Confemel
A angustiante
noite da Venezuela
César Teixeira
E
m 25 de novembro de 2016,
durante a Assembleia Geral
Ordinária em Brasília, o Bra-
sil assumiu a presidência da Confe-
deração Médica Latino-ibero-ame-
ricana (Confemel) – entidade com
sede no Uruguai, que congrega colé-
gios, associações e sindicatos médi-
cos de 22 países, com a finalidade de
promover melhorias nas condições
de trabalho médico, saúde pública
digna e acessível à população, além
de combater as violações de direitos
humanos na área da saúde.
O mandato na presidência da
instituição será compartilhado en-
tre o CFM (2017) e a AMB (2018), ins-
tituições que representam os médi-
cos brasileiros.
Logo após a posse da nova di-
retoria, ocorreu o primeiro embate
em defesa dos direitos humanos. Na
madrugada do dia primeiro de de-
zembro, o médico venezuelano Gon-
zalo Müller, chefe da ginecologia do
Hospital Magallanes de Catia, em
Caracas, foi preso juntamente com
o líder sindical José Luís Spitia, sob
a acusação de ter recebido doações
de insumos médicos na Campanha
Rescate Venezuela contendo medi-
camentos fora do prazo de validade.
A prisão foi realizada dentro do
hospital por agentes do Serviço Bo-
livariano de Inteligência Nacional
(Sebin), que atua como a polícia polí-
tica do governo de Nicolás Maduro. O
fato é um reflexo do conflito entre o
governo e a oposição, já que a Campa-
nha Rescate Venezuela é comanda-
da por Lilian Tintori, esposa do líder
oposicionista Leopoldo López, preso
desde fevereiro de 2014, acusado de
liderar manifestações de rua que cul-
minaramcomdepredação de prédios
públicos, lesões corporais emortes.
Tintori, 38 anos, é professora,
ex-apresentadora de televisão, ex-
-campeã mundial de
kitesurf
e que,
desde a prisão do marido, tornou-se
a maior ativista de direitos huma-
nos do país. A partir do desabaste-
cimento de insumos hospitalares e
de medicamentos, que levou a rede
hospitalar a funcionar apenas com
13% dos insumos necessários, ela
busca abrir um canal humanitário
para que a Venezuela possa receber
doações de medicamentos por meio
da Campanha Rescate Venezuela.
A presidência da Confemel foi
informada da prisão pelo presidente
da Federação Médica Venezuelana,
Douglas León Natera, imediatamente
após oocorrido.Buscandoceleridadee
eficácia nas suas ações, a Confemel di-
vulgou nota de repúdio, publicada na
mídia de todos os países membros e
nas redes sociais, e informou diversas
instituições de direitos humanos.
O esforço concentrado da Con-
femel, associado às ações da Fede-
ração Médica Venezuelana, da De-
fensoria e do Ministério Público da
Venezuela, resultou na libertação
de Gonzalo Müller no sábado, dia 3
de dezembro, 48 horas depois.
“Diante do caso GonzaloMüller, é
de fundamental importância mos-
trar para o mundo o holocausto da
saúde que vive a Venezuela. Pessoas
morrem por falta de acesso a medi-
camentos e cirurgias contra o câncer,
ausência de vagas em unidades de
saúde, em meio a uma crise política
sem precedentes, que levou inclusi-
ve à suspensão da Venezuela do Mer-
cosul, por descumprimento de cláu-
sulas assumidas em2012, quando foi
incorporada ao bloco. Urge clamar
ao mundo ajuda humanitária para
a saúde venezuelana e, nesse senti-
do, a Confemel não poupará esforços
para amenizar as dores do povo, ví-
tima de uma tragédia acima e abai-
xo do Orinoco”, destaca o presidente
Jeancarlo Fernandes Cavalcante.
“
Diante do caso Gonzalo Müller, é
de fundamental importância mostrar
para o mundo o holocausto da saúde
que vive a Venezuela (…)
Jeancarlo Fernandes Cavalcante, atual presidente da Confemel
26
■
JAMB
■
JANEIRO/FEVEREIRO
2017