do, o que garantirá satisfação profissional e perspecti-
va de futuro. Defendem, ainda, contratos de traba-
lhos formais e combatem os valores aviltantes da tabela
SUS, os mecanismos inapropriados de terceirização e
a precarização do trabalho médico.
Fundamentalmente, é primordial garantir que a
população tenha acesso fácil, eficiente e universal à
saúde.
Associação Médica Brasileira
Conselho Federal de Medicina
Federação Nacional dos Médicos