JAMB
JANEIRO/FEVEREIRO DE 2004
2
DIRETORIA
P
RESIDENTE
Eleuses Vieira de Paiva
P
RIMEIRO
V
ICE
-P
RESIDENTE
Lincoln Marcelo Silveira Freire
Águas de março
natal, o revéillon, as férias, o carnaval, o ano seguinte
somente se inicia em março, e nada melhor que uma boa
enxurrada para varrer as cinzas do ano anterior e começar vida
nova. Nada melhor que as refrescantes águas de março para enfrentar
mais um ano de luta
A música de Tom Jobim (1972), cantada na voz Elis Regina –
inesquecíveis, autor e cantora – tem um refrão que pode ser o lema do
movimento pela implantação
da
Classificação Brasileira
Hierarquizada de Procedimentos Médicos.
Com remuneração aviltante, multiemprego e sem direito a
férias, o verão cantado por Elis já não faz parte do calendário do mé-
dico. Apenas trabalho e mais trabalho. O descanso merecido, o almoço
em família - tão raro no cotidiano -, o passeio, o sorvete, momentos que
compensam as longas ausências, são coisas do passado. “É o fundo do
poço, é o fim do caminho. No rosto o desgosto, é um pouco sozinho”.
A classe médica está nacionalmente mobilizada pela implantação da
CBHPM. A tentativa de entendimento, o diálogo civilizado, aberto e,
sobretudo, ético com as operadoras de planos de saúde foi sempre
perseguido pela AMB e suas Federadas. Entretanto, decorridos seis
meses do seu lançamento, exceto a UNIDAS (União Nacional de Insti-
tuições de Autogestão em Saúde) que se comprometeu em implantar a
CBHPM - com uma proposta inicial de valores abaixo da banda
mínima da Classificação - com os demais planos de saúde, até agora,
nada de concreto. “É a chuva chovendo, é conversa ribeira”.
Paciência tem limite. A classe médica está sufocada e tem pressa.
O movimento pela implantação da CBHPM entra numa fase decisiva e,
se não dermos uma demonstração de sua força, fica desacreditado. Os
médicos nordestinos pensaram assim, e decidiram ir à luta unidos. Em
reunião histórica, realizada no dia 9 de janeiro na sede do
Conselho Regional de Medicina de Pernambuco, com a participação de
Sindicatos, Associações Médicas e Conselhos Regionais de Medicina,
decidimos realizar assembléias em todos os Estados para referendar
as seguintes propostas: 1. Não aceitar, para início de negociação,
nenhuma proposta com valores abaixo da banda mínima da CBHPM.
2. Paralisar, por tempo indeterminado, o atendimento das seguradoras,
Sul América e Saúde Bradesco e outros planos - respeitando a caracte-
rística de cada Estado -, caso não haja nenhuma proposta concreta para
implantação da CBHPM. 3. Mês da paralisação:
março.
Uma enxurrada varrerá o ceticismo e a desesperança da região.
“São as águas de março fechando o verão. É a promessa de vida no teu
coração. É pau, é pedra, é o fim do caminho”.
José Carlos Brito
Presidente da Associação Bahiana de Medicina
EDITORIAL
S
EGUNDO
V
ICE
-P
RESIDENTE
Ronaldo da Rocha Loures Bueno
V
ICE
-P
RESIDENTES
Remaclo Fischer Junior, Flavio Link Pabst,
Ranon Domingues da Costa, Ricardo Saad,
Carlos D.A. Bichara, David M. Cardoso Filho,
Lúcio Antonio Prado Dias, José Guerra Lages,
J. Samuel Kierszenbaum, José Luiz G. doAmaral.
S
ECRETÁRIO
-G
ERAL
Edmund Chada Baracat
1º S
ECRETÁRIO
Aldemir Humberto Soares
1º T
ESOUREIRO
Amilcar Martins Giron
2º T
ESOUREIRO
:
José Alexandre de Souza Sittart
D
IRETORES
:
Cultural
- Severino Dantas Filho;
Relações Internacionais
- David
Miguel Cardoso Filho;
Científico
-
Fabio Biscegli Jatene;
Defesa
Profissional
- Eduardo da Silva Vaz;
DAP
- Martinho Alexandre R.A. da
Silva;
Economia Médica
- Marcos
Pereira de Ávila ;
Marketing
- Roque
Salvador A. e Silva;
Saúde Pública
-
Samir Dahas Bittar;
Atendimento ao
Associado
- Ricardo de Oliveira Bessa;
Proteção ao Paciente
- Jurandir M.R.
Filho;
Acadêmico
- Elias F. Miziara;
Jamb
- Horácio José Ramalho.
D
IRETOR
R
ESPONSÁVEL
Horácio José Ramalho
E
DITOR
E
XECUTIVO
César Teixeira (Mtb 12.315)
C
OLABORAÇÃO
Maria Cláudia Zucare
D
IAGRAMAÇÃO
, E
DITORAÇÃO
E
A
RTE
Sollo Comunicação
P
UBLICIDADE
Américo Moreira Publicações
D
EPARTAMENTO
C
OMERCIAL
Fone (11) 3178-6806
T
IRAGEM
: 60.000 exemplares
P
ERIODICIDADE
: Bimestral
I
MPRESSÃO
: CLY
R
EDAÇÃO
E
A
DMINISTRAÇÃO
Rua São Carlos do Pinhal, 324
01333-903 – São Paulo – SP
Tel. (11) 3178-6800 – Fax (11) 3178-6816
E-Mail:
jamb@amb.org.brA
SSINATURA
Fone (11) 3178-6800, ramal 130
Anual R$ 36,00; avulso R$ 3,00.
As colaborações assinadas expressam
unicamente a opinião de seus autores,
não coincidindo necessariamente
com as posições da AMB.
Desde que assumi a presidência da então
Federação de Unimeds do Estado de São Paulo,
atualmente Confederação das Unimeds do Estado
de São Paulo (Confesp), tenho mantido a espe-
rança de que pudesse buscar um modelo mais
moderno e adequado para nosso sistema. Passan-
do pela direção política, evidentemente, essa nova
forma teria uma estrutura organizacional e um
modelo operacional que pudessem atender às
necessidades e exigências do mundo globalizado
e da nova realidade econômica mundial. Tudo isso,
também, viria acompanhado, essencialmente, da
conscientização dos cooperados, através de um
processo educativo, de modo que todos nós médi-
cos cooperados pudéssemos consolidar uma
empresa voltada para o futuro, feita para durar.
O artigo “Eleições diretas nas Unimeds e
Unicreds”, firmado pelo companheiroWellington
Penaforte, de Campo Grande (MS), publicado no
Jornal da Associação Médica Brasileira (Jamb),
edição de setembro/outubro, traz alguns para-
doxos em relação ao que se preconiza de conve-
niente para as empresas, mas tem o mérito de
fazer um alerta muito importante e que corrobo-
ra minhas preocupações, desde quando partici-
pei da Convenção da Unimed do Brasil, em 1990,
em Curitiba, no Paraná, da necessidade de
mudanças no processo político-eleitoral. Essas
alterações permitiriam que houvesse representa-
tividade política e possibilitariam o rompimento
de alguns paradigmas, não mais tolerados pelo
associativismo cooperativo.
A certeza de que a reengenharia provocada no
sistema trouxe mais resultados negativos do que
positivos nos condicionou, por duas vezes, a
buscar vias para as mudanças, através do Repensar
Unimed – workshops que reuniram dirigentes das
Unimeds. O Repensar pretendeu pavimentar os
caminhos para a manutenção do desenvolvimento
sustentado das cooperativas, através de modelos
necessários e processos profissionais adequados.
Tenho que citar alguns equívocos contidos no
artigo que, principalmente sob minha ótica, preci-
sam ser reparados. Todas as eleições, com algumas
exceções, principalmente a da Unimed do Brasil,
em 1997, em que imperaram a arbitrariedade e ou-
tros interesses que não os do sistema propriamente
ditos, sempre foram de acordo com o que está pre-
conizado na Lei 5.764 e no estatuto vigente, prin-
cipalmente no da Confesp. O que a lei possibilita,
mas certamente não temos coragem em buscar para
o 2º e o 3º graus, respectivamente Federações e Con-
federações, é a proporcionalidade, que poderia ser
respaldada até no número de cooperados e, assim,
seria estabelecido o voto direto dos médicos.
Mudanças baseadas em experiências de outras
entidades associativas merecem os devidos cui-
dados, pois nossas cooperativas não são órgãos
acadêmicos, mas sim entidades econômicas que
têm obrigações e deveres respaldados nas Leis
5.764/71 e 9.656/98. Acredito ser necessário que
se estabeleçam exigências do conhecimento
empresarial para esses dirigentes, até para evitar
aventuras de pessoas pouco preparadas, que po-
dem querer aprender como administrar uma em-
presa, Federação ou Confederação, sem que te-
nham sólidos conhecimentos para isso. É uma ta-
refa árdua, que não pode ser confiada a inex-
perientes, sob pena de resultados catastróficos.
Além disso, seria importante que façam parte des-
sas obrigatoriedades premissas embasadas, prin-
ARTIGO
Eleições nas Unimeds
cipalmente, na Lei 9.656/98, pela qual os bens pes-
soais de todos os envolvidos no processo adminis-
trativo, quer Conselho de Administração e Dire-
toria Executiva, quer Conselho Fiscal e tantos ou-
tros conselhos existentes na administração sejam
solidários com os resultados da cooperativa.
Quando se fala em democracia e transparên-
cia, devemos levar em conta não só o número de
cooperados, que se propõe em torno de 98 mil
médicos, mas, principalmente, o número de
clientes, aproximadamente 11 milhões, e os mui-
tos empregos diretos e indiretos que dependem
destes 35 anos de atuação das Unimeds, princi-
palmente com seu propósito de trabalho digno e
ético que, pela 10
ª
vez consecutiva, colocou a
marca como Top of Mind no segmento saúde.
Quanto ao exemplo utilizado, em relação ao
ex-presidente da Unimed São Paulo, lamentamos o
episódio que o envolveu. Como visionário, o refe-
rido tem seus méritos. Como administrador, certa-
mente, por se cercar de dirigentes que tinham ou-
tros objetivos, a própria historia é responsável pela
narrativa, o que me poupa em fazê-la, ocorreu o
que está aí. Mas este exemplo não-dignificante
talvez possa provocar mudanças que, se não muito
bem dimensionadas, poderão trazer conseqüências
gravíssimas para o Sistema Unimed.
O maior mérito do artigo do Dr. Wellington
Penaforte é a intenção de promover mudanças,
que nós do pólo São Paulo, somando-se aos com-
panheiros dos pólos Norte/Nordeste e Centro-
Oeste/Tocantins temos proposto nas pouquís-
simas reuniões que vêm sendo realizadas na ten-
tativa da reunificação do Sistema Unimed, com
o propósito de ummodelo digno das nossas ações.
Precisamos ter muita coragem para promover
essas alterações, que terão o desafio de mudar uma
cultura arraigada, cortar nossa própria carne, mas sem
perder de vista os princípios do cooperativismo, avan-
çando rumo a um futuro promissor, mantendo-nos
na vanguarda da organização político-econômica,
como fizemos há 35 anos, quando fundamos as
primeiras Unimeds. Pelos nossos compromissos
com a sociedade e com o País, precisamos deixar
um legado respeitável para nossos filhos e netos.
Com a visão voltada para o futuro, assim
temos procedido na Confesp e na Aliança, colo-
cando-nos à disposição, pois nunca nos furtamos
em adotar uma postura firme e voltada ao que de
mais moderno a administração de uma coopera-
tiva possa requerer. Pessoalmente, como médico
cooperado fundador da Unimed de Ribeirão
Preto, há 32 anos, e no exercício da profissão
médica há 35 anos, quero somar àqueles que, nas
mesmas trincheiras, defendem o cooperativismo
de trabalho médico como única via para atender
os compromissos com a sociedade, que é uma de
nossas principais razões de existir.
Desejo parabenizar o Dr. Wellington Penaforte
pela coragem de instigar uma reflexão sobre um
assunto que venho há mais de 10 anos abordando.
Talvez o momento seja oportuno para que tenha-
mos a coragem para enfrentar tal desafio, princi-
palmente nas altas esferas. É o que tenho defendi-
do, desde o primeiro momento em que se propa-
gou a reunificação. Dr. Wellington, conte comigo,
precisamos ser persistentes. É importante que o
Sistema seja FORTE, se não PENA.
Antonio Alberto de Felício
Confederação das Unimeds do Estado de SP