Background Image
Table of Contents Table of Contents
Previous Page  4 / 35 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 4 / 35 Next Page
Page Background

J O R N A L D A

A S S O C I A Ç Ã O M É D I C A B R A S I L E I R A • AMB

- JAN/ FEV -

2 0 0 8

4

Entrevista - Darcísio Perondi

programa. O governo então poderia

reduzir um pouco o uso do superávit

primário e usar R$10 bilhões esse ano

em caráter emergencial para a saúde.

Isso o Governo poderia fazer já.

Qual a sua opinião sobre o

orçamento destinado à Saúde para o

ano de 2008 (por volta de 53 bilhões)?

Nós fechamos o ano de 2007 sem

definir uma fonte clara, definitiva e

suficiente para o orçamento da saúde.

Essa é minha dor, porque o Governo

atropelou e não deixou votar a regu-

lamentação da EC 29 como queríamos.

De outro lado, nós perdemos a CPMF

no Senado. Na última hora o presi-

dente Lula mandou um documento

assinado por ele oferecendo toda a

CPMF para saúde, não como fonte

substitutiva. Funcionava assim: de

cada R$ 100 da CPMF, R$ 40 eram da

saúde. Os outros R$ 60 ficavam para

previdência, fundo de pobreza e para

o tesouro. Na ocasião, o governo

ofereceu R$ 80 dos R$ 100 para a

saúde, o que daria para o ano que vem

mais R$ 14 bilhões. Tenho dito assim:

naquela noite da derrota da CPMF, sob

o ponto de vista da saúde, estávamos

a um metro do paraíso e a um metro

do inferno. Agora ficamos mais

próximos do inferno.

O Sr. acha que o Programa de

Aceleração do Crescimento (PAC) da

Saúde funcionará sem a CPMF?

O PAC é um interativo moral do

Presidente da República. Ele admi-

tiu a gravidade da saúde com um

documento encaminhando a nós.

Seus próprios líderes, agora, estão

admitindo a crise. O líder do gover-

no na Câmara admitiu no

Correio

Brasiliense

do dia 14 de janeiro

a gravidade da crise. O Governo

tem que manter o PAC. Se ele tomar

essa decisão de mexer no superávit

primário e negociar conosco, movi-

mento nacional da saúde, ele mantém

o PAC. Aí nós salvamos, médicos,

enfermeiros, dentistas e as pessoas que

vão morrer pela crise do SUS. O

mecanismo o governo tem, e nós

estamos sugerindo o uso disso. O

governo está liberando neste ano

para o BNDES R$ 12 bilhões, que

vão sair pelo Tesouro Nacional, para

dar a grupos empresariais comprarem

a Brasil Telecom. Quer dizer: tem

esse recurso excepcional para o

BNDES e não tem dinheiro excep-

cional para enfrentar a pior crise do

SUS de todos os tempos?

O senhor tem acompanhado as

freqüentes manifestações dos médicos

que trabalham na rede de saúde

pública do Nordeste e o movimento

lançado no dia 21 de novembro em

defesa do SUS?

Eu apoio estes movimentos comple-

tamente. Émais do que necessário fazer

isso. A crise é tão grave que se nós

não levantarmos o país como um todo,

nós não vamos enfrentar essa crise do

financiamento. Esse movimento em

defesa do SUS é ótimo, precisa se

estender para todas as áreas da saúde

e ganhar mais força em 2008. Se for

preciso paralisação, ela deve ser feita.

É duro fazê-la, mas eu não sei se nós

não vamos precisar recorrer a ela ao

longo desse ano na rede pública, na

área filantrópica, na área privada e

na contratada. A coragem dos médi-

cos do Nordeste precisa se espelhar

para todo o país com muita força.

Nós médicos desconhecemos a força

que temos.

Em janeiro, o Brasil assinou um

acordo com o governo cubano que

facilita a validação automática

dos diplomas de médicos brasileiros

formados em Cuba. O que o senhor

pensa a respeito?

Eu sou contra. Os médicos,

nossos colegas que se formam em

Cuba, têm que passar por todo o

processo de revalidação de diploma

como qualquer outro profissional

que se forma em qualquer outro

país. Além disso, a formação em

Cuba é questionável. O governo não

pode dar prioridade, em hipótese

alguma, nem para Cuba nem para

qualquer outro país. Eu não concor-

do nem como parlamentar nem

como médico. Esta é minha opinião

e a da Frente. Nós fechamos com a

AMB e com o CFM.

Qual a sua opinião sobre a

CBHPM, cujo projeto que a referen-

cia já foi aprovado na Câmara e

tramita agora no Senado?

Mesmo sem ser aprovada, a

CBHPM já está fazendo alguns efeitos

positivos. Algumas operadoras já

melhoraram. Agora precisa sair. Nós

temos até metade do ano. É possível

que seja votado.

A FPS tem se mobilizado contra a

abertura indiscriminada de escolas

médicas?

Sim. A Frente fecha com o pensa-

mento da AMB e do CFM. Precisa

reavaliar a qualidade de ensino nas

faculdades existentes, em especial as

abertas recentemente, com a possi-

bilidade de fechamento. Tem de fazer

uma peneira, uma barreira forte. Por

exemplo, uma faculdade de medicina

no Acre. Lá precisa de médico, mas

tem professores no Acre? O governo

precisa de uma fórmula forte de

remunerar não só o médico, o farma-

cêutico, o bioquímico para sua interio-

rização e não passa pelo PSF, é uma

outra fórmula para interiozar o

médico nas regiões onde não existe.

Não passa só com ida do médico,

passa por hospital, laboratório, apoio

técnico e financeiro.

O que o levou a abandonar uma

carreira de quase 20 anos como

médico pediatra para se filiar a um

partido político (PMDB) em 1993?

Eu saí da enfermaria e do consul-

tório direto para Brasília. Desde o

tempo da escola eu tinha uma veia

para atividade política. No Rio

Grande do Sul, meu estado natal, me

envolvi num trabalho comunitário

numa Santa Casa que ganhou proje-

ção regional. Aí fiquei com vontade

de ajudar o Brasil na área política e

convencido de que não tem outro

instrumento no país para se mudar

uma realidade que não o instrumento

político, porque tudo passa por leis

e por decisões governamentais.

Juntando esses fatores, resolvi me

filiar ao PMDB e atualmente estou no

meu quarto mandato. Estou contente

e me sentindo útil.