JAMB
JANEIRO/FEVEREIRO DE 2004
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Movimento Nordestino cresce e ganha força
eunido no dia 13 de feverei-
ro na sede do Conselho
Regional de Medicina, em
Recife, o “Movimento Nordestino”,
mobilização pela implantação da
CBHPM, decidiu suspender, a partir
de março, o atendimento aos usuários
dos planos de saúde Bradesco e Sul
América (outras decisões no quadro
ao lado).
Participaram do encontro os di-
retores da AMB, Lúcio Prado Dias
e Eduardo Vaz, membros da Co-
missão Nacional de Mobilização da
CBHPM, além dos diretores das
entidades que integram o movi-
mento: Piauí, Maranhão, Ceará,
Rio Grande do Norte, Paraíba,
Alagoas, Sergipe, Bahia e ainda
lideranças médicas pernambucanas.
Desde que foi criado, em 21 de
janeiro, em assembléia realizada em
Recife, o movimento vem crescendo,
ganhando força e já conta com cam-
panha publicitária (acima).
“O Brasil é um país com dimen-
sões continentais. Se quisermos uma
mudança em nível nacional, teremos
que nos unir”, resume o presidente da
Associação Baiana de Medicina,
UNIDAS: implantação da CBHPM em abril
José Carlos Brito, um dos incentiva-
dores da união nordestina.
A Bahia já definiu a data de
paralização: se até 15 de março não
houver nenhuma manifestação
favorável à implantação da CBHPM,
haverá suspensão no atendimento, ga-
rante Brito. Em Maceió os médicos
já tiveram um reunião favorável com
a Unidas e também com a Sul Amé-
rica, que ainda não se posicionou. Já
a operadora Bradesco não compare-
ceu à reunião. “Vamos aguardar e
quem não implantar os valores da
CBHPM terá o atendimento suspen-
so. Não significa suspender o atendi-
mento por completo, mas vamos ter
de cobrar do paciente os valores pela
classificação atual”, informou o pre-
sidente da Sociedade de Medicina de
Alagoas, o médico Cléber Oliveira.
“No Ceará enviamos correspondên-
cias aos planos solicitando um
posicionamento de quando e em qual
banda a CBHPM será implantada.
Depois levaremos as posições à as-
sembléia geral para as decisões”, in-
forma o presidente do Centro Médi-
co Cearense, Florentino Cardoso.
Na Paraíba e no Rio Grande do
Norte o movimento conta com o
apoio de uma resolução do Conselho
Regional de Medicina, estabelecen-
do que as relações entre médicos e
convênios devem ser norteadas pela
CBHPM. Os médicos do Rio Grande
do Norte receberam da Unimed a pro-
messa de aceitação da CBHPM e já
em março o valor da consulta passa a
R$ 33,60, sendo que para os demais
procedimentos foi concedido um pra-
zo maior para implantação. Quatro
planos – Amil, Apivida, Smile, Saú-
de Excelsior – fizeram propostas
abaixo da CBHPM e novas reuniões
serão realizadas para um acordo.
Em Sergipe, a Unimed se compro-
meteu, em reunião marcada para o dia
17 de fevereiro, a apresentar um
cronograma para implantação da
CBHPM. “Suspendemos o atendi-
mento aos planos Sul América,
Golden Cross, Plamed e Amic Nor-
deste, pois estes se recusaram a ne-
gociar conosco”, salienta Roberto
Queiroz, presidente da Sociedade de
Medicina de Sergipe. Embora tenha
promessas positivas dos planos de
saúde, no Maranhão também está
definida a data de 9 de março para
uma paralisação coletiva, caso não
haja acordo em relação à CBHPM.
As Sociedades de Especialidade
também se movimentam pela implan-
tação, caso da Sociedade Brasileira de
Ortopedia e Traumatologia, que dis-
tribuiu circular de umTermo de Com-
promisso a ser assinado por médicos
de todas as categorias se comprome-
tendo em não mais atender fora dos
valores estabelecidos pela CBHPM.
A UNIDAS - União Nacional das
Instituições de Autogestão em Saúde é a
primeira entidade nacional a aceitar a
CBHPM. Em ofício encaminhado à
AMB, a entidade se compromete a
implantar o novo referencial de honorá-
rios médicos a partir de abril.
A diretoria da UNIDAS, inclusive,
já encaminhou comunicado às suas
Superintendências Estaduais para que
promovam, junto às filiadas de suas ju-
risdições, os acordos necessários com
as entidades médicas visando a utiliza-
ção da CBHPM. O presidente da Uni-
das, JoséAntonio Diniz de Oliveira, ex-
plica na entrevista a seguir o que levou
a Unidas a aceitar a CBHPM.
Jamb
-
A partir de quando a UNIDAS
passa a aceitar a CBHPM? Qual banda
será utilizada? O acordo envolve todos
os procedimentos?
Dr. Diniz -
A UNIDAS foi a primeira en-
tidade representativa de planos de saúde
que se dispôs a discutir com a AMB a im-
plantação da Classificação Hierar-
quizada. Esse gesto, no entanto, veio se-
guido de uma série de considerações, in-
clusive com relação ao prazo de implan-
tação. Em documento que encaminhamos
em novembro à AMB, argumentávamos
que seis meses seriam o tempo mínimo ne-
cessário para a implantação, já que ela
dependia da concordância técnica da nos-
sa consultoria médica, da adaptação dos
sistemas informatizados e da própria acei-
tação do mercado, inclusive o hospitalar,
que intermedeia o pagamento de honorá-
rios médicos em muitos casos. Na discus-
são com a AMB temos
enfatizado que a UNIDAS
não negocia nacional-
mente, já que os preços
diversificados␣
pagos
aos honorários e as di-
ferentes realidades pe-
dem uma negociação
regional, ainda que sob
orientação␣
e diretrizes
emitidas pela UNIDAS
Nacional. No entanto, os
estudos de impacto indicam
que os patamares iniciais␣
de
negociação devem considerar um
deflator de 25% nos honorários e de 30%
na UCO. Outra condição definida pela
UNIDAS é que a discussão da CBHPM,
neste primeiro momento, estará circuns-
crita aos eventos do Rol de Procedimen-
tos previstos pela lei 9656/98 e regulamen-
tado pela ANS.
Jamb
-
Qual é o valor da consulta a ser
pago pela UNIDAS?
Dr. Diniz
-
A consulta médica é um dos
itens da CBHPM e deverá acompanhar
as negociações regionais. Hoje, a remu-
neração paga por nossas filiadas varia
(dependendo do Estado da Federa-
ção)␣
de R$ 22,60 a R$ 36,00. De uma
maneira geral, são os maiores valores
de remuneração de consulta pagos pelo
mercado. Sempre que possível vamos
valorizar a consulta médica, que consi-
deramos um dos momentos mais impor-
tantes da Medicina, já que representa o
encontro do médico com seu paciente,
de cujo contato vai␣
resultar␣
todo o des-
dobramento do tratamento
das patologias. Queremos
valorizar esse momento
em que entra em cena o
saber médico,␣
o ouvir o
paciente, o exame clí-
nico, a arte da Medici-
na enfim. A consulta
tem que ser valorizada,
mas essa valorização
tem que vir acom-
panhada do compromis-
so com o␣
uso racional
das tecnologias, entre outros
aspectos.␣
Jamb -
Quantos médicos/empresas/usuá-
rios envolve a Unidas?
Dr. Diniz -
A UNIDAS congrega 150
filiadas que respondem pela assistên-
cia de 5,5 milhões de beneficiários.
Além de médicos do quadro próprio, es-
timamos que o número de credenciados
seja superior a 80 mil clínicos gerais e
especialistas
.
Jamb -
Este trabalho teve a participação
de instituições econômicas. Isso garantiu
credibilidade ao seu resultado?
Dr. Diniz -
Não há dúvida de que a parti-
cipação da FIPE emprestou credibilidade
ao trabalho, mas a atuação das Socieda-
des de Especialidade foi tão importante
quanto, em nossa avaliação, porque sa-
bemos que o projeto provocou intenso
debate␣
até obter␣
a mais adequada hierar-
quização dos procedimentos, tarefa difí-
cil que deve ter exigido a renúncia a vi-
sões corporativistas em prol dos argumen-
tos técnicos e do conjunto da obra.
Jamb -
Há certa resistência, especial-
mente pelas empresas de medicina de
grupo, em aceitar a CBHPM. Qual ou
quais motivos levaram a Unidas a acei-
tar a CBHPM?
Dr. Diniz -
Não posso responder pelas em-
presas de medicina de grupo, cujo univer-
so é muito diferente do das entidades de
autogestão. No nosso caso, não se trata
apenas de aceitar a CBHPM. Há tempos
vimos propondo ao Ministério da Saúde a
definição de uma estrutura de tabela e de
codificação comuns ao setor público e pri-
vado. Hoje, o mercado opera com pelo me-
nos oito tipo de tabelas diferentes e isso
provoca toda sorte de embaraços, seja
para conectividade entre sistemas, seja
para obter informações gerenciais, finan-
ceiras e epidemiológicas. Ao reconhecer a
sua fundamentação técnica e científica, a
UNIDAS vislumbra na CBHPM essa pos-
sibilidade de unificar o conceito e de certa
forma padronizar a concepção dos pro-
cedimentos médicos.
Jamb -
Que conselho daria a essas em-
presas que ainda relutam em aceitar a
CBHPM?
Dr. Diniz
-
A adoção da CBHPM não de-
pende apenas de vontade política. Penso
que as entidades médicas devem ouvir as
razões das empresas que “relutam em
aceitar” a Classificação, conhecer suas
dificuldades e mesmo impossibilidades
conjunturais. Não seríamos nós da UNI-
DAS, que apenas nos apresentamos pri-
meiro para a discussão da implantação
da CBHPM, com todo o preço que
estamos pagando por isso, que teríamos
mensagem a repassar às empresas men-
cionadas nesta pergunta. Pelo contrário,
vivemos a expectativa de conhecer o com-
portamento dos demais segmentos do
mercado, que certamente estão tendo tan-
ta dificuldade – operacional, orçamen-
tária e política – quanto nós.
Jamb -
O Sr. teria algo mais a acres-
centar?
Dr. Diniz
-
Quero dizer que a questão
da remuneração médica é um problema
que precisa ser enfrentado, mas que não
está dissociado da situação de emprego
e salário igualmente vivenciada pelos
trabalhadores que financiam o sistema
de autogestão, que – diferentemente dos
demais segmentos – não possui objetivo
de lucro. Não é um problema divorcia-
do também dos aspectos do mercado da
saúde relacionados à excessiva utiliza-
ção dos aparatos tecnológicos, da desi-
gualdade de acesso e ao fato de na área
a oferta determinar a demanda, para
citar alguns dos fenômenos que pressio-
nam os custos assistenciais. Nem por
isso, fugiremos ao debate e não deixa-
remos de admitir a necessidade de revi-
são dos valores dos honorários médicos,
que deverão no entanto respeitar a ca-
pacidade das operadoras de planos e de
seus financiadores. Por fim, agradeço o
espaço aberto pelo Jamb e ficamos à dis-
posição, através do nosso e-mail
jadiniz@uol.com.br, para discussão não
apenas da CBHPM, mas de outros temas
que possam aprimorar a relação entre
as empresas de autogestão, os médicos
e suas entidades representativas.
Resoluções do Movimento Nordestino
1
Todos os Estados do Nordeste deverão suspender obrigatoriamente e
por tempo indeterminado os atendimentos aos usuários do Bradesco
Saúde e Sul América a partir de março, em data a ser definida. ABahia,
que começa a paralisação no dia 15 e Sergipe, dia 11, foram os primei-
ros Estados que já marcaram data. Ficará a critério de cada Estado
estender a paralisação a outros convênios locais.
2
Não aceitar, em nenhuma hipótese, proposta de qualquer operadora,
com banda inferior a 20%.
3
A Comissão Nacional de Mobilização, após consulta às assessorias
jurídicas da AMB e CFM, definirá as normas de conduta no que tange
à paralisação, buscando minimizar as ações jurídicas que por certo
serão encetadas contra os médicos.
4
Cada Estado deverá solicitar de sua Unimed uma posição oficial a
respeito da adoção da CBHPM, se possível com data prevista para a
suas implantação.
5
Ficou definido também que todos os CRMs dos Estados nordestinos
deverão enviar correspondência aos médicos com a resolução do
CFM que considera a CBHPM como referencial para pagamento de
honorários de procedimentos médicos.
6
Qualquer acordo fechado em algum Estado deverá ser comunicado aos
demais imediatamente.
7
Que os contratos a serem firmados entre prestadores, médicos e
operadoras de planos e seguros só sejam enviados às operadoras após
homologação pelas comissões de honorários.
8
Ficou marcada a data da próxima reunião do grupo nordestino para o
dia 26 de março de 2004, em Recife, sede oficial do movimento.
9
Por solicitação das entidades médicas nordestinas, a Comissão de
Mobilização deverá intervir no sentido de agilizar a remessa de todo e
qualquer material publicitário referente ao Dia da Mobilização,
marcado para 9 de março, se possível com a agência de publicidade
liberando a marca para cada Estado conseguir apoios.
10
As entidades médicas nordestinas deverão recomendar aos
seus associados que não adquiram produtos, tais como seguros de
automóveis e outros, das seguradoras Sul América e Bradesco.