Background Image
Table of Contents Table of Contents
Previous Page  12 / 12
Information
Show Menu
Previous Page 12 / 12
Page Background

JAMB

SET/OUT/NOV/DEZ DE 2004

12

presidente da Ordem

dos Médicos de Portu-

gal, Germano de Sousa,

participou de reunião do Conse-

lho Científico da Associação Mé-

dica Brasileira no dia 13 de outu-

bro, na sede da AMB, em São Pau-

lo, para falar sobre o Conselho de

Especialidades daquela entidade e

debater a criação da Ordem dos

Médicos do Brasil.

“Os 48 colégios de especia-

lidade, integrados à Ordem, regu-

lamentam o funcionamento da

especialidade, fiscalizam os pro-

gramas de residência médica e

são os responsáveis pelo Título de

Especialista”, explicou Germano.

“Mas também existem as socie-

dades científicas, autônomas, que

cuidam de ensaios clínicos e pes-

quisas, por exemplo”, continuou.

“Os colégios e as sociedades tra-

balham em harmonia, muitas ve-

zes com diretorias em comum, mas

têm suas próprias prerrogativas”.

Para Germano de Sousa, a tra-

dição e a força política que carac-

terizam a Ordem dos Médicos de

Portugal se devem à união das

funções associativa e conselhal.

“O Brasil já deveria ter sua Or-

dem dos Médicos forte e unifi-

cada, o que aumenta a capacida-

de de defesa da medicina, dos mé-

dicos e dos doentes”, afirmou o

presidente. Acima, em entrevista

concedida ao Jornal da Associa-

ção Médica Brasileira, o presiden-

te da Ordem dos Médicos de Por-

tugal fala mais sobre o assunto.

Revalidação do

Título de Especialista

O outro item da pauta da reu-

nião, a revalidação do Título de

Especialista, foi abordado pelo

diretor científico da AMB, Fábio

Jatene. Segundo ele, hoje o pro-

cesso de revalidação encontra-se

Na reunião do Conselho Científico, realizada no

dia 19 de outubro, e na sede da APM, no dia 29, com

as Federadas daAMB, o presidente daAPM, José Luiz

Gomes do Amaral, apresentou o Sinasa - Sistema de

Atendimento à Saúde, resultado de uma reformulação

do Sistema Nacional deAtendimento Médico (Sinam).

Segundo José Luiz, ao contrário do Sinam, o Sinasa

não foi classificado pela Agência Nacional de Saúde

Suplementar como plano de saúde, o que o desobriga

a cumprir as exigências da Lei 9656/98.

“Resolvida essa pendência administrativa depois

de quatro anos da experiência do Sinam, buscamos

resolver os problemas operacionais, como a atua-

lização instantânea da lista de médicos referenciados”,

relatou o presidente da APM.

O diretor-presidente do Sinasa, José Humberto

Affonseca, explicou ao Conselho Científico que os

associados da APM poderão fazer a inscrição no

Sinasa gratuitamente, disponibilizando os dias da se-

mana e os horários em que atenderão pelo Sistema.

Os médicos também terão de estabelecer o valor dos

honorários pelos quais se propõem a atender, sendo

necessariamente um múltiplo inteiro ou uma fração

da CBHPM. “Não poderá haver um coeficiente para

a consulta e outro para os procedimentos, porque a

hierarquização da CBHPM deve ser preservada”,

esclareceu José Luiz. Além disso, cada médico pode-

rá entrar e sair do Sinasa assim que o desejar, com o

compromisso de atender os pacientes já agendados.

Científico

discute Ordem

dos Médicos

opção de assistência à saúde

Quais são as funções da Ordem dos

Médicos de Portugal?

Germano -

AAssociação dos Médicos

Portugueses foi fundada em 1898 e, em

1938, foi criada a Ordem dos Médicos

de Portugal. À semelhança da Ordem

dos Advogados e outras entidades de

classe, é responsável pelo registro e pela

disciplina dos profissionais, e tem uma

forte atuação política. Ao longo dos

anos, houve adaptações no estatuto, mas

a entidade sempre regulamentou a atua-

ção técnica e ética dos profissionais.

Somos parceiros públicos do Ministério

da Saúde. Nenhuma lei relacionada à

medicina ou à saúde, por exemplo, pode

ser aprovada sem que a Ordem dos

Médicos seja ouvida. Oferecemos

vários serviços aos médicos como se-

guros, consultoria fiscal... Mantemos

um fundo de solidariedade para os que

não ganham o suficiente para o susten-

to da família... Em resumo, a Ordem

dos Médicos é um misto do Conselho

Federal e da Associação Médica que

vocês têm aqui.

Como é a estrutura da entidade?

Germano -

Temos cerca de 34 mil

médicos, com uma média de um pro-

fissional para cada 314 habitantes.

É uma média considerada ideal pela

Organização Mundial de Saúde, mas

temos problemas de distribuição. Os

médicos se concentram mais nas gran-

des cidades e no litoral, em detrimen-

to do interior. Inclusive temos progra-

mas de fixação de médicos nas regiões

que mais necessitam. A Ordem dos

Médicos tem três regionais - Norte,

Sul e Centro - e vários distritos, além

dos 48 colégios de especialidade, que

se concentram na sede nacional, em

Lisboa, e regulamentam o funcio-

namento da especialidade, fiscalizam

os programas de residência médica e

concedem o Título de Especialista.

Também existem no País as socieda-

Por sua vez, o usuário terá acesso pela internet ou

pela central telefônica do Sinasa aos nomes dos profis-

sionais por especialidade (cadastrados mediante apre-

sentação do Título de Especialista oficial ao Sinasa), à

agenda dos médicos e ao valor da consulta ou procedi-

mento. A função da APM será inscrever os médicos e

controlar o referenciamento, sem nenhuma interfe-

rência posterior. “O Sistema apenas aproxima médico

e paciente”, reforçou o diretor-presidente do Sinasa.

O sistema será mantido por uma anuidade indivi-

dual de R$ 148,00 paga pelos usuários. AAPM reterá

8% desse montante, verba que será obrigatoriamente

aplicada em educação médica. Em caso de internação

hospitalar e atendimento em laboratórios e clínicas,

os usuários contarão com linhas de crédito para arcar

com os valores previamente combinados. Se preferir,

o paciente poderá pagar uma anuidade mais alta com

garantia de um seguro contra doenças graves que pode

chegar a R$ 12 mil, recebidos em dinheiro. “O Sinasa

não atende todas as situações de assistência à saúde,

mas engloba quase 100% daquelas de pequena e mé-

dia complexidade”, afirmou José Luiz.

A implantação do Sinasa será escalonada: nos

próximos 45 dias deverá ocorrer na capital paulista e

Grande São Paulo, estendendo-se ao interior do Esta-

do nos próximos quatro meses. No dia 18 de novem-

bro, em coletiva na sede da APM, foi lançado à popu-

lação. Inf. pelo telefone (11) 2125-3100 ou no site

www.sinasa.com.br

.

já deveria ter sido feito no Brasil,

porque uma entidade única tem uma

força política incomparável, tem uma

melhor capacidade para defender a

medicina, os médicos e os doentes e

para lutar pela igualdade de direitos

e de condições, ainda mais em um

país tão grande e peculiar como o

Brasil. A Ordem dos Médicos tem o

status de uma instituição pública para

a qual o Estado delega poderes. So-

mos parceiros sociais obrigatórios, o

que acarreta uma grande responsabi-

lidade. Devemos ter total isenção par-

tidária, por exemplo. Nosso único

partido político é o doente. Gosto de

uma citação que diz não ser possível

fazer uma reforma na saúde sem mé-

dicos, muito menos contra eles.

Por que os médicos encontram difi-

culdades em muitos países para

aprovar a Lei do Ato Médico?

Germano -

A figura do médico sem-

pre foi muito respeitada, mas costu-

ma-se dizer que o médico é um deus

quando está na cabeceira do doente,

é humano quando este começa a se

recuperar, e se transforma em um

demônio quando o doente se resta-

belece. Depende de nós não exerce-

mos com corporativismo nosso poder,

e sim de forma pedagógica, conscien-

tizando as pessoas de que os médicos

estudam em média 12 anos para cui-

dar do nosso bem mais precioso, o

corpo. O médico deve ser humano e

humilde e isso depende da formação

ética, por isso prezamos tanto pela

qualidade do ensino médico.

des científicas, autônomas e indepen-

dentes da Ordem dos Médicos, que

cuidam de ensaios clínicos e pesqui-

sas, por exemplo. Os colégios e as

sociedades trabalham em harmonia,

muitas vezes com diretorias em

comum, mas têm suas próprias prer-

rogativas.

A tradição e o peso político da

Ordem dos Médicos de Portugal se

devem à união das funções

associativa e conselhal?

Germano -

Sim, caso contrário tería-

mos poderes divididos. A classe unida

em uma única entidade é capaz de ava-

liar o ensino médico com muito mais

eficácia, por exemplo. O Estado é proi-

bido por lei de contratar ummédico que

não possua o Título de Especialista con-

cedido por nós. A Ordem dos Médicos

é que atesta a qualidade das sete esco-

las públicas de medicina, controlando

o número de vagas. Em Portugal, não

há escolas médicas particulares como

no Brasil.

Os sindicatos integram a Ordem dos

Médicos?

Germano -

Não. Há dois sindicatos

de médicos em Portugal e ambos são

independentes. Aatuação dos sindicatos

lá está mais relacionada aos médicos

assalariados e aos contratos de traba-

lho. No entanto, é a Ordem dos Médi-

cos que determina o valor dos hono-

rários. São coisas diferentes. Poucos

médicos são sindicalizados.

Esse é um modelo comum em toda a

Europa?

Germano -

Sim, há entidades seme-

lhantes na França, Itália, Alemanha,

Bélgica e até mesmo na Espanha,

como o Colégio Oficial de Médicos de

Barcelona.

Qual a sua opinião sobre a criação

da Ordem dos Médicos do Brasil?

Germano -

Se me é permitido ter uma

opinião, humildemente digo que isso

totalmente amadurecido entre as

entidades médicas, tendo a Asso-

ciação Médica Brasileira e o Con-

selho Federal de Medicina à frente

do projeto.

“É um processo totalmente

irreversível e será implantado. De

acordo com as discussões iniciais,

prevemos um prazo de cinco anos

para ser revalidado”, afirmou

Jatene. Ele adiantou também que

até o final do ano o Conselho Fede-

ral de Medicina deverá editar uma

resolução sobre o assunto, outor-

gando à Comissão Nacional de

Revalidação poderes para coorde-

nar todo o processo.

“Essa Comissão será paritária

e composta por membros da As-

sociação Médica Brasileira, Con-

selho Federal de Medicina e das

Sociedades de Especialidade vi-

sando a condução e operacio-

nalização do processo”, acres-

centou o diretor científico.

Embora ainda seja objeto de

discussão, a revalidação será obri-

gatória para os médicos com Títu-

lo de Especialista emitido a partir

da data estipulada pela resolução

do Conselho Federal de Medicina

ou pela Comissão Nacional, que, a

princípio, deverá ser janeiro de

2005. Os profissionais que obtive-

ram o Título antes deste período não

serão obrigados a se submeter ao

processo de revalidação. Inicial-

mente a revalidação terá abran-

gência apenas para portadores de

Títulos, sendo que o Certificado de

Área de Atuação ainda será discu-

tido pela Comissão Nacional.

“A partir da oficialização deste

processo, as Sociedades de Espe-

cialidade terão de divulgar à po-

pulação quem é especialista. Acho

que a sociedade brasileira tem o

direito de saber disso”, destacou o

secretário-geral da AMB, Edmund

Chada Baracat, ao final da reunião.

Germano de Souza, presidente da Ordem dos Médicos de Portugal,

fala aos integrantes do Conselho Científico da AMB

Entrevista Germano de Souza