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JAMB

ABRIL/MAIO DE 2002

6

Mobilização contra os piores planos

Movimento nacional alerta a sociedade e fará ranking dos piores planos de saúde

relação entre médicos e

operadoras de planos e

seguro-saúde atingiu um

patamar insustentável. Redução de

honorários, recusa e glosa de paga-

mentos e procedimentos diag-

nósticos/terapêuticos, burocracia para

a prestação de serviços, interferência

na autonomia do profissional são

algumas condições de trabalho que

vêm sendo impostas pelas operadoras

aos médicos.

Em conseqüência, a relação

médico-paciente também está sendo

deteriorada: algumas empresas

estão exigindo a diminuição do

tempo de internação, desrespei-

tando o período pré-operatório,

interferindo em atos diagnósticos e

terapêuticos e impondo sérias

restrições para doenças preexis-

tentes.

O “Dia Nacional de Mobilização

contra os piores planos de saúde”,

realizado no dia 8 de maio, foi a

forma da categoria expor essa

situação a seus pacientes, e a toda a

sociedade, para alertá-los sobre os

abusos cometidos por certas

operadoras. O movimento, que

contou com a participação das

principais entidades médicas

nacionais – Associação Médica

Brasileira, Conselho Federal de

Medicina, Federação Nacional dos

Médicos, Confederação Médica

Brasileira, além de todas as

Sociedades de Especialidade -

aconteceu nacionalmente, em todas

as capitais do país, com apoio das

Federadas da AMB, Conselhos

Regionais e Sindicatos dos Médicos.

Nesse dia, por um determinado

período de tempo, os médicos se dedi-

caram a conversar com os pacientes

sobre a realidade de seus respectivos

planos de saúde.

“Esperamos que esse movimento

marque uma mudança radical nas

condições do exercício profissional

e no atendimento aos milhões de

usuários de planos de saúde

privados”, afirmou o presidente da

AMB, Eleuses Vieira de Paiva,

durante a entrevista coletiva

realizada na sede da entidade para

explicar a mobilização. “Há limites

para o atendimento médico de

qualidade. E, para nós, esse limite é

puramente ético. Não podemos

aceitar que essas imposições com

interesses basicamente econômicos

interfiram na autonomia médica,

prejudicando a qualidade da assis-

tência”, completou.

Ainda como parte do movimento,

as entidades médicas nacionais

encomendaram uma pesquisa

nacional, que será desenvolvida pelo

DataFolha junto aos médicos, com o

objetivo de apresentar o ranking

oficial dos piores convênios em cada

Estado brasileiro. Todos os 260 mil

médicos em atividade no país já

foram informados sobre a pesquisa

que abordará, entre outros aspectos,

remuneração, restrições, burocracia

(ver quadro abaixo).

“Precisamos deixar bem claro que

os planos de saúde que remuneram

mal os médicos, que descredenciam

quem pede os exames necessários ou

cerceiam o trabalho dos médicos, são

um perigo para a saúde da população,

que já paga muito caro para sofrer

com o mal atendimento provocado

por esses planos”, declara Edson de

Oliveira Andrade, presidente do

Conselho Federal de Medicina.

Numa segunda fase da mobi-

lização, as entidades médicas estarão

apresentando os resultados da

pesquisa elaborada pelo DataFolha,

além de promover ações de mobili-

zação em todas as capitais nacionais,

através de um abaixo-assinado

reivindicando alterações na lei que

regulamenta os planos de saúde (Lei

nº 9656/98), e também ampla atuação

junto aos parlamentares, no

Congresso Nacional.

“Esse movimento é de funda-

mental importância e trará subsídios

importantes para alicerçar essa antiga

luta das entidades médicas pela

regulamentação da lei dos planos e

seguro-saúde”, afirmou Regina

Parizi, representante do Cremesp, na

coletiva. “É essencial que a

população tenha conhecimento dos

aspectos que estão dificultando o

relacionamento médico-paciente em

decorrência das atitudes que estão

sendo adotadas por algumas

operadoras de saúde”, completou

José Luiz Gomes do Amaral,

presidente da Associação Paulista de

Medicina. Sobre o movimento,

Gabriel David Hushi, presidente em

exercício do Cremesp, declarou:

“Vivemos especial momento de

mobilização, pois a situação dos

médicos credenciados a planos de

saúde ultrapassou o limite do

suportável. O esforço conjunto das

entidades médicas começa a dar

resultados: conquistamos um possível

reajuste de 20% dos honorários;

divulgaremos em breve a lista do

piores planos; e, ao lado das entidades

de usuários e consumidores, estare-

mos promovendo ato público, quando

a lei dos planos completa 4 anos”.

O presidente da Confederação

Médica Brasileira, José Erivalder

Guimarães apresentou uma série de

documentos comprovando irregula-

Entidades médicas reunidas: mobilização contra os limites dos convênios

ridades praticadas por determinadas

empresas de saúde e destacou a

exigência da transformação em pes-

soa jurídica de seus profissionais

credenciados. “Ao mesmo tempo em

que nos imputam redução de

honorários, exigem, sob pena de

descredenciamento, a criação da

pessoa jurídica, encarecendo ainda

mais os custos de um consultório”,

reclamou. Para o presidente da

Federação Nacional dos Médicos,

Heder Murari Borba, o resultado da

pesquisa será esclarecedor para a

população. “Iremos saber quem real-

mente são os vilões nesta história e

quais planos estão efetivamente

oferecendo assistência de qualidade

à população”, declarou.

Aspectos da pesquisa

Remuneração:

empresas que pagam os piores honorários, atrasam pagamento, reduzem

valores e que glosam procedimentos diagnósticos/terapêuticos.

Restrições:

aquelas que oferecem mais dificuldades para liberação de exames; reduzem

o tempo de internação e impõem limitações, interferindo na autonomia do médico em relação

a determinado tratamento.

Burocracia:

planos que exigem troca de guia de autorização, solicitam relatórios

detalhados para autorização de procedimentos e determinam locais de realização de exames,

dificultando tanto para médicos como pacientes a prestação do serviço.

Descredenciamento:

empresas que, de forma unilateral e sem critérios preestabelecidos,

descredenciam médicos e hospitais, prejudicando a relação médico-paciente.

A idéia da realização da mobili-

zação partiu da Sociedade Brasileira

de Ortopedia e Traumatologia (Sbot),

apresentada ao Conselho Científico

da AMB, no final do mês de março,

pelo Diretor de Defesa Profissional,

George Bittar.

“A preocupação da Sbot ao sugerir

essa mobilização foi a constatação do

cerceamento ao livre exercício da

profissão, provocado pela conduta de

algumas operadoras de saúde.

Ficamos felizes que esse movimento

tenha conquistado abrangência

nacional e também com a mobiliza-

ção em torno da questão por parte de

todos os segmentos da área médica”,

disse o presidente da Sbot, Gilberto

Luís Camanho, ao final da coletiva.

Foto: Osmar Bustos

DisqueANS – 0800 701 9656

O

Disque ANS é um canal de

comunicação criado pela Agência

Nacional de Saúde Suplementar (ANS)

para receber denúncias dos usuários em

relação a planos e seguro-saúde.

Divulgue o telefone acima para o seus

pacientes.

Mobilização Nacional

Início em 8 de maio com coletivas à imprensa

em todos os estados e conversa dos médicos

com pacientes sobre seus planos de saúde.

• Em 4 de junho, ato público de protesto contra

as atitudes abusivas dos planos.

• Em 15 de junho, divulgação da pesquisa sobre

os piores planos.

• Em junho, realização de abaixo-assinado para

a mobilização no Congresso Nacional.