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JORNAL DA

ASSOCIAÇÃO MÉDICA BRASILEIRA • AMB

- JUN/JUL -

2008

editorial

Nos idos de 1950, consolidava-se a educação médica plena na formação de especialistas. Nesse processo, que

tomou as décadas seguintes, organizaram-se, em todo o mundo, as Sociedades de Especialidades Médicas e consagrou-

se a Residência Médica como modelo de especialização.

Implantada no Brasil pelo Decreto nº 80.281, de 5 de setembro de 1977, a Residência Médica tomou corpo graças

primordialmente ao esforço das nossas Sociedades de Especialidade. Foram elas que buscaram, nos melhores progra-

mas europeus e americanos, subsídios para a organização dos conteúdos e formatação didático-pedagógica-assistenci-

al, que constituem a base da formação do médico da atualidade.

A especialização (notadamente a Residência Médica) hoje é parte integrante da formação médica. Não há espaço para

médicos apenas graduados e muito menos para confusão entre esses e os generalistas, sejam eles clínicos (também chamados

internistas) ou cirurgiões gerais. Reconhecidas entre as áreas fundamentais da prática clínica, a clínica geral ou a cirurgia

geral exigem formação especializada e extensa, muito freqüentemente alicerce para outras áreas de especialização.

Assim, a evolução dos sistemas de saúde, privilegiando a qualidade e a otimização de recursos, tem conduzido a

ampliação e aprofundamento dos programas de especialização. Desta forma, especialização, longe de limitar o campo

de atuação, acrescenta novas valências ao médico e prepara-o para o desenvolvimento profissional contínuo, fatores

essenciais para manutenção do desempenho em carreiras que não raramente ultrapassam os 45 anos.

Não há, portanto, como fugir da premissa de que, a bem da saúde, seja priorizado investir na consolidação dos

programas de Residência Médica e, dentro de nossas possibilidades, multiplicá-los. Fazê-lo de sorte a garantir sua

atualidade, pareando-os aos melhores no cenário internacional. Evitar a formação mínima, visto que limita a capacidade

resolutiva, cria interdependência e concentra o médico nos grandes centros.

Faz-se ainda necessário direcionar os médicos bem formados para as áreas de maior necessidade e isso exige duas

providências indissociáveis: criação de carreiras e estruturas assistenciais que privilegiem as áreas estratégicas e para elas

atraiam os melhores profissionais; composição de quadros qualificados de instrutores, que

possam dinamizar os programas de residência, naturalmente priorizados na alocação

das bolsas correspondentes.

Entre os muitos vícios que hoje ameaçam a formação especializada, salien-

tam-se a falta de unidades do Sistema Único de Saúde capazes de absorver

médicos residentes; o excesso de graduados emmedicina e o estado lastimável

a que foi reduzida a graduação médica; e a total ausência de carreira pública

na medicina. Acrescente-se a estas calamidades o credenciamento de progra-

mas de residência com a única finalidade de suprir mão-de-obra ou credenci-

ar especialidades inexistentes, privilegiando as ditas residências “multiprofis-

sionais” e outras “inovações” dissociadas da evolução da medicina.

Como reunir instrutores qualificados em instituições assistenciais de exce-

lência? Sem instrutores e estruturas assistenciais de qualidade não há Residên-

cia Médica. Onde encontrá-los no SUS?

Como direcionar bons médicos para os programas prioritários? Semperspectiva de

carreira pública, os melhores médicos voltar-se-ão para a medicina privada.

Não lhes é dada alternativa.

Há muito não buscam, os que se candidatam à profissão médica, su-

cesso financeiro ou social. Tirante as poucas honrosas exceções, é a voca-

ção e o amor ao próximo que nos orientam para a medicina; mas a gestão

de recursos humanos conspira contra a vocação e o amor ao próximo.

A sociedade brasileira quer médicos no SUS.

Os médicos querem um lugar digno no SUS.

Exigem-no, sociedade e médicos.

Como médicos.

Especialização e ResidênciaMédica

José Luiz Gomes do Amaral

Presidente da AMB