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JORNAL DA

ASSOCIAÇÃO MÉDICA BRASILEIRA • AMB

- JUN/JUL -

2008

4

Entrevista - Walter Albertoni

tas faculdades como hoje, a dispu-

ta no vestibular era muito grande e

o curso de medicina, elitizante. Até

hoje este curso é o mais requisitado

e acaba selecionando os melhores

alunos. Amedicina, apesar de tudo,

ainda atrai. Hoje, temos na Unifesp

uma experiência de inclusão social.

Fomos uma das primeiras a admi-

tir uma porcentagem de afro-des-

cendentes e de descendentes de in-

dígenas vindos de escolas públicas.

Mas em vez de dar uma porcenta-

gem das vagas, criamos mais 10

para não excluir a chance de quem

vinha prestar vestibular normalmen-

te. Pela concorrência que existe, os

que chegam a essas vagas têm qua-

lidade, mesmo vindo de escola pú-

blica. Não há nenhuma disparida-

de em relação ao aluno de inclusão

dentro da EPMe em relação aos 100

que entraramprimeiro. Esses 10 que

entram em seguida ainda estão

muito bem classificados. Em outros

cursos de menor procura isso não é

a regra, porque você acaba captan-

do indivíduos menos preparados.

Como formar um bom médico?

A medicina é uma só, os pacien-

tes são os mesmos e todomédico tem

que estar absolutamente bem prepa-

rado. Sou favorável a que haja um

ranqueamento da qualidade dos cur-

sos de medicina, dos professores, dos

alunos, das instalações, da possibili-

dade de treinamento. É irresponsá-

vel deixar aberta uma faculdade que

não tenha qualidade. Às vezes o in-

divíduo nem tem idéia do que não

sabe, e isso é decorrência do preparo

inadequado dos professores. É uma

irresponsabilidade um indivíduo

desses se manter na área, porque os

erros médicos são incorrigíveis. Eu

pegaria pela raiz, faria realmente

uma avaliação do que se ensina nas

faculdades de medicina, da qualida-

de dos professores, quais são os alu-

nos, porque não adianta querer pe-

nalizar na saída do curso.

Dados apresentados durante o

Simpósio “O Futuro das Escolas

Médicas no Brasil” mostram que

são oferecidas 11.548 vagas para o

primeiro ano da graduação e 7.135

para o primeiro ano de residência

médica. O que fazer com a falta de

vagas na residência, etapa funda-

mental na formação médica?

Não tem falta de vagas para re-

sidência. O que existe é candidato

demais. O país precisa ter médicos

bem treinados e em número neces-

sário e suficiente. Não adianta você

colocar no mercado mais gente.

Agora não é correto corrigir o erro

abrindo mais faculdades, pois cor-

re-se o risco de termos residências

de má qualidade. Hoje há um cui-

dado do próprio MEC em oferecer

um curso de residência adequado.

Se você for começar a credenciar

mais serviços de residência em um

local cujo hospital está em má con-

dições, sem instalações adequadas,

serão mais dois ou três anos na mes-

ma ignorância.

Qual a opinião do corpo docen-

te da EPM sobre o acordo que re-

conhece o diploma de médicos bra-

sileiros formados em Cuba?

Se isso vier como lei federal, não

vai ter o que fazer porque a Unifesp

é uma universidade federal, mas sou

totalmente contrário. Não vejo com

entusiasmo esse negócio de validar

os diplomas obtidos emCuba. Nós,

por exemplo, temos um convênio

com a Universidade do Porto e nos-

so diploma vale lá e na Comunida-

de Européia. Mas isso acontece por-

que a qualidade da nossa universi-

dade foi estudada. Houve também

reuniões do Mercosul, das quais eu

participei, para unificar não só a

parte do ensino como a de residên-

cia médica. Então, teríamos condi-

ção de um médico formado na Ar-

gentina exercer aqui no Brasil e um

do Brasil exercer lá. Quando há

essa reciprocidade com qualidade,

penso ser realmente muito bom.

Enfim, este é um assunto polêmi-

co que nossas associações de classe

e conselhos têm de se posicionar

muito forte.

Mesmo enfrentando tantos pro-

blemas no Brasil, a medicina ainda

é um curso muito disputado (no ves-

tibular de 2008 da Unifesp, a rela-

ção foi de 90,09 candidatos para

cada uma das 110 vagas disponí-

veis). A que se deve isto?

É muito bom ser médico. A

medicina oferece tantas especiali-

dades tão diferentes entre si e tão

interessantes. O que tem a ver o

psiquiatra, por exemplo, com o ci-

rurgião cardíaco? O que tem a ver

um ortopedista com um oftalmo-

logista? Dentro do curso médico

existe muita pouca evasão, porque

o leque de opções é muito grande.

Dificilmente você não vai se en-

quadrar numa área. Hoje tem tan-

ta coisa boa para fazer. O resto é

vocação.