brasileira segue a legislação cubana e que fo-
ram submetidos ao mesmo cerceamento de
liberdade. Saídas da cidade, visitas e relacio-
namentos deveriam ser relatados e previa-
mente autorizados pelo coordenador cubano
da missão, situado na capital do estado, Belém.
“Para qualquer outro estrangeiro, trabalhar
aqui não resulta em qualquer tipo de proble-
ma. Penso que todos devemos ser iguais, re-
gidos pela mesma lei brasileira”, lamenta Raul.
No único contrato assinado por eles, com
a Comercializadora de Servicios Médicos
Cubanos S.A., algumas cláusulas chegam a
especificar a conduta do profissional. Casos
de gravidez, por exemplo, implicam imedia-
ta deportação. Raul e Okanis também afir-
mam desconhecer qualquer documento com
a Organização Pan-Americana de Saúde
(Opas). “Esse foi o único contrato que assina-
mos, imediatamente antes de embarcarmos”,
conta Vargas. “Foi Ramona que nos abriu os
olhos. Até então, não sabíamos que estáva-
mos sendo discriminados. Eu trabalho igual
aos outros médicos, mas meu salário é muito
inferior ao deles.”
Condições precárias
“De que adianta que estejamos aqui se não há
meios, se não há medicamentos para que tra-
temos nossos pacientes?” A frase, dita por
Vargas, resume a situação enfrentada com
frequência na atuação do cubano no muni-
cípio paraense. “Já cheguei a prescrever re-
médios simples para um paciente pobre, sem
condições, procurar na farmácia. Falta ainda,
na estrutura do Mais Médicos, muito o que
fazer. Fundamentalmente, garantir a oferta
dos medicamentos básicos que nós precisa-
mos para trabalhar nas consultas”, conta.
Revalida
Ao procurarem o auxílio da Associação Mé-
dica Brasileira, por meio do Programa de
Apoio ao Médico Estrangeiro, Okanis e Raul
endossaram o posicionamento da entidade
em relação à importância do exame de re-
validação do diploma médico, para garan-
tir a segurança e o bom atendimento à po-
pulação. Com a intenção de permanecerem
no país, eles garantem que, para médicos de
verdade, isso não deve se tornar um empe-
cilho. “Em qualquer país que se vá, é neces-
sário comprovar sua formação. Não entendo
porque seria diferente no Brasil. Estou dis-
posta a regularizar minha situação. Eu sou
médica, quero trabalhar com medicina aqui”,
afirmou Okanis.
Para o presidente da AMB, Florentino
Cardoso, “a mais nova deserção mostra, mais
uma vez, as fragilidades que existem no pro-
grama Mais Médicos, mal desenhado e mal
concebido, em que falta transparência e que
mostra a exposição a que está sendo subme-
tido o nosso país”. Cardoso reafirmou que as
críticas não são dirigidas aos profissionais es-
trangeiros, mas à forma duvidosa com que a
contratação deles está sendo feita. “Nós preci-
samos de clareza, objetividade e focar no que
é melhor para a população, tratando os médi-
cos que vêm de fora de maneira igualitária.”
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Ana Paula Trevisan
maio/junho
2014 •
JAMB
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