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EDIÇÃO ESPECIAL |
Setembro - Outubro de 2015
Como foram as negociações com o governo para
que o decreto 8.497/2015 fosse modificado e quais
os principais motivos que o levaram a encabeçar
a luta?
Os motivos foram aqueles redigidos no decreto,
onde a Presidente da República se arvorou num
decreto, querendo criar lei. A lei que ela embasava
o decreto não tinha prerrogativa de dar tamanho
poder aos Ministérios da Saúde e da Educação,
interferindo na ação das entidades representativas
das especialidades. Baseado no excesso praticado
pela Presidente, nós entramos com o Projeto de
Decreto do Legislativo. Foi neste momento que o
governo nos chamou para o diálogo. Aí, sim, aceitou
negociar e redigir um novo texto.
O decreto interferia na autonomia das Sociedades
de Especialidade, quais os pontos mais críticos do
texto o senhor pode apontar?
Um decreto como este tem pegadinhas em todo
o seu texto. Mas a parte principal era, realmente,
tentar qualificar o médico especialista, que tem
obrigação hoje, de ter mais de nove mil horas de
aulas práticas, com apenas 10% de aulas teóricas.
Exigindo uma sobrecarga enorme ao residente,
para depois ser submetido a uma prova de
seleção da especialidade, para poder obter o título
de especialista, e essa mesma situação sendo
repassada para aqueles que fizeram mestrado ou
cursos de pós-graduação de 4000u450horas, sendo
reconhecido pelo governo federal como médico
especialista. Muitas vezes criando situações onde
as faculdades de medicina, que serão amanhã,
qualificadas pelo Ministério da Educação, podendo
dar também os certificados de especialistas. Com
isso, o governo supriria, de forma irresponsável e
criminosa, o programa Mais Especialidades.
Depois disso, ele difundiria faculdades demedicina
por todos os quadrantes do país. Amaioria não tem
condições de formar médicos qualificados. Muito
menos de dar condições de se especializar naquilo
que é sua vocação.
Os familiares dos estudantes de medicina são
altamente extorquidos com cursos caríssimos.
Neste caso, o estudante ou irá contrair uma dívida
junto ao FIES, e passará anos e anos para quitar
seu débito com a Caixa Econômica Federal, ou irá
espoliar altamente o patrimônio familiar. Além
disso, o governo quer utilizar, a partir de 2018,
toda essa mão-de-obra para fazer sua campanha
eleitoral num modelo inspirado no programa
venezuelano, chamado Bairro Adentro. E mais,
pagando valores irrisórios aos médicos após sua
formatura.
Como o senhor classifica a atuação da nossa
entidade neste episódio?
Muito importante na defesa da qualidade dos
médicos especialistas que vão cuidar das pessoas.
Principalmente das pessoas que não têm como
escolher o seu médico.
Como o senhor vê as últimas ações do governo em
relação à nossa classe?
Sempre comdiscriminação e altíssimo preconceito.
A única coisa que temos que reconhecer, é que
dada essa truculência no processo tão claro de
rejeição e de perseguição à classe médica, provocou
algo inédito. Pela primeira vez, nos meus 40 anos
de exercício da profissão, eu vi a classe médica se
unir em todos os eixos e em todos os Estados. Ela
se conscientizou da necessidade de participar
efetivamente do processo político e das grandes
decisões do nosso país.
É um momento que nós temos que reconhecer: o
médico tem uma nova consciência e uma outra
participação no cenário nacional. Seja na eleição
dos seus representantes seja na Câmara ou no
Senado Federal. E acredito que também será assim
nas eleições municipais.
Este foi o ponto positivo que nós tiramos depois
de toda esta retaliação e tentativa do governo em
satanizar a figura dessa profissão que sempre foi
reconhecida por toda a população brasileira, aquela
que sempre teve a maior confiança de todos.
É claro que sofremos, fomos duramente
penalizados, mas tenho a certeza de que por
estarmos defendendo a causa e combatendo o bom
combate, nos recuperaremos facilmente a nossa
imagem. E hoje, devido ao que está acontecendo,
como costumo dizer, a população parece estar
mais atenta. Estão vendo o quanto este governo é
comprometido com a roubalheira, a corrupção e o
estelionato.
O MÉDICO TEM UMA NOVA CONSCIÊNCIA E UMA
OUTRA PARTICIPAÇÃO NO CENÁRIO NACIONAL”