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EDIÇÃO ESPECIAL |

Setembro - Outubro de 2015

A AMB EXERCEU MUITO BEM O SEU

PAPEL COMO REPRESENTANTE DOS MÉDICOS”

O senhor esteve à frente das negociações com

o governo para que o decreto 8.497/2015 fosse

modificado, quais os principais motivos que o

levaram a encabeçar a luta?

Sou médico e me preocupo com a situação da

saúde brasileira e a falta de uma carreira médica

de estado. A decisão pela apresentação de um

novo acordo ao proposto pelo governo não foi

fácil. O ideal seria derrubar o decreto, mas como a

pressão no plenário foi grande e muitos deputados

relataram a necessidade de se fazer um debate

maior sobre o texto, eu acabei cedendo. Deixei claro

ao governo que se o texto não fosse modificado,

conforme as exigências dos médicos, eu iria apelar

novamente a todos os líderes para que votássemos

a urgência e o mérito da derrubada em 15 dias.

Odecreto interferia na autonomia das Sociedades

de Especialidade, quais os pontos mais críticos do

texto?

O governo avocava pra si a responsabilidade

de, por meio de um ato do Ministério da Saúde,

reconhecer, incluir e excluir alguma especialidade.

Imagine como seria desastrosa a situação em

que você está trabalhando e, por algum motivo, o

ministro entende que agora a sua especialidade

saiu do cadastro. O médico teria praticamente

cassada a sua capacidade profissional. Além disso,

o decreto continha uma série de outros artigos

arbitrários, que concentravam poder nesse Estado

hoje gerenciado por um governo não confiável.

Qual a importância dessa ação em conjunto com

outras entidades e parlamentares?

A conquista do novo texto foi resultado de muito

estudo e diálogo no grupo de trabalho formado

pelas entidades médicas (AMB, CFM e FENAM),

parlamentares e representantes dos ministérios

da Educação e da Saúde. Essa foi sem dúvida uma

grande vitória para a classe médica brasileira,

mas ainda temos uma grande luta pela frente

para garantirmos a nossa carreira e uma saúde de

qualidade no país.

Ao lado da AMB e de outras entidades e

parlamentares, o senhor atuou fortemente junto

ao presidente da Câmara dos Deputados. Como

foram as negociações com Eduardo Cunha?

O presidente Eduardo Cunha se mostrou solícito

em todas as negociações e informou que irá

ajudar no que for possível para aprovarmos outras

reivindicações como o plano de CarreiraMédica e a

PEC 01/15,matéria que dispõe sobre o valormínimo

a ser aplicado anualmente pela União em ações e

serviços públicos de saúde.

O governo mostrou alguma resistência em

mudar o texto? Qual foi a maior dificuldade nas

negociações para um novo texto? 

O governo só se mostrou relutante com relação à

posição do MEC na abertura de novas faculdades

de medicina e no controle das residências. Para

mim, o MEC não deveria interferir na formação

médica. Oministério deve se concentrar apenas na

criação de critérios mais rigorosos na abertura de

novas faculdades. Esta é uma questão que estamos

debatendo na Subcomissão da Carreira Médica na

Câmara.

Como o senhor vê as últimas ações do governo

em relação à nossa classe?

Deste governo que está aí, o nosso sentimento é

de total falta de confiança. Não cumprem acordos,

fazem textos na calada da noite, escondidos. As

propostas apresentadas carecemde boas intenções

no sentido de aumentar a qualidade da medicina

praticada no País. Isso tem que ser prioridade.

Este governo tem uma má gestão no sistema de

saúde, diariamente apontada pela população

brasileira como o pior serviço público. O governo

joga a população contra os médicos, praticando

uma válvula de escape para sua ineficiência e

incapacidade. Deste governo que está aí, eu não

tenho nenhuma expectativa positiva na área da

saúde pública brasileira.

O nosso presidente, Florentino Cardoso, esteve

lado a lado com o senhor nas negociações. Quais

foram as suas principais preocupações?

A minha maior preocupação foi com o fato do

decreto ferir os direitos dosmédicos e interferir nas

competências do Conselho Federal de Medicina,

das Sociedades de Especialistas e da Associação

Médica Brasileira.