mília em diversos lugares do país. O Mais Médicos,
além de contar com profissionais sem a devida avalia-
ção, ainda explora de forma grave a relação trabalhis-
ta, especialmente dos médicos cubanos que vêm para
cá. É incrível como nesse momento em que é propos-
ta uma assistência mais ampla e humana para o nosso
povo, trate-se os cubanos dessa forma.
Como você avalia o ensino médico no país?
O ensino médico tem seus extremos, com escolas
públicas e algumas privadas de excelência, e mui-
tas de má qualidade, formando, consequentemente,
bons profissionais e outros muito insuficientes. Em
relação às novas faculdades, percebe-se um apressa-
mento injustificado, sem a mínima condição de aber-
tura, levando à produção de profissionais malforma-
dos que cometerão erros durante sua atuação, graves
para eles, porém muito mais para a população. Não
é justificável essa abertura apressada, que deveria ser
muito mais programada, de forma a fixar o profissio-
nal em regiões distantes. Isso é uma irresponsabilida-
de, pois existem experiências em vários países com-
provando que não é esse o caminho da boa prática. O
que o governo está buscando são respostas imedia-
tistas, formando profissionais sem qualidade, em ra-
zão principalmente da falta de estrutura dessas facul-
dades que estão sendo abertas. A residência médica
também passa por um caminho parecido. Se a saúde
básica fosse mais estruturada, teríamos mais equilí-
brio no setor, e não a tendência atual de profissionais
que buscam preferencialmente especialidades que
possuem tecnologia envolvida, pela questão da valo-
rização do trabalho. Ainda como resultante do Mais
Médicos, o governo decidiu investir em um aumen-
to considerável no número de vagas, mas queremos
saber quem serão os preceptores desses novos resi-
dentes, já que não existe treinamento e faltam muitos
professores que exerçam horário integral para a for-
mação adequada desses profissionais, pois também a
área acadêmica está muito desvalorizada.
Em sua opinião, como se encontra o associativis-
mo no país?
Embora hoje o médico esteja depressivo, indignado
com tudo o que está acontecendo, sentindo-se desva-
lorizado, supercobrado, tanto pela população como
pela sociedade em seu todo, e descrente da profis-
são, mesmo assim, vemos um grande número de
profissionais que se aglutinam nas Sociedades de
Especialidade, na própria AMB, nas entidades mé-
dicas e em vários movimentos que têm surgido es-
pontaneamente. Nesse momento de crise, é preciso
manter-se unido, associado, trabalhando de forma
alinhada às entidades médicas para tentar resolver
os problemas da saúde no país. Só com a união con-
seguiremos enfrentar momentos e desafios como
esses que se apresentam. Acredito que é por meio
do associativismo que vêm surgindo propostas e so-
luções coerentes e criativas em relação a essa grave
crise. Mas acho que devemos estar atentos a todas
essas manifestações espontâneas que vêm surgindo.
É no momentos de crises que, muitas vezes, surgem
as grandes ideias e ações.
Está otimista com relação ao futuro da medici-
na no Brasil?
Estamos entre as medicinas mais respeitadas do
mundo, só precisamos fazer com que essa medici-
na chegue a todos os brasileiros. Isso só será possí-
vel se houver uma reversão na atual política de saú-
de aplicada no Brasil, que leva a uma prestação de
saúde insuficiente, de baixo nível, incompatível com
o desenvolvimento que a medicina tem tido no país.
Poderia ser ainda melhor caso tivessem sido rever-
tidas questões graves, como financiamento, gestão
responsável, controle da corrupção e valorização de
recursos humanos, tanto na saúde pública como na
suplementar. Soluções e propostas são exemplifica-
das em vários países do mundo, basta apenas segui-
-las. E todas, indistintamente, passam por priorizar
a saúde com financiamento justo, gestão competen-
te e valorização das pessoas que trabalham na área
da saúde, como o melhor caminho para oferta de as-
sistência digna à população. Acho que seria neces-
sário um grande pacto nacional em torno da saúde e
de todas as áreas sociais. Esse poderia ser um gran-
de projeto do país e uma meta a ser debatida nas
próximas eleições. Não é à toa que, embora o bra-
sileiro seja apaixonado por futebol e pela seleção, se
encontre extremamente reativo à Copa. É simples-
mente uma questão de valores. E o Brasil está come-
çando a enxergá-los. Simples assim.
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maio/junho
2014 •
JAMB
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