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Após seis meses de trabalho, 24 audiências públi-

cas e ouvir mais de 70 pessoas, a CPI dos Planos de

Saúde votou seu relatório final em novembro. O do-

cumento recebeu 14 destaques supressivos e só foi

aprovado depois de retirados itens como o que su-

geria maior participação do Ministério Público na fis-

calização das operadoras, como forma de diminuir

os abusos praticados contra o consumidor.

E para completar a frustração dos usuários,

prestadores de serviços e entidades de defesa do

consumidor, os resultados desta CPI não alterarão em

quase nada o funcionamento caótico do sistema de

saúde suplementar no Brasil.

A insatisfação com o resultado final da CPI

dos Planos de Saúde foi traduzida pelo presidente

da Comissão, deputado Henrique Fontana (PT-RS),

que afirmou, na votação do relatório final, que o

lobby

das operadoras havia prevalecido sobre os inte-

resses dos idosos que têm planos de saúde: “Os mais

idosos continuarão sendo expulsos dos planos por

causa dos preços abusivos, que continuarão a ser

praticados”.

Fontana se referia à retirada, do relatório final,

da proposta de mudança na lei que regula o setor de

saúde suplementar, limitando a variação de preços

entre clientes jovens e idosos at r avés de cálculos

atuariais mais adequados.

Atualmente, existem sete faixas etárias nos

planos de saúde, que abrangem os usuários entre

ze roa mais de 70 anos. Geralmente, a cada dez anos,

os usuários têm suas mensalidades reajustadas de

acordo com a idade, o que significa aumento no va-

lor das mesmas. Os mais idosos, de acordo com a

legislação atual, podem pagar até 600% a mais do

que os usuários mais novos.

Durante as negociações para aprovar o relatório

final, essa variação chegou a ser fixada em 300%

como limite máximo de diferença de preços entre os

usuários, sendo que a proposta

or iginal do r elator, deput ado

Ribamar Alves (PSB-MA), era a

de fixar esta diferença em 100% -

alternativa que sequer chegou a ser

votada.

Para substituí-la, optaram por

env iar à Agência Nacional de

Saúde Suplementar (ANS) as su-

gestões para que seja estudada a

questão, buscando um ponto de

equilíbrio entre a variação de preços

dos planos de saúde dos usuários

mais jovens e mais idosos.

Tal mudança deve ter agrada-

do (e muito) apenas às 2.000 em-

presas operadoras de planos de

saúde, que atendem a mais de 34

milhões de pessoas no Brasil.

Dossiê com denúncias de usuários

O presidente do CFM, Edson de Oliveira

Andrade, entregou no dia 26 de junho, ao presidente

da CPI dos Planos de Saúde, Henrique Fontana,

quando do depoimento à CPI dos Planos de Saúde,

um dossiê com denúncias formuladas pelos usuários

desses planos.

Segundo o presidente do CFM, havia denún-

cias as mais variadas: desde o aumento exagerado

no valor das mensalidades, passando por exames ne-

gados e uso contínuo de material hospitalar não-

descartável, até o descredenciamento de médicos

sem qualquer aviso aos pacientes. De acordo com

Andrade, esses problemas representam apenas a su-

perfície de um relacionamento difícil entre os médi-

cos, as operadoras dos planos de saúde e a Agência

Nacional de Saúde Suplementar.

A classe médica, mesmo após o término da

CPI, acredita que a ANS se preocupa

apenas com a viabilidade econômica do

sistema, e que não existem quaisquer

garantias para os interesses dos médi-

cos e dos pacientes nessa relação.

Ainda de acordo com Edson An-

drade,“existem cerca de 700 operado-

ras de planos de saúde registradas e uma

quantidade incontável de planos clan-

destinos e a ANS responde que todas

estão funcionando em caráter pro-

visório”.

Remuneração médica

Em julho, foi a vez do presidente da

AMB, Eleuses Vieira de Paiva, e do di-

retor de Saúde Pública da entidade,

Samir Dahas Bittar, prestarem decla-

rações à CPI. Eleuses defendeu a necessidade de

regulamentar o setor privado de saúde, pois a legis-

lação em vigor favorece o setor empresarial e não

normatiza a relação das operadoras com os presta-

dores de serviço. Criticou a restrição das operadoras

a alguns procedimentos médicos necessitados pelos

pacientes e apresentou os resultados de pesquisa

realizada pelo Dat aFolha, indicando que 93% dos

médicos afirmam sofrer interferência dos planos de

saúde em seu trabalho; 89% os avaliam como regu-

lares e ruins; e 72% revelam que são pressionados

a não atender pacientes com doenças preexistentes.

Entre as principais queixas da categoria médica

estão a pressão que recebem das operadoras para

dar alta precoce a pacientes, com menor tempo de in-

ternação, e a restrição a pedidos de exames e outros

p rocedimentos mais caro s, além do descredencia-

mento - que é promovido caso o médico não cumpra

as determinações do plano de saúde.

O presidente da AMB também denunciou que

os reajustes concedidos às operadoras de planos de

saúde não foram repassados a médicos e hospitais.

Por isto, sugeriu a criação de uma comissão na

Agência Nacional de Saúde Suplementar para acom-

panhar as discussões de honorários profissionais e o

atendimento integral aos pacientes pelos planos de

saúde.

O diretor de Saúde Pública da AMB, classificou

como “sem precedentes” a crise que at r avessa o se-

tor saúde. A ANS, em sua avaliação, tem respon-

sabilidade com a preservação do equilíbrio do sis-

tema, "o que não vem cumprindo". Nos últimos oito

anos, informou, os médicos não tiveram reajuste nos

valores pagos pelas operadoras dos planos. Ressaltou,

ainda, que atualmente a consulta paga pelos planos

aos médicos credenciados é de 10% do salário-

mínimo, sendo que dos R$ 25 recebidos sobram ape-

nas cerca de R$ 6 ou R$ 7 para o médico, já que arca

com os custos de consultório, empregados, equipa-

mentos, etc.

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MEDICINA

CONSELHO FEDERAL

Nov/Dez/2003

BALANÇO POLÍTICO

CPI dos Planos de Saúde:

relatório final frustra usuários

Edson de Oliveira Andrade, presidente do CFM, em depoimento

à CPI dos Planos de Saúde

Eleuses Paiva, durante depoimento à CPI dos Planos de Saúde

jornal DEZEMBR - PARA SALVADOR 12/29/03 11:56 AM Page 10