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JORNAL DA

ASSOCIAÇÃO MÉDICA BRASILEIRA • AMB

- NOV/DEZ -

2008

mente, no cotidiano não funciona bem

assim. O último motivo é que, cons-

titucionalmente, é dever do Estado

prover a saúde de todos os cidadãos.

Por esses três motivos este é um as-

sunto que está sempre em pauta como

uma boa promessa.”

Marcos Bosi Ferraz

, diretor de Eco-

nomia Médica da AMB e coordenador

doCentro Paulista de EconomiaMédica

“Já ouvi a frase ‘Saúde gasta mui-

to, se vai bem não dá voto, mas se

vai mal faz perder eleição’ várias

vezes, inclusive vinda de políticos

de esquerda. Por outro lado, tam-

bém ouvi em um seminário sobre sis-

temas de saúde, a representante es-

panhola dizer que o de seu país é

considerado um patrimônio nacio-

nal, havendo acordo entre os parti-

dos políticos de que as questões de

saúde têm de ser discutidas de modo

suprapartidário, durante todo o man-

dato e não apenas na campanha elei-

toral. Não é o nosso caso e as ra-

zões são várias.

Primeiro, nosso sistema nacio-

nal de saúde, SUS, apesar de aten-

der 75% da população e ter alcan-

çado melhores níveis de cobertu-

ra, apresenta ainda muitos proble-

mas no acesso e na qualidade da

atenção, sendo motivo de descon-

tentamento popular. Por outro

lado, o processo de qualificação

das ações e serviços de saúde não

termina em quatro anos (talvez

nunca termine), muito menos quan-

do existe a tradição dos políticos

de vincularem sua marca aos pro-

jetos, com quebra de continuidade

dos mesmos. O que chamava ARE

agora chama AME, o que era UPA

agora é AMA e por aí vai, numa

tentativa de mostrar à população

que é possível se obter resultados

imediatos para problemas estrutu-

rais, ou com a perspectiva de cons-

trução de novos hospitais (muitos

deles necessários), mas sem que se

mude o modo de compreender o

próprio SUS. Os problemas rela-

cionados ao acesso e à qualidade

da atenção à saúde também estão

relacionados ao financiamento pú-

blico ainda insuficiente, a falta de

articulação entre o SUS e a saúde

suplementar, a descontinuidade dos

projetos e a grande autonomia que

os entes federados têm para imple-

mentar as políticas, o que contri-

bui para que nossos resultados es-

tejam aquém do necessário.”

Márcia Amaral

, médica sanitarista

da Secretaria de Saúde de Campinas.

“Alémdes-

se último pro-

cesso eleitoral,

com certeza, a

saúde será o

primeiro item

da pauta da

disputa presi-

dencial em

2010. Isso porque ainda temos pro-

blemas de gestão e financiamento num

sistema que amadureceu muito. Saiu

de uma fase burocrática, formal e de

organização, que hoje se afirma numa

fase de acordo e de pacto. Temos hoje

a possibilidade efetiva de viabilizar a

tríade meta, prazo e resultado. E o

modelo de organização do sistema uti-

lizando o acordo à pactuação nos per-

mite buscar resultados. O que o SUS

não conseguiu superar era o obstácu-

lo que ficava entre o sistema, o mo-

delo que estava se implantando e o

usuário, ou seja, a atitude não foi a

correta durante esses 20 anos porque

o sistema precisa de amadurecimen-

to, o que ocorre hoje. Com isso, os

gestores compreendem o fluxo buro-

crático da rede e os desafios. É claro,

ainda temos que avançar na recupe-

ração das perdas do financiamento da

saúde, o que passa pela Emenda Cons-

titucional 29. Hoje há uma sensibili-

dade grande na Câmara dos Deputa-

dos para que seja regulamentada.

Agora é fato que a crise afetou essa

sensibilidade, então vamos ter uma

forte dependência dos resultados da

reforma tributária. Quando não apro-

vamos a CPMF e a lei complementar

à EC 29, mas perdoamos os governa-

dores para que só alcancem sua meta

de índice pleno de 12% a partir de

2011, estamos subtraindo para o pró-

ximo ano R$ 3,5 bilhões de receita

para o SUS. Isso somado à perda do

Fundep de R$ 4 bilhões, nos leva qua-

se a R$ 8 bilhões”.

Tião Viana

, senador (PT/AC)

Foto: Geraldo Magela/Ag. Senado