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MAIO/JUNHO 2010

5

entrevista

José Luiz Weffort

O neurologista mineiro José Luiz Weffort é diretor Acadêmico

da Associação Médica Brasileira. Responsável pela disciplina de

Neurologia da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, onde se

formou, atualmente encontra-se sob sua responsabilidade um projeto

em desenvolvimento pela AMB que pretende revolucionar o setor de

ensino médico no país. Nesta entrevista ao Jamb ele nos conta o que

pensa sobre o cenário atual das escolas médicas no país.

1 - Como professor universitário,

como o Sr. avalia a qualidade do

ensino médico hoje no país?

Weffort -

A qualidade do ensino

médico hoje no país não é boa,

vai mal. é claro que não podemos

generalizar, pois existem escolas

médicas diferenciadas, mas estas

não são a regra e sim exceção. A

cultura de diploma, a ausência de

uma política educacional adequada

propicia uma visão mercantilista

da universidade e consequente

degradação do ensino como um

todo. e como não podia deixar de

ser, o ensino médico também faz

parte deste contexto e com uma

agravante: é um grave prejuízo

para a sociedade não formar bons

médicos. Estas escolas não têm

formado alunos críticos, sujeitos

do aprendizado, competentes para

trabalhar a interdisciplinalidade

com sensibilidade ética e

responsabilidade social.

2 - O Sr. é contra a abertura de

novas faculdades de medicina?

Weffort -

Sou frontalmente

contra a abertura de novas escolas

médicas. Hoje, existem 180 escolas

médicas no país para cerca de

200 milhões de habitantes. Países

como Índia e China, que têm

mais de um bilhão de habitantes,

possuem, respectivamente, 272

e 150 escolas médicas. Países

desenvolvidos formam médicos em

número adequado às necessidades

da sociedade. médicos em excesso

geram exames, muitas das vezes

desnecessários, surgem novas

especialidades e demanda para a

sociedade, que nem sempre são

interessantes. Médicos competentes,

Foto: César Teixeira

humanos, éticos e socialmente

responsáveis em número suficiente

em todas as regiões do país seria

o mais adequado. Não faltam

médicos no país, a distribuição é

que é desigual. Por exemplo, na

região sudeste, cidades como São

Paulo tem um médico para 300

habitantes, Campinas e Ribeirão

Preto tem um médico para 200

habitantes, o que não ocorre em

outras regiões, devido à falta de

uma política adequada e incentivos

à distribuição destes profissionais.

3 - O Sr. entende que há excesso

de faculdades de medicina

no país? É possível fazer uma

avaliação do tipo bom, regular

ou ruim sobre tais escolas?

Weffort -

Sim, há excesso de

faculdades de medicina no país.

No período de 1996 a 2010 foram

abertas 99 escolas médicas. Existem

cerca de 17 mil vagas oficiais e,

como já dito anteriormente, não

existe falta de médico e sim falta

de uma política adequada de

distribuição destes profissionais.

Não é possível realizar uma

avaliação simplória, por assim

dizer, sobre as faculdades de

medicina. A preocupação

com o projeto pedagógico, a

qualificação e o desenvolvimento

dos docentes com a gestão do

curso, infraestrutura oferecida e

avaliação tanto do curso quanto dos

estudantes é fundamental para uma

escola médica de padrão. Existem

projetos pedagógicos extremamente

elaborados (alguns que até

dispensam hospital de ensino), que

são “adequados” exclusivamente

para abertura de novos cursos de

medicina que obviamente não têm

compromisso com a qualidade do

ensino.

4 - O Sr. é favorável a que o aluno

de medicina seja submetido a

um exame final ao concluir o

curso, a exemplo do que ocorre

no Direito?

Weffort -

Não, pois isso seria

como que estimular a proliferação

e manutenção das escolas de

medicina de baixa qualidade.

O processo de avaliação do

aprendizado ao longo do curso,

os mecanismos de avaliação

institucional e a interface da

faculdade de medicina com o

sistema de saúde vigente no país

e a análise da participação da

melhoria das condições de saúde

da população são a melhor forma

de avaliar o médico que está sendo

formado.

5 - Como tem visto a atuação

do MEC em relação ao ensino

médico. Nos últimos meses

fechou alguns cursos e colocou

outros em más condições na

berlinda?

Weffort

– Costumo dizer que

existem diretrizes no MEC

que, se seguidas à risca, seriam

suficientes para evitar a abertura

de novos cursos médicos e avaliar

os já existentes de forma bastante

criteriosa. Existe um grande número

de solicitações de abertura de novos

cursos médicos, para o que o MEC

tem resistido; por exemplo, não

permitiu a abertura das Faculdades

de Medicina de Franca e de Campo

Mourão. O MEC também fechou

560 vagas em nove escolas médicas

de baixa qualidade.