4
MAIO/JUNHO 2010
entrevista
Medicina Paliativa
1) Por que a necessidade da
criação de uma Comissão
Nacional de Medicina Paliativa?
Newton Barros
–
Foi uma
iniciativa da AMB dirigida a
focar a discussão em um assunto
que faz parte da prática médica
há muitos anos e em vários
países, principalmente europeus,
e que poderá contribuir para a
qualificação da atenção à saúde
dos brasileiros. Em nosso país já
existem muitos médicos dedicados
ao estudo e à prática do cuidado
paliativo, inclusive organizados em
associações, acompanhando o que
é feito no exterior. Recentemente,
o assunto foi incluído no novo
código de ética médica e, ao
envolver-se nesta discussão, a AMB
reconhece a sua importância.
2) Como se conceitua a
Medicina Paliativa?
Newton Barros
–
Medicina
paliativa é um termo utilizado
para a especialidade médica que
se dedica ao estudo e manejo
de pacientes com doença ativa,
progressiva e avançada, para os
quais o prognóstico é limitado e o
foco do cuidado é a qualidade de
vida. Utiliza-se o termo cuidado
paliativo quando estão envolvidos
na equipe outros profissionais,
tais como enfermeiros, psicólogos,
fisioterapeutas, terapeutas
ocupacionais e trabalhadores da
área pastoral/espiritual. Desde
a fundação do S’t Christopher’s
Hospice por Cicely Saunders
(Londres, 1967) tem sido crescente
a difusão do conceito de cuidado
paliativo no mundo como um
modo efetivo de humanização e
alívio dos sintomas nos portadores
de doenças incuráveis.
3) Quando foi criada a
Comissão, quais seus
membros fundadores e atuais
integrantes?
Newton Barros
–
Há uns
cinco anos aconteceu uma
reunião na AMB com a presença
de representantes de várias
especialidades, com a finalidade
de discutir a área de atuação em
Dor. Na ocasião, foi levantada a
questão dos cuidados paliativos
e o grupo entendeu que, pelas
diferenças entre os dois assuntos,
deveriam ser discutidos em
comissões diferentes. Acontece que
ela só foi ativada neste ano de 2010.
entretanto, face à participação
de pessoas extremamente ativas,
o trabalho fluiu rapidamente.
Compõem a comissão as seguintes
sociedades: Pediatria, Clínica
Médica, Cancerologia, Geriatria e
Gerontologia, Medicina de Família
e Comunidade, além da Academia
Nacional de Cuidados Paliativos.
4) Qual é o seu principal
objetivo e quais especialidades
têm interface?
Newton Barros
–
inicialmente
foram convidadas a fazer parte da
comissão as sociedades citadas
anteriormente, por se relacionarem
mais proximamente ao tema.
Foram realizadas algumas reuniões
que concluíram com um projeto
de Programa de Residência Médica
em Medicina Paliativa que foi
encaminhado à Comissão Mista
de Especialidades com vistas à
obtenção de área de atuação para
as especialidades elencadas.
5) O Sr. saberia informar se
existe e como funciona essa
área em outros países?
Newton Barros
–
Desde
1987 a medicina paliativa é
uma especialidade médica na
Inglaterra, Austrália e em outros
países europeus. Existem mais
de oito mil serviços de cuidados
paliativos no mundo, concentrados
principalmente nos países
desenvolvidos. esta abordagem faz
parte dos critérios no processo de
acreditação de hospitais pela Joint
Comission, da qual vários hospitais
brasileiros já se submeteram. No
Brasil, o Ministério da saúde
considera a necessidade do cuidado
paliativo para a hierarquização dos
serviços de oncologia nos hospitais
federais. Embora tenha sido criado
um comitê técnico-assessor no
ministério em 2002, reformulado
em 2005, as proposições para uma
política nacional não tiveram
um seguimento devido à falta
de dotação orçamentária. A
participação efetiva da AMB,
estimulando o debate a respeito
do tema, juntamente com as
especialidades e a criação da área
de atuação em medicina paliativa
certamente serão fatores decisivos
para que o governo oficialize esta
modalidade na saúde pública.
Newton Barros
Chefe do Serviço de Dor e Cuidados Paliativos do Hospital Conceição e Mãe
de Deus, em Porto Alegre, presidiu a Associação Médica do Rio Grande do
Sul e a Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor. É 2º vice-presidente da
AMB e coordena a recém-criada Comissão Nacional de Medicina Paliativa.
Nesta entrevista ao Jamb ele explica os objetivos da Comissão.
Foto: César Teixeira