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JAMB - NOV/DEZ - 2006
Apontar algo que nós médicos defende-
mos sobre o que é vida. Defendemos que
a vida tem começo e fim. Que respeitar a
vida é respeitar todas as possibilidades
de viver em plenitude.
O texto não seria umdesrespeito a vida
como o direitomaior do ser humano?
Andrade
– A Resolução respeita a vida
de uma maneira integral que vai do nasci-
mento até a morte, respeita os limites da
pessoa humana, reconhece que a medi-
cina é algo feito para ajudar as pessoas e
que, por mais boa vontade que se tenha,
a medicina não pode ser superior aos
desígnios da própria natureza.
Os médicos serão obrigados a desligar
os aparelhos?
Andrade
–AResolução não é impositiva
ao médico. Toda e qualquer decisão que
venha a ocorrer será sempre tomada pelo
paciente ou seu representante legal, ape-
nas o médico tem o dever de identificar
esta morte inevitável e comunicar à famí-
lia. Adecisão é do paciente e da família.
Como o médico deve proceder a partir
de agora?
Andrade
– O médico deverá fazer toda
comunicação com a família e registrar a
decisão no prontuário.
Por que a Resolução fala em
terminalidade da vida e não em
eutanásia?
Andrade
– Eutanásia é a decisão ativa
em que se toma a decisão de interrom-
per a vida e, neste caso, o médico não
toma essa decisão, ele vai deixar a vida
seguir seu caminho. Não estamos
propondo desligar aparelhos, agir,
interferir na vida. Estamos propondo
respeitar a própria natureza humana.
A população e a própria comunidade
médica sabem diferenciar eutanásia e
ortotanásia?
Andrade
– Esses conceitos ditos aqui são
antigos, já referendados pela população
e pelo meio médico.
Esta Resolução não compromete a
assistência aos pacientes terminais?
Andrade
– Não haverá falta de assistên-
cia. O artigo 2º é claro ao apontar que
o doente continuará a receber todos os
cuidados necessários para aliviar
ossintomas que levam ao sofrimento,
mas vai chegar um momento em que a
vida vai se exaurir, porém ninguém será
abandonado.
Dê-nos um exemplo de interrupção de
tratamento amparadapelaResolução.
Andrade
– Um paciente com metástase
disseminada para o corpo, que já fez
todos os procedimentos rádio e quimio-
terápicos, cirúrgicos, eventualmente
indicados, e aquela doença continua
evoluindo. Já fez os esquemas terapêu-
ticos adotados, já fez tudo o que pode-
ria ser feito, não cabe ao médico aí ir
além daquilo que a própria ciência já
pôde oferecer.
Esta interrupção não abreviaria a
morte?
Andrade
– Nós não estamos propondo
interferir na vida, e sim respeitar a
própria natureza humana. Quando a
medicina falha ou é insuficiente, ela deve
reconhecer os limites, deve continuar
sendo solidária, deve continuar do lado
do paciente, deve auxiliá-lo da melhor
maneira possível para que ele viva os
últimos dias de vida com dignidade, com
respeito e alívio.
A decisão do doente ou de sua família
prevalecerá mesmo se for a favor do
prolongamentodavida?
Andrade
– Se o paciente ou familiar
desejar levar até as últimas conseqüên-
cias, independentemente da validade
daquele procedimento, o médico conti-
nuará com o tratamento.
AResoluçãonãoabririaumabrechapara
que as pessoas não tenhammais acesso
aos procedimentos que possammantê-la
viva em casos graves?
Andrade
– Isto é uma norma ética. Não
entendemos que isto possa ser trans-
formado numa lei impositiva.
A medicina estaria admitindo sua
incapacidade em relação aos doentes
terminais?
Andrade
– Estamos apontando para os
médicos e a sociedade o limite da medici-
na, os limites de uma profissão que
tem apenas um compromisso: servir as
pessoas.
Como foi o desenvolvimento deste texto?
Andrade
– Nos últimos dois anos,
passamos por processos muito inten-
sos de discussão com a sociedade.
Tínhamos a consciência de que não
estávamos legislando para o exercício
da profissão médica, mas também para
a sociedade.