A
oportunidade de cumprir uma
“missão médica” no Brasil é algo al-
mejado por muitos médicos cuba-
nos. Tanto que um dos pré-requi-
sitos para ser convocado é que o
médico já tenha sido enviado previamen-
te a outros países, como Venezuela e Bolívia,
parceiros do regime político da ilha.
O que Raul Vargas e Okanis Borrego não
desconfiavam ao desembarcar no Brasil, no
dia 7 de novembro de 2013, é que a oferta de
bolsa de mil dólares por mês, oferecida a eles
(mil dólares ao mês) seria tão inferior ao valor
de 10 mil reais, anunciado pelo próprio gover-
no, dado aos demais participantes do progra-
ma Mais Médicos de outras nacionalidades.
“Mais discriminação” -
profissionais cubanos
abandonam Mais Médicos,
denunciando graves
irregularidades
Também não imaginavam, com os 400
dólares mensais disponíveis – os outros 600
dólares seriam supostamente depositados
em uma conta cubana, para saque somente
após retorno da missão –, que os custos de
vida no interior do Pará, na cidade Senador
José Porf írio, seriam tão dispendiosos.
O acesso à cidade é dif ícil: é necessário
voar de Belém até Altamira, percorrer um
trecho de carro de 1 hora até Vitória do Xin-
gu, e de lá seguir de barco até o pequeno po-
voado de 13 mil habitantes. Raul e Okanis
moravam em uma casa no município, jun-
to com outros dois intercambistas cubanos,
cumpriam expediente de segunda a sexta em
unidades diferentes de saúde, e, supostamen-
te, deveriam realizar um curso a distância de
especialização em Atenção Primária. “Não
tínhamos sinal de internet, então era mui-
to complicado. Precisávamos ir até a Secre-
tária de Saúde para baixar o material.” A tu-
toria do curso, disponível em
chat
das 19h às
20h às terças-feiras, feita por um profissional
que sequer possuía formação médica, tam-
bém ficava prejudicada.
Leis cubanas em território brasileiro
Assim como Ramona Rodriguez, primei-
ra cubana a desertar do programa Mais Mé-
dicos, Okanis e Raul confirmam que a rotina
Ana Paula Trevisan
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JAMB
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maio/junho
2014