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JAMB

SET/OUT/NOV/DEZ DE 2004

2

DIRETORIA

P

RESIDENTE

Eleuses Vieira de Paiva

P

RIMEIRO

V

ICE

-P

RESIDENTE

Lincoln Marcelo Silveira Freire

S

EGUNDO

V

ICE

-P

RESIDENTE

Ronaldo da Rocha Loures Bueno

V

ICE

-P

RESIDENTES

Remaclo Fischer Junior, Flavio Link Pabst,

Ranon Domingues da Costa, Ricardo Saad,

Carlos D.A. Bichara, David M. Cardoso Filho,

Lúcio Antonio Prado Dias, José Guerra Lages,

J. Samuel Kierszenbaum, José Luiz G. doAmaral

S

ECRETÁRIO

-G

ERAL

Edmund Chada Baracat

1º S

ECRETÁRIO

Aldemir Humberto Soares

1º T

ESOUREIRO

Amilcar Martins Giron

2º T

ESOUREIRO

:

José Alexandre de Souza Sittart

D

IRETORES

Cultural

- Severino Dantas Filho;

Relações Internacionais

- David

Miguel Cardoso Filho;

Científico

-

Fabio Biscegli Jatene;

Defesa

Profissional

- Eduardo da Silva Vaz;

DAP

- Martinho Alexandre R.A. da

Silva;

Economia Médica

- Marcos

Pereira de Ávila ;

Marketing

- Roque

Salvador A. e Silva;

Saúde Pública

-

Samir Dahas Bittar;

Atendimento ao

Associado

- Ricardo de Oliveira Bessa;

Proteção ao Paciente

- Jurandir M.R.

Filho;

Acadêmico

- Elias F. Miziara;

Comunicações

- Horácio José Ramalho

D

IRETOR

R

ESPONSÁVEL

Horácio José Ramalho

E

DITOR

E

XECUTIVO

César Teixeira (Mtb 12.315)

C

OLABORAÇÃO

Camila Kaseker

D

IAGRAMAÇÃO

, E

DITORAÇÃO

E

A

RTE

Sollo Comunicação

D

EPARTAMENTO

C

OMERCIAL

Fone (11) 3178-6806

T

IRAGEM

: 60.000 exemplares

P

ERIODICIDADE

: Bimestral

I

MPRESSÃO

: momomomo

F

ILIADO

À

ANATEC

R

EDAÇÃO

E

A

DMINISTRAÇÃO

Rua São Carlos do Pinhal, 324

01333-903 – São Paulo – SP

Tel. (11) 3178-6800 – Fax (11) 3178-6816

E-Mail:

jamb@amb.org.br

A

SSINATURA

Fone (11) 3178-6800, ramal 130

Anual R$ 36,00; avulso R$ 3,00.

As colaborações assinadas expressam

unicamente a opinião de seus autores,

não coincidindo necessariamente

com as posições da AMB.

“Setembro negro”

EDITORIAL

Médicos que vivem da clínica particular

são aves raríssimas. Mais de 97% prestam

serviços aos planos de saúde, e recebem de

R$ 8 a R$ 32 por consulta. Em média, R$ 20.

Os responsáveis pelos planos de saúde

alegam que os avanços tecnológicos enca-

recem a assistência médica de tal forma que

fica impossível aumentar a remuneração

sem repassar os custos para os usuários já

sobrecarregados. Os sindicatos e os con-

selhos de medicina desconfiam seriamen-

te de tal justificativa uma vez que as em-

presas não lhes permitem acesso às

planilhas de custos.

Tempos atrás, a Fipe realizou um levan-

tamento do custo de um consultório-padrão,

alugado por R$ 750 num prédio cujo con-

domínio custasse apenas R$ 150 e que pa-

gasse os seguintes salários: R$ 650 à

atendente, R$ 600 a uma auxiliar de enfer-

magem, R$ 275 à faxineira e R$ 224 ao

contador. Somados os encargos sociais (cor-

respondentes a 65% dos salários), os bene-

fícios, as contas de luz, água, gás e telefo-

ne, impostos e taxas da prefeitura, gastos

com a conservação do imóvel, material de

consumo, custos operacionais e aqueles ne-

cessários para a realização da atividade pro-

fissional, esse consultório-padrão exigiria

R$ 5.179,62 por mês para sua manutenção.

Voltemos às consultas, razão de existir dos

consultórios médicos. Em princípio, cada

consulta pode gerar de zero a um ou mais

retornos para trazer os resultados dos exa-

mes pedidos. Os técnicos calculam que 50%

a 60% das consultas médicas geram retor-

nos pelos quais os convênios e planos de saú-

de não desembolsam um centavo sequer.

Façamos a conta: a R$ 20 em média por

consulta, para cobrir os R$ 5.179,62 é pre-

ciso atender 258 pessoas por mês. Como

cerca de metade delas retorna com os resul-

tados, serão necessários: 258 + 129 = 387

atendimentos mensais unicamente para co-

brir as despesas obrigatórias. Como o nú-

mero médio de dias úteis é de 21,5 por mês,

entre consultas e retornos deverão ser aten-

didas 18 pessoas por dia!

Se ele pretender ganhar R$ 5.000 por

mês (dos quais serão descontados R$ 1.402

de impostos) para compensar os seis anos

de curso universitário em tempo integral

pago pela maioria que não tem acesso às

universidades públicas, os quatro anos de

residência e a necessidade de atualização

permanente, precisará atender 36 clientes

todos os dias, de segunda a sexta-feira. Ou

seja, a média de 4,5 por hora, num dia de

oito horas ininterruptas.

Por isso os usuários dos planos de saúde

se queixam: “Os médicos não examinam

mais a gente”. “O médico nem olhou a mi-

nha cara, ficou de cabeça baixa preenchendo

o pedido de exames enquanto eu falava.”

“Minha consulta durou cinco minutos.”

É possível exercer a profissão com

competência nessa velocidade? Com a

ARTIGO

Médicos versus planos de saúde

o auge do movimento pela implantação da Classificação Brasileira

Hierarquizada de Procedimentos Médicos - CBHPM - fomos rece-

bidos no dia 22 de abril em audiência no Ministério da Saúde.

Presentes à reunião o ministro Humberto Costa, o presidente da ANS, Fausto

Santos, os presidentes da Associação Médica Brasileira e do Conselho

Federal de Medicina, respectivamente Eleuses de Paiva e Edson Andrade,

parlamentares baianos e lideranças do movimento médico da Bahia e de

Pernambuco. Na ocasião, Fausto Santos se comprometeu a compatibilizar a

CBHPM ao Rol de Procedimentos ANS, ampliando assim a cobertura

assistencial mínima obrigatória aos usuários de planos de saúde, contra-

tados a partir de 1º de janeiro de 1999.

Fato amplamente divulgado na mídia, a ANS criou um grupo de estudo

composto por representantes dos diferentes segmentos de planos de

saúde, da Associação Médica Brasileira e de técnicos da própria ANS para

trabalhar na elaboração do que seria o novo Rol de Procedimentos. Após

quatro meses, o Rol (que não estabelece valores de honorários médicos)

foi colocado no site da ANS para consulta pública durante o período de

15 a 30 de agosto. Satisfação geral, o novo Rol incorporaria a maioria dos

procedimentos da CBHPM.

No dia 30 de setembro caiu a máscara: aANS publicou no Diário Oficial da

União a Resolução Normativa 82/04 com o “novo Rol de Procedimentos”,

completamente desfigurado em relação ao que havia sido exposto para

consulta pública, sem contemplar os novos procedimentos da CBHPM,

800 no total. O “novo Rol” restringiu-se a uma adequação de nomenclatura

do antigo Rol aos procedimentos equivalentes contidos na CBHPM. Em sín-

tese, a ANS fez uma bela maquiagem e agora, com desfaçatez, sinaliza a

criação de uma câmara técnica, com a finalidade de estudar o impacto de

custos dos novos procedimentos.

À luz dessa atrasada decisão cabem duas perguntas: a ANS tem autori-

dade para editar um Rol de Procedimentos que baliza a Saúde Suplementar,

ou depende do aval das operadoras de planos de saúde? O usuário tem

ou não direito a uma medicina atual? Com esta conduta, a ANS mais uma

vez traiu a sociedade, os usuários de planos de saúde e os médicos. Nada

mudou, esta é a ANS que as operadoras de planos de saúde querem. Esti-

mula o usuário para migração de plano, para adaptação de contrato e o seu

Rol, que é a garantia mínima do atendimento, não contempla nenhum novo

procedimento, nenhum avanço da medicina.

O que teria acontecido no mês de setembro na ANS? O “setembro negro”

do ano de 1970 - sem nenhuma conotação racista, poderia ser o “setembro

vermelho” pelo sangue derramado - de tristes recordações ficou marcado pela

matança de palestinos na Jordânia, que foram expulsos daquele país. Durante

o mês de setembro do ano de 2004, a Agência Nacional de Saúde Suple-

mentar matou a esperança dos usuários de planos de saúde por uma medicina

digna no Brasil. Foi o “setembro negro” da ANS.

José Carlos Brito

Presidente da Associação Bahiana de Medicina

Circulação: DEZEMBRO/2004

experiência de quem atende doentes há

quase 40 anos, posso lhes garantir que não é.

O bom exercício da medicina exige, além do

exame físico cuidadoso, observação acurada,

atenção à história da moléstia, à descrição

dos sintomas, aos fatores de melhora e pio-

ra, uma análise, ainda que sumária, das

condições de vida e da personalidade do pa-

ciente. Levando em conta, ainda, que os se-

res humanos costumam ser pouco objetivos

ao relatar seus males, cabe ao profissional

orientá-los a fazê-lo commais precisão para

não omitir detalhes fundamentais. A proba-

bilidade de cometer erros graves aumenta

perigosamente quando avaliamos quadros

clínicos complexos entre dez e 15 minutos.

O que os empresários dos planos de saú-

de parecem não enxergar é que embora con-

sigam mão-de-obra barata - graças à proli-

feração de faculdades de medicina que pri-

vilegiou números em detrimento da quali-

dade -, acabam perdendo dinheiro ao pagar

honorários tão insignificantes: médicos que

não dispõem de tempo a “perder” com as

queixas e o exame físico dos pacientes e

pedem exames desnecessários. Tossiu?

Raio-X de tórax. O resultado veio normal?

Tomografia computadorizada. É mais rápi-

do do que considerar as características do

quadro, dar explicações detalhadas e obser-

var a evolução. E tem boa chance de deixar

o doente com a impressão de que está sen-

do cuidado.

A economia no preço da consulta resul-

ta em contas astronômicas pagas aos hospi-

tais, onde vão parar os pacientes por falta

de diagnóstico precoce, aos laboratórios e

serviços de radiologia, cujas redes se expan-

dem a olhos vistos pelas cidades brasilei-

ras. Por essa razão, os concursos para resi-

dência de especialidades que realizam pro-

cedimentos e exames subsidiários estão cada

vez mais concorridos, enquanto os de clíni-

ca e cirurgia são desprestigiados.

Aos médicos, que atendem a troco de tão

pouco, só resta a alternativa de explicar à

população que é tarefa impossível trabalhar

nessas condições e pedir descredenciamento

em massa dos planos que oferecem remu-

neração vil. É mais respeitoso com a medi-

cina procurar outros meios de ganhar a vida

do que universalizar o cinismo injustificável

do “eles fingem que pagam, a gente finge

que atende”.

O usuário, ao contratar um plano de saú-

de, deve sempre perguntar quanto rece-

berão por consulta os profissionais cujos

nomes constam da lista de conveniados. Eu

teria medo de ser atendido por um médico

que vai receber bem menos do que um

encanador cobra para desentupir o banheiro

da minha casa. Sinceramente.

Drauzio Varella

Médico oncologista

São Paulo - SP

Artigo publicado na

Folha de S. Paulo, em18/09/2004