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2015; 61(3):191-192

191

EDITORIAL

Terapia hormonal no climatério é para todas?

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1

Professor-associado da Disciplina de Ginecologia do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia, Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP), São Paulo, SP

2

Professora adjunta da Disciplina de Ginecologia do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia, HC-FMUSP, São Paulo, SP

3

Professor titular da Disciplina de Ginecologia do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia, HC-FMUSP, São Paulo, SP

http://dx.doi.org/10.1590/1806-9282.61.03.191

O climatério é um período de mudanças na mulher. Re-

presenta a passagem da fase reprodutiva para a não re-

produtiva. É cercado de mitos e temores. Significa, etmo-

logicamente, tempo crítico; tem, pois, conotação negativa.

Contudo, muitas mulheres não experimentam sintomas

ou grandes dificuldades nessa fase de transição. Há um

grupo, porém, no qual o efeito do hipoestrogenismo é

tão severo que altera a qualidade de vida, bem como o re-

lacionamento interpessoal, familiar e profissional.

1

Em

geral, essas mulheres queixam-se de sintomas vasomoto-

res (fogachos) intensos, que podem ser acompanhados

de sudorese e interromper o sono quando surgem duran-

te a noite.

2

Para elas, o melhor tratamento é a terapia com

estrogênios, mas há ainda restrições ao seu uso.

3

O debate sobre o uso de terapia hormonal (TH) no

climatério é antigo, desde o movimento feminista de

1963 – “feminina para sempre” – até os primeiros rela-

tos de casos de câncer de endométrio e mama, culmi-

nando com o apocalíptico estudo “Women’s Health Ini-

ciative (WHI)”, que mostrou efeitos negativos, como

aumento do risco de doença cardiovascular e de câncer

mamário.

4,5

Após esse estudo, a prescrição de TH caiu

no mundo todo,

3

inclusive no Brasil. Vários medicamen-

tos não hormonais foram testados, apresentando redu-

ção significante dos fogachos,

6

mas com efeitos colaterais

importantes que impediam uma adesão por tempo pro-

longado. Assim, investigadores começaram a reanalisar

o estudo WHI, bem como outras pesquisas, para entender

melhor o risco de doença cardiovascular e sua associação

com o emprego da TH.

7

Após grande reflexão entre as sociedades que estu-

dam o climatério,

7-9

surgiu o conceito de “janela de opor-

tunidade” para TH. Corresponde ao período mais preco-

ce para o início da TH. Há consenso de que se deva

introduzir a TH até 10 anos após a menopausa ou até os

60 anos.

7-9

Após esse período, acredita-se que a disfunção

endotelial esteja mais avançada, com ateromatose mais

estabelecida, impedindo a vasodilatação determinada

pelo óxido nítrico e facilitando a agregação plaquetária.

Haveria, também, aumento de fatores de coagulação após

a introdução da terapia estrogênica associada a proges-

tagênio.

Parece que a janela de oportunidade pode responder,

em parte, à preocupação com doença cardiovascular, mas

não responde à inquietação sobre o desenvolvimento de

câncer mamário com o uso da terapia estroprogestativa.

Talvez, uma resposta seja a melhor avaliação do risco ma-

mário dessas pacientes, em especial, a partir de anteceden-

te familiar ou até pessoal, quando há presença de hiper-

plasia ductal ou lobular com atipia. Nesses casos, deve-se

refletir muito sobre a introdução da TH. Quando neces-

sário, empregar a menor dose que diminua a sintomato-

logia menopausal e, se possível, empregar os progestagê-

nios a cada 3 ou 4 meses, para evitar a proliferação

endometrial e o aumento do risco de câncer endometrial.

10

Nas mulheres histerectomizadas, não há essa preocupa-

ção, pois não se usa, em geral, o progestagênio.

10

É oportuno salientar que, se a paciente já tem doen-

ça cardiovascular ou hábito que aumente o risco cardio-

vascular, como tabagismo, etilismo e sedentarismo, tal-

vez já tenha perdido a janela de oportunidade, pois a

disfunção do endotélio pode estar mais avançada. Discu-

te-se muito se a adoção de hábitos saudáveis e a elimina-

ção dos vícios poderiam amenizar os riscos, permitindo

o emprego da TH.

11,12

Apesar de ser uma alternativa para

o seu uso, estudos prospectivos e bem controlados são

insuficientes para afirmar que essa modalidade terapêu-

tica seja inerte a riscos.

Desse modo, a TH não deve ser indicada para todas

as mulheres climatéricas, visto que nem todas experimen-

tam sintomas que interferem na qualidade de vida, e ou-

tras apresentam contraindicações que impedem o seu uso.

A terapia estrogênica é ainda a melhor forma de debelar

os fogachos e aumentar o trofismo urogenital. Além dis-

so, auxilia ainda na redução do risco de fratura osteopo-

rótica. Todavia, a dose e o tempo de ministração devem

ser individualizados e discutidos em cada consulta médi-

ca. Assim, muitas mulheres poderão se beneficiar da es-

trogenioterapia, não para prolongarem a juventude, mas

para terem boa qualidade de vida.