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De acordo com os conselheiros Alceu Pimentel,

e Abdon José Murad Neto, respectivamente coor-

denador da Comissão de Remuneração e Mercado

de Trabalho do Médico e coordenador da Comissão

Nacional Pró-SUS, os trabalhos pela implantação de

um Plano de Carreira, Cargos e Salários no SUS e

pelo aperfeiçoamento do PSF progrediram desde a

realização do ENEM, em maio deste ano.

Um sinal do avanço desta luta, destacado por

Pimen tel, foi o convit e feito à Comissão de

Remuneração do CFM para integrar a mesa de dis-

cussão do plano de carreira para o SUS. Após este

convite, as entidades médicas nacionais relacionaram

dez princípios que devem nortear as leis especiais que

disporão sobre o Plano de Carreira, Cargos e Salários

no SUS.

“Estes princípios ainda serão discutidos pela

Comissão de Remuneração e Mercado de Trabalho

do Médico. Posteriorme n t e,em2004, o documento

será apresentado à diretoria do Departamento de

Gestão e Regulação do Trabalho em Saúde, do

Ministério da Saúde”, afirma Pimentel.

As propostas a serem encaminhadas ao Ministério

da Saúde objetivam contribuir com o debate para a

elaboração do PCCS do SUS, visando valorizar a car-

reira do médico. O CFM e a AMB consideram justo

que cada profissão da área de saúde também esta-

beleça seus próprios princípios, de acordo com suas es-

pecificidades.

Em agosto, o CFM participou do Seminário

Nacional sobre Política de Desprecarização das

Relações de Trabalho no SUS, que intentou buscar

alternativas para evitar que os profissionais que

atuam no SUS continuem irregulares do ponto de

vista da legislação.

"As entidades médicas nacionais consideram a

implantação de um Plano de Carreira, Cargos e

Salários no SUS fundamental para estimular o médi-

co a ingressar na carreira pública, pois só com pers-

pectivas de crescimento pro fissional e possibilidades

claras de aumento de renda estes pro fissionais poderão

dedicar-se com segurança à prática da medicina", disse

o 3º vice-presidente do CFM, Abdon José Murad

Neto, coordenador da Comissão Nacional Pró-SUS.

11

MEDICINA

CONSELHO FEDERAL

Nov/Dez/2003

BALANÇO POLÍTICO

Um PCCS para o SUS

1- Ingresso na carreira através de concurso público

de provas e títulos, com participação das entidades médi-

cas em todas as suas fases.

O ingresso por concurso público está legalmente

consagrado, apesar das milhares de admissões irregu-

lares país afora; notadamente no Programa Saúde da

Família (PSF). A especificidade do trabalho médico, par-

ticularmente no processo de seleção de especialistas,

requer acompanhamento e assessoria das entidades

médicas no aspecto científico, à semelhança do que já

ocorre com a OAB nos concursos que envolvem advo-

gados (ver Lei da Magistratura).

2- O salário inicial deve levar em consideração o

tempo de formação (6 anos), o poder de decisão dentro

da equipe de saúde e a responsabilidade civil e penal do

médico.

O salário de entrada do médico na carreira deve

ser diferenciado em relação aos demais profissionais de

saúde de nível superior, em decorrência das especifici-

dades acima elencadas. Tal procedimento não

configura um privilégio, mas o reconhecimento das dife-

renças entre as profissões em termos de tempo de for-

mação, complexidade do trabalho e responsabilidade.

3- Evolução na carreira mediante tempo de serviço

e/ou educação continuada.

P rocedimento também consagrado que é preciso

fazer valer, particularmente a educação continuada, exi-

gência capital para a profissão médica, que em termos

de conhecimento evolui de forma vertiginosa, exigindo

do médico constante e diuturna atualização. Este es-

forço (na verdade, uma necessidade) deve ser valoriza-

do e reconhecido pelo Estado.

4- Previsão de cursos oficiais de preparação e aper-

feiçoamento de médicos como requisitos para ingresso

e promoção na carreira.

O Estado brasileiro precisa assumir a responsabili-

dade de qualificar seus servidores, particularmente os

médicos. O Sistema Único de Saúde (SUS), no inte-

resse da cidadania, deve trabalhar para preparar e aper-

feiçoar os profissionais de forma adequada ao modelo

médico assistencial preconizado na Carta Magna e na Lei

Orgânica da Saúde. Nesse sentido, cursos de preparação

para ingresso e promoção na carreira são adequados

para lapidar o profissional médico, ajustando-o às

exigências do Sistema Único de Saúde.

5- Estabelecer vantagens para trabalho sob regime

de plantão, especialmente plantão noturno.

Está cientificamente estabelecido que o trabalho

noturno é bem mais desgastante que o diurno. Este des-

gaste deve ser compensado, diferenciando-se os valores

pagos aos pro fissionais que executam servicos noturnos

dos que fazem o mesmo serviço durante o dia.

6- Garantia de estímulo, propiciando vantagens fi-

nanceiras, dentre outras, aos médicos com dedicação

em tempo integral ou dedicação exclusiva.

Consideramos ser este o mais importante incenti-

vo para a consolidação do Sistema Único de Saúde. O

SUS, pela sua proposta generosa e de qualidade, exige

e necessita de profissionais que a ele se dediquem de

forma exclusiva, abrindo mão de trabalhar de forma

autônoma ou para a iniciativa privada, assumindo, as-

sim, integralmente, a saúde pública. Os profissionais de

saúde, particularmente os médicos, precisam reconquis-

tar o direito a trabalhar apenas oito horas diárias, ter

seu descanso semanal remunerado e outras vantagens

há muito garantidas aos trabalhadores em geral.

7- Gratificação pelo efetivo exercício em localidade

de difícil provimento.

Um dos grandes desafios para a consolidação do

Sistema Único de Saúde é garantir a presença de médi-

cos em áreas de difícil acesso e permanência. O princí-

pio da descentralização, imprescindível para a oferta de

atenção à saúde de qualidade, torna praticamente im-

possível aos pequenos municípios, localizados no inte-

rior do país, assegurar médicos em seu quadro de pessoal.

Só a União e os estados têm capacidade financeira para

fixar estes profissionais nos rincões do nosso país, as-

segurando-lhes atualização profissional e retorno aos

grandes centros após um período de efetivo exercício

da profissão nestas localidades, através da mobilidade

na carreira, bem como a incorporação da vantagem ao

salário.

8- Especificar vantagens pelo trabalho efetivo em

atendimento de Urgência e Emergência.

O trabalho em Urgência e Emergência é um dos

mais penosos na área de saúde, pelo grau de estresse

que o caracteriza. Já é conhecida a redução da sobre-

vida dos profissionais que trabalham em serviços desta

n atureza. Portanto, tal desgaste deve ser compensado

financeiramente. É preciso discutir, inclusive, se não se-

ria oportuno estabelecer um tempo limite para o exer-

cício da profissão em serviços deste tipo e de avaliação

médica periódica, sem prejuízo das vantagens finan-

ceiras auferidas.

9- O Plano deve incluir vantagens pela obtenção

de título de especialista, mestrado e doutorado.

O Sistema Único de Saúde precisa de profissio-

nais de qualidade, que devem continuar seu processo

de aperfeiçoamento após a graduação, o que deverá ser

reconhecido e estimulado na carreira.

10- Promoção, alternadamente, por antigüidade e

merecimento, atendidas as seguintes normas:

a) Ser obrigatória a promoção do médico que figu-

rar por três vezes consecutivas ou cinco alternadas em

lista de merecimento;

b) A promoção por merecimento pressupõe, pelo

menos, dois anos de exercício no mesmo município ou

estado;

c) Aferição do merecimento pelos critérios de

presteza e segurança no exercício da profissão e pela

freqüência e aproveitamento em cursos reconhecidos

de aperfeiçoamento.

A magistratura adota este sistema de promoção na

carreira, que vem demonstrando sua eficácia ao prov e r

magistrados para todas as localidades do país, mesmo

as de mais difícil acesso. Outro aspecto importante é a

garantia de justiça na promoção e o estímulo ao aper-

feiçoamento contínuo do profissional.

Sugestões das entidades médicas para o

Plano de Carreira, Cargos e Salários dos médicos no SUS

Murad é o coordenador da Comissão Nacional Pró-SUS

jornal DEZEMBR - PARA SALVADOR 12/29/03 11:56 AM Page 11