Background Image
Table of Contents Table of Contents
Previous Page  3 / 35 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 3 / 35 Next Page
Page Background

3

J O R N A L D A

A S S OC I A Ç ÃO MÉ D I C A B R A S I L E I R A • AMB

- JAN/ FEV -

2 0 0 8

Entrevista - Darcísio Perondi

Filiado ao PMDB desde 1993, o

deputado federal Darcísio Perondi

graduou-se em Medicina no ano de

1974, no Rio Grande do Sul, e concluiu

a pós-graduação em Puericultura e

Pediatria, em 1976. Atualmente, ele é

presidente da Frente Parlamentar

da Saúde, substituindo o deputado

federal Rafael Guerra. Nesta entre-

vista ao Jamb, Perondi, que está em

seu quarto mandato na Câmara dos

Deputados, fala sobre o futuro do

orçamento destinado à Saúde com o

fim da CPMF e a desfiguração da

regulamentação da EC 29.

Como tem sido o seu trabalho na

presidência da Frente Parlamentar da

Saúde (FPS), substituindo o deputado

Rafael Guerra?

A Frente Parlamentar da Saúde é

uma das mais fortes. São mais de 200

parlamentares que lideram a luta da

saúde com muita força e interagem

fortemente com todo o Parlamento e

com toda a sociedade brasileira, tanto

prestador como usuário, governo,

cientistas. É uma atividade muito

enriquecedora. O ano passado foi forte,

pois conseguimos agrupar mais parla-

mentares, focamos na regulamentação

da Emenda Constitucional (EC) 29, e

trabalhamos para que a imprensa

nacional noticiasse a grave crise da

saúdemostrando que o setor não precisa

só de recursos mas também de gestão

eficiente. Este foi um grande avanço

porque se a imprensa não mostra, o

poder legislativo não se mexe. Frente

a isso, conseguimos R$ 1 bilhão para

reajustar a tabela do SUS depois

daquela procissão feita em Brasília, em

que o símbolo maior foi a figura do

Dr. José Luiz, presidente da AMB, de

muletas.

Como a FPS se posicionou nos dias

que antecederam a votação da regula-

mentação da Emenda Constitucional

29 na Câmara?

A regulamentação da EC 29 foi

desfigurada. Por um lado, ficou claro

o que são as ações e serviços de saúde,

ou seja, uma cirurgia, uma consulta,

uma internação; não é calçamento nem

pagamento de aposentados. Isto foi

uma vitória e não vão mais poder

desviar verba. Porém, no último dia

da votação, o governo se reuniu com

os ministros Guido Mantega e Paulo

Bernardo e decidiu enquadrar a base

aliada e os presidentes da Câmara,

Arlindo Chinaglia, e do Senado à

época, Tião Viana. A votação não foi

modificadora porque nós ficamos

atrelados ao PIB nominal, que é um

indicador insuficiente para consertar

o orçamento federal. Foi tudo organi-

zado, foi uma traição do governo em

relação à discussão de quatro anos.

E agora que o projeto tramita no

Senado, vocês estão pedindo alterações

no texto?

O que está no Senado está preju-

dicado. Pela regulamentação, o

orçamento seria formado pela varia-

ção do PIB nominal mais R$ 24

bilhões da CPMF, repartidos ao longo

de quatro anos, o que mesmo assim

seria absolutamente insuficiente. Como

não teremos mais este dinheiro vindo

da CPMF, estamos brigando no Sena-

do para que seja votado o substitutivo

do senador Augusto Botelho (PT-RR)

ao PLS 121/2007, do senador Tião

Viana (PT-SP), que propõe 10% da

receita bruta corrente escalonada em

quatro anos para a saúde, começando

com 8,5%. Não queremos mais o

projeto da Câmara porque não é mais

aquele que o movimento nacional da

saúde discutiu por quatro anos. Com

este do Botelho, nós chegaríamos ao

final de quatro anos com orçamento

de mais R$ 70 bilhões. Isso sim seria

maravilhoso. Percebemos que ao longo

de dois anos a receita do governo

disparou e o PIB não. Como vincu-

lamos ao PIB, não conseguiremos

crescer. A fonte clara, definitiva e

suficiente é a receita corrente bruta

proposta por Augusto Botelho. É por

ela que vamos lutar.

O senhor era favorável à prorro-

gação da CPMF. Por quê? O imposto

era fundamental para a saúde ou esta

opinião se deve ao fato de a origem

dos R$ 24 bilhões ser a CPMF?

Eu lutei pela CPMF até a última

hora porque era a principal fonte da

saúde. Do ponto de vista econômico,

não era uma boa contribuição para o

país, mas para a saúde era. No ano

passado, este imposto ajudou com

R$ 14 bilhões e significava 40% do

dinheiro da saúde. Eu defendia porque

as fontes eram insuficientes e nós íamos

perder a principal. Agora, líderes da

base aliada têm defendido a volta da

CPMF com alíquota de 0,20% volta-

da integralmente para a saúde, o que

ainda não resolve. Eu penso que a

CPMF teria que ser um acréscimo ao

piso constitucional do orçamento e não

uma fonte para o piso. Eu não aceito

uma nova CPMF se não for um acrésci-

mo ao piso. Aí sim, 0,20% vai nos dar

mais R$ 16 bilhões. Mesmo assim

seria uma fonte provisória. Se houver

uma nova fonte, que ela seja acrésci-

mo ao piso, e não substitutiva. Nós

precisamos de uma fonte definitiva,

definida e suficiente, que a meu enten-

der poderia vir da receita corrente

bruta. Até existe em nível nacional um

movimento liderado pelos sanitaristas

Gilson Carvalho e Nelson Santos, que

a Frente Parlamentar está apoiando,

que é pela receita corrente bruta. Mas

não me importa de onde vem esse

dinheiro. Essa é uma decisão política

que o governo tem que tomar, senão

a crise na saúde vai aumentar e vai

estourar no colo do presidente. Por

outro lado, tem uma alternativa

orçamentária: é um projeto interno do

governo chamado Programa Piloto

Integrado (PPI), ou seja, é um manejo

orçamentário em que o governo

pode tirar uma parte do dinheiro do

superávit primário e aplicar em algum