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JULHO/AGOSTO 2010

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MENSAGEM DO

PRESIDENTE

José Luiz Gomes do Amaral

Presidente da Associação

Médica Brasileira

Há estimativas de que, no

mundo, faltem hoje milhões de

profissionais de saúde. Essa é a

trágica realidade das populações

de países pobres e ricos. Realida-

de compreensível, mas inaceitá-

vel nos países pobres; igualmente

inaceitável, mas incompreensível

em países desenvolvidos.

Como aceitar que, em um

Brasil, proclamado emergente e

dito autos-suficiente, deixe cente-

nas de municípios e milhares de

brasileiros desassistidos, dispondo

de mais de 340 mil médicos e 170

mil enfermeiros em atividade?

Coexistem, de fato, e emmuitos

países, excesso de profissionais de

saúde em algumas áreas – as mais

desenvolvidas – e absoluta escas-

sez em outras – as esquecidas por

seus governantes.

As razões para a distribui-

ção iníqua de profissionais de

saúde são muitas, complexas às

vezes, e interdependentes sempre.

Incluem-se aqui riscos ocupacio-

nais, violência física e psicológica,

sobrecarga de trabalho, remune-

ração insuficiente, oportunidades

limitadas de desenvolvimento na

carreira. Predomina nesse contex-

to a péssima qualidade do ambien-

te de trabalho, prejudicando o

desempenho e afastando dele os

profissionais.

Esse é, sem dúvida, um dos

mais graves problemas de saúde

do mundo de hoje.

É necessário transformar o

ambiente de trabalho, de sorte a

atrair e fixar aqueles que traba-

lham com saúde, melhorando a

satisfação e o resultado da assis-

tência às pessoas.

Quais são as intervenções

necessárias para qualificar positi-

vamente o ambiente de trabalho?

1 – Reconhecimento profis-

sional. É essencial reconhecer

as competências das diferentes

profissões, dar-lhes autonomia e

autocontrole verdadeiros, premiar

pelo envolvimento e desempenho,

monitorar a satisfação dos traba-

lhadores.

2 – Gerenciamento de Recur-

sos Humanos. Tem-se aqui que

garantir oportunidades iguais e

tratamento apropriado, compen-

sação adequada, efetivo gerencia-

mento do desempenho, benefícios

reais e expressivos, envolver os

profissionais no planejamento e

na tomada de decisões, estimular

a comunicação e o trabalho em

equipe, incentivar uma cultura

de confiança recíproca e respei-

to entre as pessoas, adotar polí-

ticas que estimulem o registro de

falhas, definir as responsabilida-

des de cada um dos envolvidos.

3 – Estruturas de apoio. Falta

investir no ambiente de traba-

lho, fortalecer as relações entre os

seus integrantes, fornecer equi-

pamentos e suprimentos adequa-

dos, envolver os profissionais em

processos de avaliação contínua,

promover equilíbrio sadio entre

vida e trabalho, assegurar que a

prática se faça dentro de um códi-

go de ética claro e bem estabeleci-

do, divulgar e estimular padrões

de boas práticas, revisar o escopo

da prática e as competências de

cada um. Em suma, oferecer opor-

tunidades para o desenvolvimento

profissional.

Surpreende que, apesar do

acúmulo de evidências nesse

campo, as autoridades encarrega-

das de geri-lo continuem a ignorar

as soluções e insistam em propos-

tas vazias, gastando precioso

tempo, energia e dinheiro público

tentando legitimá-las. Vem deles

apenas programas desgastados

como a importação de profissio-

nais do exterior, serviço social

obrigatório, descaracterização do

escopo das profissões e transfe-

rência de responsabilidades sem

correspondente qualificação, farta

distribuição de diplomas tentan-

do distribuir profissionais por

transbordamento, limitando as

alternativas sorte a tangê-los ao

que julgam ser a prioridade do

momento.

A lista de despautérios é longa

e, infelizmente, não se limita às

brevemente citadas acima.

Até quando nos deixaremos

assim mal conduzir?

Até quando nossa socieda-

de tolerará falta de seriedade e

competência no trato de assuntos

que lhe dizem tão de perto?

A qualificação do ambiente

de trabalho

Maria Goretti David Lopes

Presidente da Associação

Brasileira de Enfermagem