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ras

2015; 61(3):193

193

CORRESPONDÊNCIA

Correlação entre escore de Apgar e encefalopatia hipóxico-isquêmica

C

orrelation

between

A

pgar

score

and

hipoxic

-

ischemic

encephalopathy

J

osé

M. R. P

erez

1

1

Médico coordenador do Centro Internacional de Neurodesenvolvimento Neonatal (CINN), São Paulo, SP. Secretário da Sociedade Iberoamericana de Neonatologia (Siben).

joseperezneo@gmail.com http://dx.doi.org/10.1590/1806-9282.61.03.193

Prezado editor,

Após a publicação de artigos como o de Salustiano et al.

1

e Ehrenstein et al.,

2

demonstrando uma forte associação

entre Apgar baixo (< 7) em recém-nascidos no 5

o

minuto

de vida e incidência de encefalopatia hipóxico-isquêmica

(EHI), e consequentemente paralisia cerebral; e também

em virtude de nossa experiência no manejo de pacientes

com EHI, como exposto na publicação de Perez et al.

3

, e

de nossa observação da dificuldade diagnóstica dessa pa-

tologia em países da América Latina, por meio da Socie-

dade Iberoamericana de Neonatologia (Siben), decidimos

colocar em debate uma proposta para o acompanhamen-

to de recém-nascidos com quadro de asfixia perinatal.

A incidência de EHI é muito maior do que as já pu-

blicadas em estudos da América Latina.

1,2

Isso pode ser

em parte explicado pela diferença populacional, mas tam-

bém pela associação entre Apgar baixo e EHI. Em nosso

meio, é relativamente comum encontrar centros cuja con-

duta em recém-nascidos com Apgar baixo no 1’ ou 5’ de

vida – mas que apresentaram uma recuperação no 10’– é

encaminhá-los ao alojamento conjunto, deixando de fa-

zer um acompanhamento mais rigoroso da evolução neu-

rológica e perdendo a oportunidade de um diagnóstico

precoce de EHI.

Durante nosso estudo,

3

efetuamos uma mudança na

rotina de avaliação dos recém-nascidos com Apgar ≤ 5 em

qualquer momento da classificação do escore (1’, 5’ ou

10’), com a implementação do escore neurológico de Sar-

nat e Sarnat no 10’ de vida e, seguidamente, de hora em

hora nas primeiras 6 horas, período crucial na decisão de

implantação da hipotermia terapêutica. Isso deveria ser

feito em todos os recém-nascidos, ainda que houvesse

uma recuperação do Apgar, pois o insulto hipóxico-is-

quêmico poderia já ter desencadeado o processo inflama-

tório, podendo resultar em EHI. Como resultado dessa

estratégia, tivemos uma incidência de sequela neurológi-

ca de 11,5% (3 casos em 26 recém-nascidos com quadro

de EHI moderada e grave: 1 com uma paralisia cerebral

leve; 1 com paralisia cerebral moderada; 1 com déficit au-

ditivo; e nenhuma paralisia cerebral grave), bastante baixa

para pacientes com EHI.

Uma das grandes dificuldades encontradas inicial-

mente para a implantação dessa rotina foi o treinamen-

to para a utilização do escore de Sarnat, pela falta de fa-

miliaridade das equipes médicas e de enfermagem.

Infelizmente, esse é um fato também comum à grande

maioria dos países da América Latina. É muito frequen-

te encontrar centros que não utilizam qualquer escore

neurológico para a avaliação dos recém-nascidos, fican-

do a dúvida de como serão capazes de identificar a EHI.

Em nosso estudo, optamos por imprimir o escore de Sar-

nat e afixá-lo na sala de parto, na unidade de cuidados in-

termediários e cuidados intensivos, e fizemos um treina-

mento específico de médicos e enfermeiros para o uso do

escore.

Neste momento de estimular a formação de centros

de hipotermia terapêutica na América Latina, fica o aler-

ta para a importância do treinamento das equipes de aten-

dimento ao recém-nascido, a fim de que sejamos capazes

de fazer um diagnóstico adequado, sem o qual qualquer

terapia ficará comprometida.

R

eferências

1.

Salustiano EMA, Campos JADB, Ibidi SM, Ruano R, Zugaib M. Low Apgar

score at 5 minutes in a low risk population: maternal and obstetrical factors

and postnatal outcomes. Rev Assoc Med Bras. 2012; 58(5):587-93.

2.

Ehrenstein V, Pedersen L, Grijota M, Nielsen GL, Rothman KJ, Toft H.

Association of Apgar score at five minutes with long-term neurologic disability

and cognitive function in a prevalence study of Danish conscripts. BMC

Pregnancy Childbirth. 2009; 9:14.

3.

Perez JMR, Golombek S, Sola A, Alpan G. A novel device for the treatment

of neonatal hypoxic encephalopathy with hypothermia: neonatal laminar

flow unit. Acta Paediatrica. No prelo.