Cirurgião-geral, intensivista e nutrólogo, formou-se pela Unicamp, em 1979. Natural
de Bauru, presidiu a Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas (gestões
1995/1997 e 1997/1999). Foi vice-presidente da Sociedade de Gastroenterologia de
Campinas e do Departamento de Cirurgia da Sociedade de Medicina e Cirurgia de
Campinas. Foi diretor de Defesa Profissional da Associação Paulista de Medicina
(APM) e conselheiro do Conselho Estadual de Saúde e do Cremesp (2003-2008). Foi
vice-presidente da APM na gestão de 2002 a 2005 e presidiu a entidade entre os anos
de 2005 e 2011. O 1º vice-presidente da AMB, que atualmente é médico-assistente
do Departamento de Cirurgia do Trauma da Faculdade de Ciências Médicas da
Unicamp e instrutor de ATLS
®
, concedeu a seguinte entrevista ao
Jamb
.
Qual a avaliação que o senhor faz do momento
atual da saúde no país?
Nós temos na saúde o perfil que reflete o país, ou
seja, um projeto brilhante e avançado, que é o SUS,
com propostas de saúde integral e universal, mas
que, na prática, não acontece, principalmente pelo
deficiente programa de financiamento, que se ar-
rasta desde a Constituição de 1988. Infelizmente,
o governo não conseguiu aprovar o financiamento
mínimo para oferecer uma proposta avançada do
sistema público, o que prejudica a sua gestão, que
é ineficaz. Isso sem contar a corrupção, pela qual
se perde muito dinheiro. Esse conjunto deprime os
prestadores de saúde do SUS, que sabem que têm
nas mãos um projeto moderno e arrojado para a po-
pulação, mas que não conseguem implementar em
sua essência. É necessária uma fiscalização rigoro-
sa que, felizmente, já está surgindo na sociedade por
meio do Ministério Público Federal e, inclusive, da
própria AMB, com a iniciativa do projeto Caixa-
-Preta da Saúde, ao propor a denúncia de casos gra-
ves na saúde.
O SUS promete muito, mas infelizmente não é só o
profissional, médico ou de outro setor, que vai re-
solver a falta de recursos existentes, seja na oferta
de saúde básica ou de maior complexidade. Então,
essencialmente, nós temos hoje uma saúde pública
com má gestão, mas agravada pela falta de recur-
sos. Na área suplementar, a Agência Nacional de
Saúde (ANS) não teve ainda a capacidade e, talvez,
a vontade política necessárias para interceder ple-
namente junto aos planos. Não é aceitável o valor
que muitos planos de saúde cobram dos usuários
sem uma contraoferta de assistência abrangente e efi-
caz, além de graves interferências. E, da mesma forma,
não valorizam os prestadores, pagando valores irrisó-
rios e praticamente inviabilizando, hoje, um consul-
tório. Acho que não devemos ignorar os custos, mas
não podemos entender a saúde como qualquer mer-
cadoria, que pode simplesmente ser incluída em uma
fria mentalidade de economia de escala. Saúde é um
valor muito maior e temos que entender isso e estabe-
lecer diretrizes científicas e éticas para ela. Nesse sen-
tido, a Classificação Brasileira Hierarquizada de Pro-
cedimentos Médicos (CBHPM) e o projeto Diretrizes
da AMB e das entidades médicas são grandes pro-
postas a serem permanentemente atualizadas. Essas
deficiências nos dois sistemas fazem com que hoje a
saúde seja a principal preocupação do brasileiro, que
perambula por prontos-socorros lotados, procurando
assistência. Nós precisamos de uma saúde pública de
qualidade com melhor financiamento e gestão e tam-
bém de um setor suplementar de saúde sério, que res-
peite os seus atores de maneira geral: usuários, hospi-
tais, clínicas, médicos, demais profissionais de saúde e
assim por diante.
O que você pensa do programa Mais Médicos?
O Mais Médicos é uma tentativa descabida de resol-
ver os problemas graves da saúde pública. O gover-
no tenta claramente atribuir sua incapacidade à defi-
ciência de médicos. Não faltam médicos, eles podem
ser escassos em algumas regiões, mas, se esse proble-
ma tivesse sido enfrentado com seriedade anos atrás,
seguramente não viveríamos nessa situação. Pelo con-
trário, teríamos médicos e programas de saúde da fa-
JORGE CARLOS M. CURI –
1º VICE-PRESIDENTE
DA AMB
Entrevista
AMB
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JAMB
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maio/junho
2014