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V

ia

de

parto

em

caso

de

cesariana

em

gestação

anterior

R

ev

A

ssoc

M

ed

B

ras

2015; 61(3):196-202

201

IC95%=0,68-1,0). Ao analisar os escores de Apgar,

a necessidade de admissão em UTIN e a mortali-

dade perinatal, não se identificou diferença entre

os dois grupos.

D

iscussão

Conforme exposto, identifica-se carência de estudos con-

trolados analisando a melhor via de parto nos casos de

cesariana em gestação anterior. Lastreadas sobretudo por

estudos observacionais, em sua maioria retrospectivos, as

evidências atuais analisando os desfechos de morbimor-

talidade materna relacionada à via de parto nessa situa-

ção clínica apresentam fragilidade, principalmente em

virtude dos vieses inerentes a esse tipo de estudo em par-

ticular (

B

).

6-14

Heterogeneidade quanto à metodologia

empregada na aferição dos desfechos; características dis-

tintas das mulheres incluídas (IMC, idade, etnia, antece-

dentes obstétricos, idade gestacional), bem como dos re-

cém-nascidos (principalmente em relação ao peso ao

nascimento); períodos distintos de tempo entre o início

do estudo e seu término; e período de seguimento (no

qual a condução do trabalho de parto em termos de tec-

nologia e taxas de prova de trabalho de parto se alteraram)

são apenas alguns pontos apresentados que contribuem

para a dificuldade de se encontrar evidências definitivas

na identificação da melhor via de parto, gerando dificul-

dade de análise da magnitude dos benefícios e riscos nos

casos de cesariana em gestação anterior. Dessa forma, per-

manecem, portanto, dúvidas se a indicação da cesariana

eletiva nessas pacientes seria superior à indicação da PTP,

em termos de efetividade e segurança.

O estudo de Landon et al. (2004) torna explícitas as

dificuldades apresentadas anteriormente, uma vez que,

mesmo sendo o estudo longitudinal prospectivo obser-

vacional mais importante conduzido para avaliação des-

se desfecho, se identificam com facilidade vieses ineren-

tes a esse desenho de estudo, que comprometem sua

análise (

B

).

7

Nesse estudo, apesar de as mulheres incluí-

das em ambos os grupos serem na sua grande maioria

obesas, com IMC > 30 kg/m

2

, apresentavam heterogenei-

dade principalmente quanto a idade materna, etnia, ta-

bagismo, antecedentes obstétricos, fatores que conduzi-

ram à indicação do primeiro parto cesariano, doenças

obstétricas, idade gestacional e peso do feto ao nascimen-

to. Por ser multicêntrico, identificaram-se taxas de PTP

muito variáveis entre os diversos centros incluídos (va-

riando entre 18 e 63%), que, ao longo do período estuda-

do, apresentaram diminuição (em 1999, apresentavam,

emmédia, 48% de pacientes submetidas à PTP, passando

para 30% em 2002). Apesar disso, pode-se identificar um

aumento significante do número de complicações mater-

nas nos casos de parturientes submetidas à PTP (como

necessidade de transfusão sanguínea, diagnóstico de en-

dometrite e rotura uterina), em comparação àquelas in-

dicadas para cesariana eletiva, especialmente nos casos

em que ocorreu falha na condução do trabalho de parto.

Em virtude da heterogeneidade entre os grupos analisa-

dos e da exclusão da análise dos casos submetidos à ce-

sariana eletiva no início do trabalho de parto, a interpre-

tação desses resultados tem sua amplitude limitada (

B

).

7

Em 2012, outro estudo longitudinal observacional

também concorrente objetivando a análise dos desfechos

relacionados à via de parto sobre a morbimortalidade ma-

terna (considerada como desfecho secundário) foi publi-

cado (

B

).

6

Igualmente multicêntrico, foi menos questio-

nado, em termos metodológicos, em comparação ao

apresentado anteriormente, uma vez que os grupos fo-

ram considerados homogêneos na análise por intenção

de tratamento (excluindo-se IMC,

status

socioeconômico

e indicação obstétrica da primeira cesariana). Nesse estu-

do, não foi identificada diferença significante entre os

grupos; contudo, cabe ressaltar que o desfecho de inte-

resse considerado (morbimortalidade materna expressa

pela ocorrência de pelo menos uma complicação grave,

como morte, rotura uterina, complicações operatórias,

sangramento, tromboembolismo e infecção) foi caracte-

rizado como secundário (

B

).

6

Também em 2012, foi publicado estudo (uma análi-

se secundária do estudo de coorte de Landon et al., pu-

blicado em 2004) que introduziu modelo de regressão lo-

gística múltipla. Ao desenvolver escore de propensão com

controle dos fatores de confusão apresentados (heteroge-

neidade entre os grupos), teve como objetivo principal a

comparação do prognóstico da via de parto em casos de

cesariana anterior. Mesmo após essa análise, em concor-

dância aos achados relatados no estudo inicial, identifi-

cou-se que a indicação de cesariana eletiva esteve associa-

da, em comparação à PTP, à redução significante de

complicações maternas (

B

).

15

R

ecomendações

finais

Com as evidências disponíveis na atualidade, identifica-

-se que a PTP é opção razoável para gestantes que apre-

sentem uma cesariana anterior, realizada por meio de ci-

catriz uterina transversa.

Os dados disponíveis, originados de estudos longitu-

dinais observacionais (concorrentes ou não), mostram que

ambos – trabalho de parto e parto cesariano eletivo –, em

parturientes (com feto único em apresentação cefálica) que

apresentem uma cicatriz uterina anterior, associam-se a