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F

RATURA

POR

ESTRESSE

NO

E

NO

TORNOZELO

DE

ATLETAS

R

EV

A

SSOC

M

ED

B

RAS

2014; 60(6):512-517

513

Q

UANDO

SUSPEITAR

DE

UMA

FRATURA

POR

ESTRESSE

NO

?

A suspeita da lesão baseia-se nos dados da história, no

exame físico geral e no exame físico ortopédico. É impor-

tante estabelecer a relação do início do quadro doloroso

com a atividade física, geralmente realizada de forma re-

petitiva, com a mudança abrupta do volume de treina-

mento e a presença de fatores de risco

8,10,11

(

D

).

Inicialmente, a dor surge ao inal dos exercícios e inten-

siica-se ao longo das semanas, podendo ocorrer durante

toda a atividade e ser constante à deambulação. A dor pio-

ra e transforma o treinamento em sofrimento. Os treinos

tornam-se cada vez mais dolorosos e difíceis de serem con-

tinuados. Mesmo após alguns dias de repouso, o retorno

precoce das atividades leva ao reaparecimento da dor

4-6,8

(

D

).

Recomendação

A fratura por estresse no pé do atleta deve ser suspeitada

na presença de dor insidiosa no membro associada ao au-

mento da intensidade do exercício físico.

Q

UAL

EXAME

COMPLEMENTAR

DEVE

SER

SOLICITADO

PARA

O

DIAGNÓSTICO

?

Após história e exame clínico, tem-se utilizado para au-

xílio diagnóstico radiograia simples, cintilograia óssea,

tomografia computadorizada (TC) e ressonância mag-

nética (RM)

8,10

(

D

). Recomenda-se que a investigação diag-

nóstica se inicie pela radiograia simples, apesar da baixa

sensibilidade

11

(

D

). Em casos mais avançados, linhas de fra-

tura cortical ou medular, osteopenia regional, esclerose e

formação de calo podem ser notadas. Infelizmente, as ra-

diograias são inicialmente negativas em até 70% das fratu-

ras de estresse e não podemmostrar evidência de lesão por

2 a 4 semanas após o início dos sintomas

12

(

C

)

13

(

B

).

Ruptura do córtex ósseo e evidência de periostite ge-

ralmente podem ser demonstradas por meio de TC. A

sensibilidade da TC é mais elevada do que a da radio-

graia; no entanto, comparada com a cintilograia ós-

sea ou a RM, a sensibilidade para evidenciar fraturas de

estresse é baixa, o que resulta em elevada taxa de falsos-

-negativos

14

(

C

). Por causa da alta incidência de falsos-ne-

gativos nas radiograias no início do curso de fraturas por

estresse, diagnóstico por imagem adicional é, muitas ve-

zes, necessário. Cintilograia óssea tem sido, tradicional-

mente, o teste de escolha nessa situação, mas está sendo

suplantada pela RM

15,16

(

B

). Apesar de ser sensível, a cin-

tilograia óssea não é especíica e pode produzir resulta-

dos falsos-positivos entre 13 e 24%

12

(

C

).

A RM tem inúmeras vantagens práticas sobre a cinti-

lograia. Ela fornece resolução anatômica precisa, pode di-

ferenciar entre uma reação de estresse e fratura por estres-

se, além de ser um exame não invasivo, multiplanar e que

não utiliza radiação. É mais sensível e especíica, propor-

ciona mais informações e é capaz de detectar alterações

ósseas pré-radiográicas. Como desvantagens, podem-se

salientar o custo mais elevado, as contraindicações relati-

vas aos pacientes claustrofóbicos e aos portadores de im-

plantes ou materiais cirúrgicos metálicos

12

(

C

).

Seguimento com imagem de TC ou RM também pode

ser útil para monitorar a cicatrização das fraturas de es-

tresse e determinar se há atraso na cicatrização que pos-

sa requerer intervenção cirúrgica

6

(

D

).

Recomendação

Após a suspeita da fratura por estresse, deve ser solicita-

da radiograia simples do local da queixa álgica, sendo,

na maioria dos casos, diagnosticada por meio de exame

de imagem mais sensível e especíico (RM).

Q

UAIS

FATORES

FAVORECEM

A

FRATURA

POR

ESTRESSE

?

Diversos são os fatores que contribuem para a patogênese

da doença, podendo ser classiicados em dois subtipos: ex-

trínsecos e intrínsecos. Em geral, os fatores extrínsecos es-

tão relacionados ao tipo e ao ritmo de treinamento, ao uso

de calçados e equipamentos esportivos inadequados, ao

condicionamento físico precário, ao local de treinamento,

à temperatura do ambiente e ao tempo de reabilitação in-

suiciente das lesões pregressas. Já os fatores intrínsecos

incluem idade, sexo, raça, densidade e estrutura ósseas,

equilíbrios hormonal, menstrual, metabólico e nutricio-

nal, ritmo de sono e doenças do colágeno

4,5,8

(

D

)

17,18

(

C

).

Os estudos prospectivos e retrospectivos mostram

maior incidência entre os brancos. Se comparados a indi-

víduos afrodescendentes norte-americanos e hispânicos,

os indivíduos brancos são mais suscetíveis às fraturas por

estresse

19

(

D

). O mesmo ocorre com a idade: indivíduos

mais velhos apresentam maior incidência destas

7

(

B

). As

fraturas por estresse são menos comuns em crianças do

que em adolescentes e adultos

20

(

D

). Com relação ao sexo,

alguns estudos revelam que as mulheres militares apre-

sentam incidência 5 a 10 vezes maior que os homens

7

(

B

).

Quanto aos fatores genéticos, estudos em recrutas

militares gêmeos idênticos, submetidos ao mesmo trata-

mento em quantidade, duração e intensidade, mostrou

que tal tratamento provocou fratura por fadiga em os-

sos metatarsais em ambos

7

(

B

).

Quanto aos fatores biomecânicos, foram observados

o elevado arco longitudinal do pé, a diferença de compri-

mento dos membros inferiores e um acentuado pé varo